Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Cresce o número de foliões que, em vez de dançar, preferem assistir shows, diz pesquisador

A análise é do crítico José Teles, que se espanta com o incremento dos palcos no Recife em detrimento à folia de rua

Foto: Prefeitura do Recife
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Autor de inúmeros livros sobre o frevo, o jornalista e crítico musical José Teles diz que a expectativa tem sido grande para o carnaval de Recife e Olinda, depois de dois anos sem folia por conta da pandemia.

“O pessoal aqui brinca muito”, afirma, ressaltando que os eventos em torno da grande festa começam em novembro. “O carnaval da cultura popular é uma coisa enorme em Pernambuco. Você tem o caboclinho, la ursa, maracatu do baque solto (ou rural), maracatu do baque virado (ou nação), samba, troça, frevo com agremiações centenárias”. 

O crítico, no entanto, também se espanta quando olha a programação deste ano pelos palcos armados pelo Recife para receber shows. No polo principal da cidade, o do Marco Zero, além dos artistas locais, está na lista de apresentação os pagodeiros do Sorriso Maroto, Maria Rita, Fundo de Quintal, Nando Reis e Emicida.

“Recife e os seus músicos estão ficando em segundo plano”, comenta Teles, que aponta não ter nada contra os artistas de fora, mas acha que é preciso encontrar melhor equilíbrio na programação. “Não creio que um turista que venha de fora para cá queira ouvi-los”.

Ele lembra que até a década de 1980 não tinha palco pela cidade. O crescimento nos anos seguintes criou um tipo de participante do carnaval que o crítico chama de folião passivo. “Em vez de dançar, ele fica vendo show”.

O fenômeno não é exclusivo da capital pernambucana. No Rio de Janeiro, outro centro importante do carnaval no Brasil, também há pessoas que acompanham megablocos de grandes artistas mais com intuito de ouvi-los do que propriamente se integrar aos festejos carnavalescos.

“Aqui as pessoas falam que vão ver shows, não mais brincar carnaval”, diz. Teles exalta a folia pernambucana livre e aberta, que não segrega foliões com as famigeradas cordas em torno do bloco. No entanto, faz ressalvas ao Galo da Madrugada, em que camarotes são vendidos a preços escorchantes ao longo do seu trajeto para o público abastado acompanhar o cortejo.

O frevo permanece forte na vizinha Olinda, quase à moda antiga. “Ali é o carnaval raiz”, afirma. As agremiações mais tradicionais do carnaval de Pernambuco em atividade são as de Olinda, como o Cariri, Elefante, Pitombeira dos Quatro Cantos, Eu Acho É Pouco, Ceroula, O Homem da Meia-Noite, destaca José Teles.

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