Política
Mamata/ Auxílio farda
Em plena pandemia, generais do governo receberam vencimentos que somam 1 milhão de reais


O general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil, o general da reserva Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, e o almirante Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia, receberam remunerações que somam até 1 milhão de reais durante a pandemia de Covid-19. De acordo com um levantamento feito pelo deputado federal Elias Vaz, do PSB, no Portal da Transparência, Braga Netto, hoje candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, ganhou, em março e abril de 2020, pagamentos que somam 925,9 mil reais. Desse montante, ao menos 119,9 mil reais são de férias remuneradas.
Já o almirante Albuquerque recebeu 1,03 milhão de reais nos meses de maio e junho do mesmo ano. O valor corresponde à soma de 709 mil reais de remuneração, 59,6 mil de férias e mais 268,3 mil de verbas indenizatórias. O general Ramos, por sua vez, faturou mais de 731,8 mil reais na soma de pagamentos feitos em julho, agosto e setembro de 2020, dos quais 537,7 mil são referentes a verbas indenizatórias.
Ao todo, os pagamentos feitos aos militares do governo custaram aos cofres públicos 17 milhões de reais. Em parceria com o também deputado Camilo Capiberibe, Vaz apresentou requerimento ao ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, pedindo explicações sobre o pagamento de remunerações extraordinárias. “É estarrecedor que, em um ano tão difícil para o nosso país, como foi 2020, no auge da pandemia da Covid-19, quando o governo limitou o pagamento de auxílio emergencial a quem estava passando fome, um grupo de privilegiados tenha recebido valores milionários além do salário. É um tapa na cara do povo brasileiro.”
O Exército informou que, no caso de Braga Netto, os pagamentos incluem adicionais não recebidos ao longo da carreira e indenização por férias não usufruídas. Com Ramos, os valores entraram no contracheque em decorrência da passagem para a inatividade e de indenizações por férias e licença especial não usufruídas. Os vencimentos, emendam as Forças Armadas, estão fundamentados em instrumentos legais.
O medo persegue Regina Duarte
A atriz Regina Duarte, ex-secretária de Cultura de Jair Bolsonaro, uniu-se à deputada Carla Zambelli e ao colunista Guilherme Fiúza nas críticas aos colegas que assinaram a Carta aos Brasileiros em Defesa do Estado de Direito, gestada na Faculdade de Direito da USP e subscrita por mais de 1 milhão de cidadãos. “Bate mesmo”, escreveu Duarte, ao compartilhar uma postagem da parlamentar, na qual Zambelli e Fiúza criticam os “artistas pró-cartinha”. Referiam-se a figuras como Antônio Fagundes, Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Chico Buarque, Fernanda Montenegro e Maria Bethânia. “Que vergonha eu tenho dessa leva”, acrescentou a ex-namoradinha do Brasil, uma vez mais receosa de ver Lula eleito. “Como em 2002, eu tenho medo.” A jararaca parece realmente intimidar a turma.
TSE/ Fim da arruaça?
Moraes assume a Corte eleitoral e promete ser inflexível com as fake news
Bolsonaro não aplaudiu o discurso – Imagem: Isac Nóbrega/PR
O ministro Alexandre de Moraes tomou posse, na terça-feira 16, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Diante de um certo capitão visivelmente consternado, o magistrado discursou em defesa das urnas eletrônicas e acabou aplaudido de pé pelos mais de 2 mil convidados no plenário da Corte. “Somos 156.454.011 eleitores aptos a votar. Somos uma das maiores democracias do mundo em termos de voto popular, estando entre as quatro maiores do mundo. Mas somos a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia. Com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional”, afirmou, instantes antes de a plateia se levantar para aplaudi-lo.
Durante a cerimônia, Bolsonaro sentou-se ao lado do novo chefe do TSE e se deparou com Lula na primeira fileira da plateia, espaço reservado aos ex-presidentes da República. Alvo constante dos ataques do presidente e da matilha bolsonarista nas redes sociais, Moraes promete ser rígido no combate às fake news durante a campanha. Relator de um inquérito instaurado no Supremo Tribunal Federal para coibir a prática, ele já mandou para a cadeia diversos apoiadores do ex-capitão, entre eles o deputado Daniel Silveira, a ativista Sara Winter e o blogueiro Oswaldo Eustáquio, denodados combatentes da rede de mentiras alimentada pelo gabinete do ódio.
Funai anti-indígena
A comissão externa do Senado que acompanhou as investigações sobre o assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips aprovou, na terça-feira 16, um relatório que pede o afastamento do presidente da Fundação Nacional do Índio, Marcelo Xavier da Silva. O parecer elaborado pelo senador Nelsinho Trad, do PSD, menciona muitas reclamações sobre a atual gestão da Funai, que passou a atuar como uma “organização anti-indígena”. Meses antes da brutal execução da dupla, os indígenas do Vale do Javari, no Amazonas, denunciaram a atuação de uma máfia da pesca ilegal na área demarcada. A Funai não tomou, porém, qualquer providência efetiva. Os parlamentares lembraram, ainda, que Araújo foi exonerado da Coordenação de Índios Isolados e Recém-Contatados logo após liderar uma megaoperação contra o garimpo ilegal.
Memória/ Herói dos facínoras
Major Curió, líder da repressão no Araguaia, morre impune
O agente confessou ter executado 41 dissidentes políticos à época – Imagem: Redes sociais
O sargento da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura, conhecido como Major Curió, um dos mais temidos algozes da ditadura na Amazônia, morreu na madrugada da quarta-feira 17, aos 87 anos. O militar estava internado em um hospital particular de Brasília, mas sofreu sepse e falência múltipla dos órgãos.
Curió liderou a repressão à Guerrilha do Araguaia, no Pará, no fim dos anos 1960 e início da década de 1970. Integrante do Centro de Inteligência do Exército, o antigo CIE, foi um dos oficiais à frente da Casa Azul, um centro clandestino de tortura localizado em Marabá, no sudeste do estado.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em 2009, Curió admitiu ter executado 41 dissidentes políticos no Araguaia. Jamais pagou pelos crimes cometidos. Ao contrário, em maio de 2020, Major Curió foi recebido com pompa por Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto e, posteriormente, foi homenageado pela Secretaria de Comunicação da Presidência. A nota divulgada à época dizia que esse “herói” ajudou a “livrar o País de um dos maiores flagelos da História da Humanidade”.
Colômbia/ A coragem que nos falta
Gustavo Petro troca cúpula militar e exige “violação zero de direitos humanos”
Agora, os militares estão submetidos ao poder civil – Imagem: Ministério da Defesa da Colômbia
Gustavo Petro ainda não havia completado uma semana como presidente quando anunciou a troca de toda a cúpula militar da Colômbia. A renovação implicará a passagem para a reserva de 22 generais da Polícia Nacional, 16 do Exército, sete da Marinha e três da Aeronáutica. Em cerimônia realizada na sexta-feira 12, ele apresentou os novos comandantes das forças ao lado de seu ministro da Defesa, Iván Velásquez, um jurista reconhecido por sua destacada atuação na defesa dos direitos humanos.
De acordo com Petro, o critério usado para a formação da nova cúpula foi selecionar oficiais com histórico de “violação zero dos direitos humanos e corrupção zero”. O governo pretende limpar a imagem dos policiais e militares, bastante desgastada pelas violentas operações de repressão a manifestantes durante a gestão de Iván Duque Márquez.
O novo presidente está ciente de que os generais afastados vão espernear e podem, eventualmente, criar dificuldades nos quartéis. Mas, de forma corajosa, fez aquilo que o Brasil foi incapaz de fazer desde o fim da ditadura, em 1985: submeter as Forças Armadas ao poder civil, como ocorre em todas as nações com democracia consolidada.
Europa bate recorde de queimadas
Desde 1º de janeiro, a Europa perdeu 659,2 mil hectares de cobertura vegetal para as queimadas, que se alastram de forma inclemente no verão europeu, com temperaturas superiores a 40ºC em capitais como Londres. Trata-se de um recorde para o período desde que os dados dos satélites começaram a ser monitorados, em 2006, pelo Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais, conhecido pela sigla Effis. O clima quente favoreceu a propagação do fogo no continente. Com perda de 265,4 mil hectares de cobertura vegetal, a Espanha é o país que mais sofre com o problema. Romênia e Portugal aparecem em seguida, com 150,5 mil e 76,3 mil hectares devastados, respectivamente.
Argentina/ O fantasma ressurge
A hiperinflação volta a assombrar o povo, com alta de 71% em 12 meses
O índice de julho foi o pior das últimas duas décadas – Imagem: Luis Robayo/AFP
Em julho, a Argentina registrou alta de 7,4% na inflação, a maior variação mensal em duas décadas. Com o resultado, o aumento dos preços chega a impressionantes 71% no acumulado de 12 meses, o pior desempenho dos últimos 30 anos. Não bastasse, as projeções do mercado não são nada animadoras. Para 30 analistas consultados pelo Banco Central, a inflação anual chegará a 90,2%, 14,2 pontos acima da previsão de um mês atrás.
O ritmo atual da inflação na Argentina é o mais alto de todo o continente americano. Enquanto os preços subiram 7,4%, os salários aumentaram apenas a metade (3,5%), corroendo o poder de compra da população. A pouco mais de um ano das eleições gerais, o presidente Alberto Fernández vive uma crise sem precedentes. Em apenas um mês, teve de trocar o ministro da Economia duas vezes. E o atual titular da pasta, Sergio Massa, ainda não anunciou um plano de estabilização. Pior, a política econômica do governo, que recorreu a sucessivos congelamentos de preços, tem sido criticada até mesmo por sua vice, Cristina Kirchner.
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1222 DE CARTACAPITAL, EM 24 DE AGOSTO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.