Política

Funai vai investigar irregularidades em compra de alimentos para indígenas durante governo Bolsonaro

Na gestão anterior, Funai realizou contrato de compra de bisteca congelada, sardinha e linguiça calabresa para populações indígenas, contrariando recomendação nutricional; boa parte dos alimentos nunca chegou aos indígenas

Povo Yanomami. Foto: Secoya
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A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) vai apurar denúncias de irregularidades em contratos de compra de carnes para a população indígna do Vale do Javari (AM). Segundo informações publicadas no jornal O Estado de S. Paulo, no último domingo 14, o governo federal, ainda sob a gestão Jair Bolsonaro (PL), comprou e não entregou 19 toneladas de bisteca para os indígenas.

A presidente da Funai, Joenia Wapichana, afirmou que já acionou a área técnica do órgão. “Eu vou apurar as informações, pois se trata de atos da gestão anterior e, para tanto, preciso que se apure junto aos departamentos competentes internos da Funai”, afirmou. De acordo com a publicação, o contrato de maior valor continua em vigor no atual governo.

Segundo a publicação, os gastos com bisteca no Vale do Javari, de 2019 a abril de 2023, totalizaram 585,5 mil reais, embora o valor contratado tenha sido 13,4 milhões de reais, referentes a 515 quilos da carne. Acontece, porém, que os gastos foram feitos com carne congelada, embora os indígenas não armazenem alimentos dessa natureza.

Outra questão a ser apurada no âmbito da Funai é o pagamento, feito durante o governo Bolsonaro, de 4,4 milhões de reais para enviar à TI Yanomami alimentos que não são consumidos pelos indígenas. 

Conforme informações reveladas também pelo jornal O Estado de S. Paulo, nesta segunda-feira 15, o órgão, ignorando recomendação técnica, assinou um contrato que previa a entrega de sardinha e linguiça calabresa para os indígenas, por exemplo. Alimentos que não fazem parte da dieta dos indígenas. 

Segundo a publicação, assim como o caso da bisteca, não há registro de entrega desses alimentos à população. Além disso, a área técnica da Funai chegou a alertar o governo federal e o Ministério Público sobre o fato de que os indígenas não se alimentam com os produtos acima citados.

Em 2021, a Justiça acatou um pedido do Ministério Público (MP), determinando que a União levasse em consideração os estudos das áreas de antropologia e nutrição, no processo de composição das cestas básicas para a população indígena. Ainda assim, segundo a matéria, o governo Bolsonaro voltou a adquirir os alimentos.

A crise humanitária pela qual passa o povo Yanomami vem sendo objeto de investigações e ações interministeriais, desde o começo do ano. Em fevereiro, foi revelado que os casos de morte por desnutrição, entre os Yanomami, cresceram 331% durante o governo Bolsonaro. Além disso, o pico da desnutrição infantil entre essa população ocorreu, justamente, no governo anterior.

Embora tenha se pronunciado sobre as compras de bisteca, a Funai não se manifestou sobre a compra de sardinha e linguiça calabresa. O presidente da Funai no governo Bolsonaro, Marcelo Xavier, não se manifestou.

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