Política

O histórico de Ricardo Mello Araújo, o ex-Rota que será vice em São Paulo

O coronel já manifestou apoio ao impeachment de ministros do STF, questionou a segurança das urnas e se pronunciou contra a obrigatoriedade da vacina da Covid-19

O histórico de Ricardo Mello Araújo, o ex-Rota que será vice em São Paulo
O histórico de Ricardo Mello Araújo, o ex-Rota que será vice em São Paulo
Crésitos: Carla Fiamini / Divulgação MDB
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O coronel da reserva da Polícia Militar Ricardo Mello Araújo foi eleito, neste domingo 27, como vice-prefeito de São Paulo, ao lado de Ricardo Nunes (MDB).

Nunes conquistou a reeleição, derrotando o deputado federal Guilherme Boulos, com 59,35% dos votos válidos.

Depois de uma passagem pela Ceagesp, Mello Araújo chegou à chapa para a disputa municipal por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro e poderá chefiar o Executivo paulista, caso Nunes decida largar a Prefeitura para tentar o governo de São Paulo.

O coronel, que comandou a Rota entre 2017 e 2019, é visto como artífice da base de apoio bolsonarista e representa o setor de segurança pública da capital, em especial o segmento militar.

Embora tenha enfrentado resistências dentro da coligação, especialmente entre grupos mais moderados e tradicionais da base de Nunes, sua nomeação fortaleceu a influência do bolsonarismo nas políticas de segurança pública.

Em publicações nas redes sociais, o coronel já manifestou apoio ao impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, questionou a segurança das urnas eletrônicas e se pronunciou contra a obrigatoriedade da vacina da Covid-19. A exemplo de Bolsonaro, criticou a política sanitária de isolamento social na pandemia.

Em dezembro de 2019, o nome do coronel ganhou os holofotes após a Assembleia Legislativa de São Paulo promover uma homenagem a Mello Araújo, por seus serviços como comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a Rota, entre os anos de 2017 e 2019.

Apesar disso, um levantamento produzido pelo Datafolha mostrou que o vice de Ricardo Nunes era desconhecido por 86% dos eleitores da capital paulista.

A sua condução ao Executivo é um aceno para o universo das forças de segurança de São Paulo e uma vitória na disputa pelo poder e influência política do grupo, travado contra o atual secretário estadual da Segurança Pública, o capitão da reserva Guilherme Derrite (PL).

Derrite tenta se lançar ao protagonismo da caserna paulista desde que os dois disputaram espaço na equipe de transição do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O secretário conseguiu infiltrar seus aliados no governo, enquanto Mello Araújo não colecionou nenhum cargo importante. Contudo, o endosso do ex-presidente a seu nome para compor a chapa como vice de Nunes alavancou de vez a presença política do ex-comandante da Rota na política de São Paulo e escanteou Derrite, que sonhava em cair nas graças de Bolsonaro.

Apesar disso, Mello Araújo é conhecido por sua falta de traquejo político, colecionando uma série de declarações problemáticas.

Em 2017, o ex-coronel defendeu que a PM deveria agir de forma distinta nos Jardins e na periferia, o que se tornou munição para a campanha de Boulos.

Além disso, Mello também teve de se explicar, durante a campanha, sobre os casos envolvendo violência policial por policiais da Rota, que, apesar de gerarem inquéritos militares, não resultaram em punições aos agentes envolvidos.

O capitão ficou à frente das Operações Escudo e Verão, que juntas somaram mais de 90 mortos, além de cinco policiais, entre 2023 e 2024. As intervenções foram consideradas as mais letais da história da PM paulista, desde o massacre do Carandiru, em 1992.

Controvérsias na Ceagesp

Outro capítulo controverso da história de Mello Araújo foram os anos à frente da Ceagesp, onde ele foi acusado por ex-funcionários de praticar coação, humilhação e violência. Segundo as denúncias, Mello Araujo forçou o engenheiro Fábio Rogério Carbonieri e o técnico operacional Paulo Cesar Xavier a assinarem um pedido de demissão.

Relatos indicam que Carbonieri e Xavier foram conduzidos por militares armados à sala do coronel, onde ouviram ofensas, xingamentos e ameaças, sendo proibidos de usar celulares durante o trajeto.

Também foi na gestão dele que a companhia alugou uma sala em sua sede para a instalação de um clube de tiro.

O ex-Rota também é lembrado por chamar veteranos da PM para uma manifestação do 7 de Setembro em 2021, a favor de Bolsonaro. “Não podemos permitir que o comunismo assuma nosso País”, disse ele, em agosto daquele ano, em um vídeo publicado nas redes sociais.

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