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Obituário/Dom Cláudio, franciscano

Defensor da Amazônia e dos indígenas, inspiração do papa

Obituário/Dom Cláudio, franciscano
Obituário/Dom Cláudio, franciscano
Dom Cláudio lutava contra um câncer - Imagem: Rede Vida
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A luta contra o câncer terminou na manhã da segunda-feira 4. Aos 87 anos, o cardeal Cláudio Hummes, ou “Dom Cláudio”, faleceu por volta das 9 da manhã, “após prolongada enfermidade que suportou com paciência e fé em Deus”, segundo a nota de Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo. Embora nunca tenha se perfilado à Teologia da Libertação, Dom Cláudio seguiu à risca os princípios franciscanos e dedicou o sacerdócio à defesa dos humildes e injustiçados e da vida em todas as suas manifestações. Sua coragem e retidão o equiparam a Dom Paulo Evaristo Arns na luta pelos direitos civis. Desafiou a ditadura no apoio às greves do ABC paulista, quando despontou a liderança de certo metalúrgico que mais tarde se tornaria presidente da República. “A Igreja está prestando solidariedade ao movimento, que deve ser igual ao do ano passado: uma vitória da classe operária”, declarou o então diretor da Pastoral Operária. Na última década, antes de se afastar das atividades por causa da doença, presidiu a Comissão Episcopal e a Conferência Eclesial da Amazônia. Em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro, foi relator do Sínodo da Amazônia e defendeu a demarcação das terras indígenas. “As reservas geograficamente delimitadas são importantíssimas para a preservação da floresta”, declarou. Lembrado várias vezes para o papado, era amigo e inspiração de Jorge Bergoglio, que assim relata o momento de sua nomeação como pontífice: “Ao meu lado, nas eleições, estava o arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o clero, cardeal Cláudio Hummes. Quando a situação ficava um pouco perigosa, ele me consolava. Quando os votos chegaram a dois terços, começaram a aplaudir. E ele me abraçou, me beijou e disse: ‘Não se esqueça dos pobres’. Aquela palavra entrou na minha cabeça: os pobres. Pensei em Francisco de Assis”.

Olho na PM

Criticado por diversos pré-candidatos ao governo de São Paulo, o programa Olho Vivo, que instala câmeras nos uniformes de policiais, mostra excelentes resultados. Em um ano, a letalidade das forças de segurança submetidas à observação despencou 80%. Entre junho do ano passado e maio último, os homicídios provocados por intervenção policial nos 19 batalhões escolhidos para testar o programa somaram 41, contra 207 nos 12 meses anteriores. O Olho Vivo ainda é uma iniciativa incipiente: menos de 15% dos 131 batalhões estaduais instalam câmeras nos uniformes.

Escândalo/ Cultura do assédio

Na Caixa, Pedro Guimarães comandava uma matilha de cafajestes

Guimarães: o chauvinismo como estilo de gestão – Imagem: Valter Campanato/ABR

Não foi casual. O assédio sexual e moral na Caixa Econômica Federal era uma política, uma cultura, estimulada pelo agora ex-presidente da instituição, Pedro Guimarães. Após a “renúncia” de Guimarães, outros 20 executivos e assessores foram afastados do cargo. O Tribunal de Contas da União, a pedido do Ministério Público Federal, abriu investigação para apurar os fatos. “O senhor Pedro Guimarães, no exercício da Caixa Econômica Federal, cometeu assédio sexual e moral contra empregadas e empregados daquela instituição financeira, o que, além de caracterizar prática criminosa, configura flagrante violação ao princípio administrativo da moralidade”, anotou o procurador Lucas Furtado, representante do MP no TCU. “O assédio sexual contamina o ambiente de trabalho tanto nas empresas privadas como na administração pública. Quando praticado no âmbito da administração pública, o assédio gera a preocupação na sociedade de que as instituições estatais não se pautam em valores morais.” As denúncias continuam a pipocar. Guimarães é acusado de tocar funcionárias de forma inapropriada e de fazer convites incompatíveis com a relação de trabalho. O ex-presidente da Caixa nega as acusações. Sob as acusações, Bolsonaro declarou: “Foi afastado. Tá respondido?”

Newsletter sobre eleições

A cobertura de CartaCapital da campanha eleitoral de 2022, talvez a mais importante desde o fim da ditadura, acaba de ser reforçada com uma nova newsletter: Manual das Eleições. Semanalmente, Alisson Matos, editor do site, reunirá bastidores, informações exclusivas e análises críticas que servirão de guia aos leitores interessados em entender os rumos da disputa. O conteúdo é gratuito. Basta se inscrever aqui. É simples e rápido.

Congresso/ Farra fiscal sim, CPI, só depois

Avança a PEC Camicase, trava a investigação da corrupção no MEC

A Câmara abriu de vez a porteira da irresponsabilidade – Imagem: Roque de Sá/Ag.Senado

A base governista na Câmara dos Deputados e a boa vontade do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, fizeram dos limões da semana uma limonada para o governo Bolsonaro. As consequências, como explicava o Conselheiro Acácio, virão depois. Na Câmara, Danilo Forte, relator da chamada PEC Eleitoral, ou PEC Camicase, desistiu de incluir novos penduricalhos na proposta, entre eles um vale-Uber, e manteve o texto aprovado pelos senadores, maneira de acelerar a tramitação e permitir a Bolsonaro gastar o mais rápido possível os últimos centavos dos cofres públicos na tentativa desesperada de reeleição. O projeto libera, a três meses do pleito, 41,25 bilhões de reais para a elevação do Auxílio Brasil a 600 reais e a distribuição de benesses a caminhoneiros, que ameaçavam uma greve, e taxistas. A PEC decreta estado de emergência e assim diminui a possibilidade de o presidente da República ser enquadrado na Lei Eleitoral por abuso de poder econômico. Apesar do escudo, o Ministério Público solicitou uma investigação ao TCU. Enquanto isso, Pacheco, após reunião com líderes partidários, optou por só instalar a CPI do MEC depois das eleições de outubro, o que na prática inviabiliza a comissão. Autor do pedido, Randolfe Rodrigues promete recorrer ao Supremo Tribunal Federal.

Argentina/ Cristina marca o passo

A vice-presidente escolhe a nova ministra da Economia

Kirchner emplacou uma aliada no Ministério da Economia – Imagem: Ministério da Cultura da Argentina

No tango argentino, quem impõe o ritmo e a direção é a vice Cristina Kirchner. No domingo 3, após novo período de ­disputas fratricidas no governo, o presidente Alberto Fernández acatou a indicação da companheira de chapa e mandato e nomeou Silvina Batakis, até então funcionária do Ministério do Interior, como a nova ministra da Economia. Batakis substitui Martin Guzmán, escolhido por ­Fernández e obrigado a renunciar ao cargo diante da delicada situação do país e da insatisfação das alas kirchneristas com o corte de gastos públicos. O dólar em alta pressiona a inflação, que passa dos 60% em 12 meses, e o risco de desabastecimento de diesel insufla protestos de caminhoneiros. Guzmán era responsável ainda pela renegociação da dívida externa, missão dificílima por conta do calote dado pelo governo anterior de Mauricio Macri. Grupos ligados à vice-presidente celebraram a demissão. “Era a crônica de uma renúncia anunciada”, afirmou Teresa García, líder do bloco de senadores governistas de Buenos Aires. “É necessário mudar o modelo econômico.”

O Chile dividido

O governo do jovem Gabriel Boric tem dois meses para convencer os chilenos a enterrar a Constituição neoliberal e autoritária promulgada pelo ditador Augusto Pinochet e consagrar uma nova Carta Magna, fruto dos trabalhos da Assembleia Constituinte. Segundo a mais recente pesquisa da consultoria Cadem, na última quinzena de junho, 47% dos eleitores estão inclinados a rejeitar a nova Constituição, contra 44% de favoráveis. O plebiscito está marcado para 4 de setembro e a presença é obrigatória. “Somos capazes de instalar uma conversa livre de falsidades e desinformação”, discursou Boric ao receber a proposta da Assembleia Constituinte. “O mundo está nos observando.”

Reino Unido/ Boris Johnson renuncia

Após novo escândalo, o premier abre mão da liderança do partido

Nem os correligionários de Johnson aguentam tantos escândalos – Imagem: Andrew Parsons/N10 Downing Street

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, tentou se ­segurar, mas não resistiu à repercussão de mais uma crise no governo. Na quarta-feira 6, na esteira do desmonte de seu gabinete, Johnson anunciou a decisão de deixar a liderança do Partido Conservador. Deverá, no entanto, permanecer no comando do Reino Unido até a legenda escolher um novo nome, decisão prevista para acontecer em um ou dois meses (na Inglaterra, o chefe do partido majoritário tem a prerrogativa de ocupar a cadeira de premier). O estopim da debandada de ministros e assessores, cerca de 20 até o fechamento desta edição, entre eles os secretários de Finanças e da Saúde, foi a nomeação para um cargo no governo de Chris Pincher, acusado de assédio sexual. Após aceitar relutantemente a demissão de Pincher, Johnson afirmou ter “cometido um erro”. A equipe demissionária achou pouco. John Glen, secretário de Estado do Tesouro, escreveu em sua carta de renúncia ter “completa falta de confiança” na liderança do primeiro-ministro, que havia escapado recentemente de uma moção de censura em decorrência das animadas festas em Downing Street 10, residência oficial, durante a pandemia de Covid-19.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1216 DE CARTACAPITAL, EM 13 DE JULHO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”

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