Justiça
PF indicia Janones por corrupção em inquérito sobre suposta ‘rachadinha’
O relatório foi encaminhado ao STF nesta quinta 12. A PF diz que o deputado seria o ‘eixo central’ do caso


A Polícia Federal indiciou o deputado federal André Janones (Avante-MG) por corrupção passiva, peculato e associação criminosa na investigação sobre suposta prática de “rachadinha” em seu gabinete.
O relatório da apuração chegou ao Supremo Tribunal Federal nesta quinta-feira 12. “Rachadinha” é o nome dado na política à prática de conceder cargos comissionados (de confiança) em troca de parte dos vencimentos dos funcionários. Trata-se, em tese, de desvio de dinheiro público.
Cabe à Procuradoria-Geral da República decidir se aceita os argumentos da PF, pede novas diligências ou arquiva o caso. O relator do inquérito é o ministro Luiz Fux. Outros dois auxiliares de Janones – Alisson Alves Camargos e Mário Celestino da Silva Júnior – são alvos da acusação.
Na avaliação dos investigadores, o parlamentar seria uma espécie de “eixo central em torno do qual toda a engrenagem criminosa gira”. O inquérito, aberto em dezembro passado, teria exposto “a ilicitude dos seus atos”.
O documento ainda menciona um crescimento considerado desproporcional no patrimônio de Janones, o que teria chamado a atenção da PF.
Um dos mecanismos aplicados por Janones, sustenta o relatório, foi o uso de um cartão de crédito adicional em nome de Mário Júnior. Mesmo com o auxiliar pagando as faturas, o deputado mineiro teria solicitado reembolso dos valores à Câmara, o que configura crime de peculato (quando um agente se apropria de bens públicos, em benefício próprio ou de terceiros).
“Ao que tudo indica, o único objetivo de Mário ao emitir o cartão adicional era o de repassar parte da sua remuneração para o parlamentar. Afinal, o cartão principal, de sua titularidade, somente veio a ser utilizado aproximadamente quatro anos após sua obtenção, enquanto isso, o adicional, em nome do deputado passou a ser usado imediatamente”, diz a PF.
CartaCapital tenta contato com a defesa de André Janones e atualizará a reportagem se obtiver resposta.
A apuração se baseia em um áudio em que o deputado mineiro supostamente pediria a assessores o repasse de parte de seus salários. Desde que o material veio à tona, Janones nega as acusações e afirma que abriria mão dos próprios sigilos fiscal e bancário.
No fim de janeiro, a PF informou ao Supremo que havia colhido indícios consistentes da existência de um esquema no gabinete, mas pediu a quebra dos sigilos bancário e fiscal antes de concluir a investigação.
À época, os investigadores apontaram inconsistências e contradições em depoimentos prestados por servidores do deputado. Um relatório do Coaf também identificou depósitos fracionados na conta de Janones. Entre dezembro de 2022 e novembro de 2023, ele recebeu uma transferência via Pix de sua ex-secretária parlamentar Leandra Guedes Ferreira no valor de 7,5 mil reais.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Em recurso inédito, oposição pede que denúncia contra Janones seja votada no Plenário
Por CartaCapital
MP do Rio livra Carlos Bolsonaro de inquérito, mas denuncia sete por ‘rachadinha’ em seu gabinete
Por CartaCapital