Política
Polícia abre inquérito para apurar declarações xenofóbicas de vereador no RS
‘Se estava tão ruim a escravidão, como alguns do grupo não quiseram ir embora?’, disse Sandro Fantinel, em referência aos resgatados de vinícolas


A Polícia Civil do Rio Grande do Sul instaurou um inquérito para apurar as declarações xenofóbicas do vereador de Caxias do Sul, Sandro Fantinel (Patriota), contra nordestinos submetidos a trabalho análogo à escravidão em vinícolas de Bento Gonçalves. O político, na terça-feira 28, culpou os funcionários pelas péssimas condições de trabalho oferecidas pelas produtoras de vinhos locais.
Após instaurar o inquérito, nesta quarta-feira 1º, o delegado Rafael Keller, que responde pela 1ª Delegacia de Polícia de Caxias do Sul, informou ter solicitado as imagens e o conteúdo das declarações ao presidente da Câmara de Vereadores.
O prazo para a conclusão da apuração contra Fantinel é de 30 dias. O inquérito, destaca o delegado regional Augusto Cavalheiro Neto ao site Gaúcha ZH, foi aberto por iniciativa da própria corporação.
No discurso alvo da apuração, Fantinel alegou que as medidas contra as vinícolas seriam um exagero e sugeriu que os agricultores dessem preferência a “trabalhadores argentinos”, que seriam “limpos e corretos”.
“Todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem ao patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam”, afirmou.
“Agora, com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente. Que isso sirva de lição… Se estava tão ruim a escravidão, como que alguns do próprio grupo não quiseram ir embora?”, acrescentou.
Segundo as denúncias, os mais de 200 trabalhadores resgatados pelo Ministério do Trabalho eram monitorados por câmeras, alimentados com comida estragada e até submetidos a choques e spray de pimenta.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

MPT propõe indenização de R$ 600 mil a vítimas de trabalho escravo em vinícolas no RS
Por CartaCapital
Em meio a escândalo envolvendo vinícolas, vereador propaga xenofobia: ‘Não contratem aquela gente’
Por Camila da Silva
Em meio a denúncias contra vinícolas, entidade atribui casos de trabalho escravo a ‘sistema assistencialista’
Por CartaCapital