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Os tucanos entregam outra cratera para a população paulistana

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A capital paulista ganha um novo cânion, desta vez na Marginal Tietê – Imagem: Maurício Lima/AFP e Eduardo Knapp/Folhapress
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Os tucanos nunca foram bons para cumprir prazos, mas demonstram inequívoca vocação para criar atrações turísticas em São Paulo. Na terça-feira 1º, inauguraram o mais novo cânion da capital na Marginal Tietê, ao lado de um canteiro de obras da Linha 6-Laranja do Metrô. A cratera abriu-se após o rompimento de uma tubulação de esgoto no momento em que o tatuzão, equipamento responsável pela escavação dos túneis, passava cerca de 3 metros abaixo. O buraco engoliu três faixas da pista local, em direção à Rodovia Ayrton Senna, na altura da Ponte do Piqueri.

Anunciada por José Serra em 2008, um ano após o desabamento de um trecho da Linha 4-Amarela, que provocou a morte de sete trabalhadores, a Linha 6 deveria ter sido entregue dez anos atrás. Com a nova barbeiragem, o prazo de conclusão deve ser dilatado ainda mais. A população permanecerá mais alguns anos com a mobilidade comprometida, mas precisa reconhecer o talento das toupeiras de plumas na abertura de crateras.

A pista expressa da Marginal Tietê acabou liberada para a circulação de veículos pela Defesa Civil, mas a local deve continuar fechada por tempo indeterminado. Com os problemas no trânsito, o rodízio de veículos foi suspenso em toda a cidade. Ao se manifestar sobre o acidente, o governador João Doria, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, renovou as promessas, mas evitou estabelecer novos prazos. “Determinei a apuração imediata das causas e elaboração de um plano da concessionária responsável pela obra, junto à prefeitura da capital, para a normalização do tráfego da Marginal rapidamente. E que as obras possam ser reiniciadas, com segurança, também o mais breve possível.”

Economia letal

A gestão de João Doria gastou menos da metade do orçamento previsto para obras antienchentes no estado de São Paulo em 2021. Dos 996,9 milhões de reais aprovados pela Assembleia Legislativa, o governo paulista empenhou apenas 453,2 milhões, 45% do total. No ano anterior, o porcentual investido foi ainda menor, 18%. O resultado não poderia ser mais desastroso. As fortes chuvas que atingem os municípios da Grande São Paulo desde o fim de semana anterior causaram ao menos 24 mortes, entre elas as de oito crianças.

Rio de Janeiro/ Fúria escravocrata

Refugiado do Congo, Moïse Kabagambe perece no pelourinho fluminense

O crime ocorreu após o jovem cobrar salário atrasado – Imagem: Redes sociais

Para escapar dos horrores da guerra civil no Congo, Moïse ­Kabagambe migrou para o ­Brasil em 2011, ainda adolescente. Com status de refugiado, trabalhava em um quiosque na orla da Barra da Tijuca, cartão-postal do Rio de Janeiro, quando foi espancado até a morte por quatro homens. A selvageria foi registrada por câmeras de segurança do próprio estabelecimento. No chão e aparentemente desacordado, o jovem congolês recebeu sucessivos golpes de porrete na cabeça por dois agressores. Depois de algum tempo, os assassinos retornaram e tentaram reanimá-lo com massagem cardíaca. Era tarde demais. Moïse estava morto.

O motivo de tanta fúria? Segundo familiares da vítima, o desentendimento começou após o jovem africano cobrar duas diárias atrasadas de seu empregador. Um amigo testemunhou o assassinato e, mesmo após sofrer ameaças dos assassinos, contou o que viu à sua família.

Após analisar as imagens, a Polícia Civil prendeu três suspeitos. Um deles era um vendedor de caipirinhas da praia e outro, um funcionário de uma barraca vizinha. Por meio de seu advogado, o proprietário do quiosque Tropicália, palco do crime, alega que estava em casa no momento do homicídio e não tinha qualquer desavença com o funcionário. Na quarta-feira 2, a Coalizão Negra por Direitos enviou uma denúncia ao Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial da ONU, pedindo providências sobre a morte do congolês. O grupo vê no crime atos de racismo e xenofobia.

Para inglês ver

Em 2021, quando a Amazônia registrou o maior desmatamento dos últimos 15 anos – 13,2 mil quilômetros quadrados, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais –, o governo de Jair Bolsonaro usou somente 41% do orçamento disponível para fiscalização, 219,4 milhões de reais no total. O relatório A Conta Chegou, do Observatório do Clima, acrescenta ainda que o volume de autuações ambientais caiu ao menor nível das últimas duas décadas. O resultado demonstra de forma cabal que os “avanços” apresentados pelo Brasil durante a Cúpula do Clima da ONU eram uma bela peça de ficção. Feita para inglês ver, mas totalmente inverossímil.

Mídia/ No meio do cercadinho

Estreia “Por que seu tio (ainda) ama Bolsonaro”, podcast de CartaCapital

Os episódios mergulham na mente dos apoiadores do ex-capitão – Imagem: Marcos Corrêa/PR

Na sexta-feira 4 estreia nas principais plataformas “Por que seu tio (ainda) ama Bolsonaro?”, podcast de CartaCapital em parceria com a Fundação Friederich Ebert, que busca explicar os laços indeléveis entre Jair Bolsonaro e seus apoiadores. A série, em quatro episódios, baseia-se nas pesquisas qualitativas das cientistas sociais Esther Solano e Camila Rocha com eleitores do ex-capitão em diferentes classes sociais e regiões do País.

O material, colhido regularmente nos últimos seis anos, compõe um mosaico complexo e permite uma visão mais abrangente e menos preconceituosa de quem optou por Bolsonaro em 2018 e que pode voltar a fazê-lo em outubro deste ano. Os estudos de Esther Solano e Camila Rocha mostram que nem tudo está perdido e que o campo progressista comete um erro ao se recusar a entender o fenômeno e tratar como gado a totalidade dos eleitores bolsonaristas. Quer se aborrecer menos nos almoços de família? Acompanhe os episódios semanais de “Por que seu tio (ainda) ama Bolsonaro?” Todas as sextas-feiras de fevereiro.

Oriente Médio/ Apartheid sionista

A Anistia Internacional acusa Israel de promover a segregação dos palestinos

O governo israelense se recusa a rever as suas práticas – Imagem: Jaafar Ashtiyeh/AFP

Na terça-feira 1º, a Anistia Internacional publicou um relatório de 211 páginas, no qual acusa o governo de Israel de submeter os palestinos a um sistema de apartheid, baseado em políticas de “segregação, expropriação e exclusão” que equivalem a crimes contra a humanidade. Segundo a ONG, a conclusão baseia-se em pesquisas e análises legais sobre expropriação de terras e propriedades palestinas, assassinatos ilegais, remoção forçada de pessoas e negação do direito à cidadania.

A Anistia Internacional não é a primeira organização de direitos humanos a acusar Israel de promover um regime de ­apartheid. Em abril do ano passado, a Human Rights Watch apresentou um documento com a mesma conclusão. A despeito dos alertas, o governo israelense recusa-se a rever as suas políticas e disse que o relatório “recicla mentiras” de grupos de ódio e visa “despejar combustível no fogo do antissemitismo”.

Vítima do frio e da indiferença

O fotógrafo suíço René Robert, conhecido por retratar algumas das estrelas de flamenco mais famosas da Espanha, morreu de hipotermia em uma movimentada rua de Paris, em 19 de janeiro, depois de sofrer uma queda durante uma de suas caminhadas noturnas. A notícia foi dada pelo amigo jornalista Michel Mompontet na quinta-feira 27. “Incapaz de se levantar, Robert ficou enraizado no local, no frio, por nove horas, até que um sem-teto chamou os serviços de emergência.” Era tarde, lamentou Mompontet nas redes sociais. “Ao longo dessas nove horas, nenhum transeunte parou para verificar por que esse homem estava deitado na calçada. Nenhum.”

Peru/ De mãos atadas

Castillo fará terceira reforma ministerial em seis meses de governo

O presidente peruano enfrenta uma crise atrás da outra – Imagem: César Fajardo/Presidência do Perú

O presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou uma nova mudança no seu corpo ministerial, a incluir a renúncia da primeira-ministra Mirtha Vásquez. “Como sempre tenho anunciado em minhas intervenções, o gabinete está em constante avaliação. Por tal motivo, decidi renová-lo e formar uma nova equipe. Agradeço o apoio de Mirtha Vásquez e ministros de Estado. Seguiremos pelo caminho do desenvolvimento pelo bem do país”, escreveu Castillo, em comunicado divulgado na segunda-feira 31.

Vásquez é a segunda chefe do corpo ministerial a cair no governo. Ela chegou ao cargo em outubro como uma figura moderada, para substituir Guido Bellido, associado à esquerda radical. Segundo a ex-premier, a decisão foi tomada “diante da ­impossibilidade de alcançar consensos em benefício do país”. Em carta ao presidente, ela queixou-se, porém, das crises provocadas por “opositores com clara intenção golpista”.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1194 DE CARTACAPITAL, EM 9 DE FEVEREIRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”

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