Política
Ex-militar preso pela PF é dado como morto no cadastro do Exército; esposa recebe pensão
Ailton Barros foi preso acusado de participar de esquema de falsificação de cartões de vacina


O advogado e militar da reserva, Ailton Barros, preso esta semana por operação da Polícia Federal que investiga a inserção de dados falsos de vacinas nos sistemas do Ministério da Saúde, é dado como morto pelo Exército. A informação foi revelada pela Globonews.
Desde setembro do ano passado, ao menos, a esposa do militar recebe pensão pela “morte” do marido. Os valores repassados são de R$ 22 mil brutos por mês, cerca de R$ 14 mil líquidos.
Documentos do Superior Tribunal Militar mostram que Ailton foi expulso da corporação em 2006, e que ele já havia sido preso pelo menos sete vezes desde 1997, até a expulsão. Em seu último ano no Exército, reportagens mostraram a participação do então militar em um caso de desvio de armas do Exército para traficantes do Rio de Janeiro.
De acordo com o STM, o ex-militar era um “oficial que reiteradamente pratica atos que afetam a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe, por isso, incompatível com o oficialato”.
Ailton também tentou ingressar na carreira política por três vezes. A primeira tentativa foi em 2006, quando disputou uma cadeira de deputado federal do Rio de Janeiro pelo PFL. Em 2020, ele concorreu a uma vaga de vereador na cidade fluminense pelo PRTB, mas também não foi eleito. Em 2022, quando foi candidato a deputado estadual pelo PL, não foi eleito novamente e acabou ficando como suplente. Na eleição do ano passado, inclusive, ele se apresentava como o “01 de Bolsonaro”.
Nascido em Porto Alegre, Ailton tem 61 anos, vive no Rio de Janeiro e, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, tem declarado um patrimônio de R$ 388 mil.
Na investigação da PF, ele é apontado como uma espécie de intermediário de um braço do esquema de alteração de informações vacinais junto à prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A PF também interceptou diálogos de Barros com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, em que ele dizia saber quem mandou matar a vereadora Marielle Franco.
Em nota encaminhada à reportagem de CartaCapital, o Exército informou que Ailton Barros foi considerado incompatível com o oficialato em 23 de janeiro de 2014, após julgamento do Superior Tribunal Militar, o que levou à perda de seu posto e patente.
Acrescentou ainda que, “após a exclusão das fileiras do Exército, o ex-militar foi incluído no sistema como ‘morto ficto’ para que seus beneficiários legais (no caso a esposa) pudessem receber a pensão correspondente ao posto, cumprindo o previsto na legislação vigente”.
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