Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Antonio Nóbrega: Ministério da Cultura deve tratar também da construção da arte

Para o multiartista, a pasta não deve ser somente espaço para cuidar da economia da cultura

Antonio Nóbrega. Foto: Divulgação
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Antonio Nóbrega completou 70 anos de vida e 50 de carreira neste ano. A ideia inicial era lançar novos projetos e também fazer retrospectivas. Mas, “pressionado ainda pela pandemia e a situação política do Brasil”, adiou as iniciativas para 2023. 

Para o multiartista, o País vive “uma indigência cultural” depois de quatro anos em que a “visão bolsonarista” não se permitiu uma discussão sobre a arte na sua estrutura.  

“Espero que com o renascimento do Ministério da Cultura a gente possa debater o papel da cultura e não só falar da economia da cultura, que é também muito importante”, afirma. “Quais são os valores, os conteúdos que importam, que a gente pode pesquisar, recriar, colocar nos processos educativos e que estão dentro desse grande caldeirão? As construções populares ficaram muito reduzidas a patrimônios folclóricos”. 

Profundidade

Nóbrega cita a poesia popular como uma manifestação a ser explorada e conhecida dentro dos seus elementos de rima, métrica, prosódia, entre outros. “O galope à beira-mar, o martelo agalopado e as formas de embolada são modalidades poéticas muito inteligentes, que podem ser tanto dinamizadas no fazer musical como nos processos educativos”.  

Para o artista, seria fundamental trazer essa questão para a esfera institucional. O músico afirma que o Ministério da Cultura pode fazer isso, por meio de discussões e fóruns.

“Não se sabe quem foi Leandro Gomes de Barros [poeta de literatura de cordel; 1865-1918], que fez mais de mil folhetos e foi a ‘internet’ do Brasil rural por um longo período”, comenta. “É preciso entender as formas poéticas e narrativas [da literatura de cordel], e que medida isso pode ajudar em nossos processos de formação educacional”.

Elementos matriciais 

Outra manifestação que ele cita é a folia de reis. O multiartista lembra que quando o folião [da folia de reis] canta, ele utiliza determinadas estruturas poéticas com elementos matriciais que podem ser aplicados à educação. “O conteúdo religioso está dentro de uma quadrinha [trovas], por exemplo, que antes era em forma de crônica, de contar o dia-a-dia de pessoas. Carece de se ver nessas manifestações o que se tem de estrutural”.

Esses ritmos, diz, podem ser usados em processos de formação musical [na escola de música, por exemplo] e aplicados em processo educativo [na universidade, na escola]. “Foram quatro séculos para que negros, indígenas e gente do mundo rural português construíssem isso”.

Em outra vertente, Nóbrega destaca a importância do novo governo Lula rever os fundos, editais, leis de incentivo e patrocínios.

Nos governos petistas, houve uma aposta nos chamados pontos de cultura, uma forma de fomento de expressões culturais comunitárias, como grupos de congada, folias de reis, maracatu, entre outros.

“Eles deram sustentabilidade a esses grupos, além de criar condições deles se movimentarem”, lembra Nóbrega. “Mas a gente tem que tentar ampliar essas possibilidades”.

O Instituto Brincante de Antonio Nóbrega, que fica em São Paulo, também completa data redonda: 30 anos. Para marcar a passagem, haverá um evento no dia 20 de novembro, chamado Violinada, com a participação dos violonistas Ricardo Herz, Nicolas Krassik, Vanessa Moreno e Carol Panesi. Antes, a Escola de Choro de São Paulo abre às 17 horas o evento.

Neste ano, Nóbrega foi convidado pelo Instituto de Estudos Avançados da Unicamp para um período de residência, onde em seis meses de encontro pode falar ao público um assunto que entende como poucos no País: as origens, a formação e o desenvolvimento da cultura popular.

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