Política

CartaCapital lançou um podcast sobre aquele seu parente que adora o Bolsonaro

Chega hoje às plataformas de streaming a série original ‘Por que seu tio ainda ama o Bolsonaro’, produzida por CartaCapital e pela Fundação Friedrich Ebert

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A inflação subiu, a fome aumentou, as compras estão mais caras, o ódio ganhou força, os setores essenciais do Estado perderam investimentos, as ameaças à democracia cresceram.

Para quem sempre se recusou a votar em Jair Bolsonaro, os problemas listado acima não surpreendem.

Mas é só almoçar com parentes no feriado, ou abrir o grupo da família no WhatsApp, para se deparar com um cunhado comemora o fato de o Brasil não ter se tornado uma Venezuela, ou com um primo que agradece ao ex-capitão por impedir que os perigos da ideologia de gênero cheguem às escolas.

Ou com aquele aquele tio que diz não aguentar mais a corrupção e o aparelhamento do Estado – para ele, só mesmo Bolsonaro daria um basta em tudo isso que está aí.

Esses parentes, fiéis a qualquer custo ao atual governo, são alguns exemplos dos integrantes de um “núcleo duro” que garante pelo menos 20% de intenções de voto e de aprovação a Bolsonaro nas pesquisas, apesar da piora de indicadores sociais.

Para compreender quem são e o que pensam os brasileiros que ainda apoiam o presidente, CartaCapital lança a série Por que seu tio (ainda) ama o Bolsonaro, uma produção original via podcast, disponível nas principais plataformas de streaming.

Em quatro episódios, que vão ao ar às sextas-feiras, a série decifra os sentimentos profundos que movem o universo bolsonarista. O roteiro foi baseado em um estudo desenvolvido pelas pesquisadoras Esther Solano e Camila Rocha, a partir de mobilizações a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Segundo Solano, foi possível captar a “pré-bolsonarização” do País, o auge de Bolsonaro e o seu movimento de decadência. As conclusões foram traçadas a partir de depoimentos de apoiadores e ex-apoiadores de Bolsonaro, além de outros fatos históricos e reflexões teóricas escolhidas pelas autoras.

A professora vê Bolsonaro como “sintoma” de uma movimentação mais complexa de fortalecimento da extrema-direita. Não será possível desfazer essa rede com apenas uma eleição, aponta ela, mas por um processo intenso de escuta e de intervenção a longo prazo.

Para lutar contra a extrema-direita, é muito importante conhecer os seus elementos característicos e saber que não se trata somente de um personagem, como Bolsonaro, mas de um campo político”, afirma Solano, que é doutora em Ciências Sociais pela Universidade Computense de Madri e professora da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp.

Os trabalhos também resultaram no livro O Paradoxo Bolsonaro, já lançado em 2021, na Europa, pela Editora Springer, e que ainda deve ser publicado em versão brasileira.

A aplicação do termo “paradoxo” se deu porque, para parcela da população, a extrema-direita também é um campo de mobilização e de empoderamento, apesar do caráter “fascista” desse movimento, explica ela.

Um dos motivos para isso é o processo em que os mentores do bolsonarismo atendem, por meios demagógicos, a um forte sentimento de frustração com a política, por conta da corrupção e da distância entre as elites e os mais pobres.

Outro elemento citado é o populismo penal exercido por Bolsonaro, que se volta para um medo real, relacionado à segurança pública, e propõe como solução, por exemplo, a facilitação ao acesso de armas.

“Bolsonaro faz uma radiografia desses descontentamentos”, avalia Solano. Para a pesquisadora, o campo progressista deixou a desejar em algumas áreas, como a segurança pública, onde ela enxerga falhas na comunicação de propostas e na implementação de reformas estruturais. Há dificuldades também em lidar com a questão da religiosidade popular e da prática de corrupção, avalia.

Por que seu tio (ainda) ama o Bolsonaro foi produzida em parceria com a Fundação Friedrich Ebert, a mais antiga da Alemanha.

Criada em 1925, o nome da instituição homenageia o primeiro presidente alemão eleito democraticamente, Friedrich Ebert. A FES apoia diferentes iniciativas de promoção de valores da democracia social – liberdade, justiça e solidariedade – na América Latina e no mundo.

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