Política

Deputado cobra explicações sobre nomeação de ex-coronel que ameaçou funcionários da Ceagesp

Ligado a Jair Bolsonaro, presidente da estatal é investigado por coação, humilhação e violência

Bolsonaro e Mello Araújo no Ceagesp. Foto: Reprodução/Instagram
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O deputado federal Rui Falcão (PT-SP) apresentou um requerimento para que o ministro da Economia, Paulo Guedes, explique a indicação de Ricardo Mello de Araújo, policial militar da reserva, ao cargo de diretor-presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP).

O ex-coronel da Rota, que assumiu o posto em 2020 após indicação do presidente Jair Bolsonaro, é acusado por ex-funcionários de praticar coação, humilhação e violência. Como noticiou CartaCapital, os fatos narrados teriam ocorrido no dia 6 de maio de 2021.

De acordo com as denúncias, Mello Araujo forçou o engenheiro Fábio Rogério Carbonieri e o técnico operacional Paulo Cesar Xavier a assinarem um pedido de demissão.

Segundo os relatos, Carbonieri e Xavier foram conduzidos por militares armados à sala do coronel que hoje chefia o órgão. No trajeto, proibidos de usar celulares, eles ouviram ofensas, xingamentos e ameaças.

À época, a reportagem conversou com os dois ex-funcionários que afirmam terem sido injustiçados. Ambos não tiveram acesso às supostas provas que Mello Araújo e a sua diretoria diziam ter contra eles.

“Cheguei para trabalhar e meu gerente e mais dois policiais falaram eu estaria furtando energia elétrica e que nove pessoas tinham me denunciando. Fui levado para a sala da Presidência para eu assinar, sob ameaças, a minha demissão. Por medo, eu assinei. Eles disseram que, se eu não assinasse, sairia preso da Ceagesp”, disse Carbonieri. “Eu pedi para ler as provas que eles diziam ter, mas me disseram que como era denuncia não precisava”, acrescentou o engenheiro que é dirigente sindical e trabalhava há 23 anos no local.

O roteiro relatado por Carbonieri foi repetido por Xavier, que tinha 16 anos de vida dedicados à empresa estatal. “Eu fui obrigado a assinar a demissão. A justificativa que eles deram é que fui reconhecido por um permissionário como responsável por uma ligação [elétrica] indevida”, contou.

“No dia 18 de abril, em um domingo, teve uma equipe que trabalhou próximo a esse permissionário e mudou a iluminação do pavilhão para o sistema automático. No dia seguinte, após o permissionário ficar sem energia, eu e um outro eletricista constatamos que havia sido feita uma instalação errônea e minha obrigação foi restabelecer a energia. Daí o gerente me disse que [a energia] não deveria ter sido religada. Ele também me disse que eu deveria resolver a situação ‘porque eu tinha família’ e ‘se eu não resolvesse por bem seria resolvido por mal, pois eu sairia de camburão’”, revelou.

Em outubro do ano passado, a procuradora do Trabalho Ana Gabriela Oliveira de Paula determinou a abertura de um inquérito para investigar as denúncias.

Na decisão, a procuradora, da Procuradoria Regional do Trabalho da 2ª Região, em São Paulo, fala em “instaurar inquérito civil e ajuizar ação civil pública em defesa dos direitos sociais constitucionalmente garantidos no âmbito das relações de trabalho”. O caso se enquadra em conduta antissindical.

No requerimento, encaminhado à presidência da Câmara dos Deputados no dia 9 de março, Falcão questiona se Araújo possui qualificação adequada ao cargo e se existe fundamentação legal para a nomeação. O parlamentar também cita uma série de vídeos, disponíveis no canal do YouTube da CEAGESP, que fazem uma retrospectiva sobre o primeiro ano de gestão de Araújo.

No documento, o deputado pergunta se as publicações podem configurar campanha eleitoral antecipada, já que Ricardo Mello de Araújo é aliado do presidente Jair Bolsonaro e confirmou interesse em concorrer a uma vaga de deputado por São Paulo.

Leia o documento na íntegra:

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