Economia

Taxa de sindicalização no Brasil cai para 9,2% em 2022, a mais baixa da série histórica

Flexibilização dos contratos de trabalho e redução da organização coletiva contribuem para o resultado; em 2012, o índice era de 16,1%

Entregadores por aplicativo protestam no centro de São Paulo. Foto: Suamy Beydoun/AFP
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O Brasil registrou em 2022 a menor taxa de sindicalizados em sua história recente. Das 99,6 milhões de pessoas ocupadas no País, 9,2% (9,1 milhões) estavam associadas a algum sindicato. Em 2012, por exemplo, o índice era de 16,1%. Os números são do módulo Características Adicionais do Mercado de Trabalho 2022, da PNAD Contínua, divulgado nesta sexta-feira 15.

A queda na sindicalização é crescente nos últimos anos. Do percentual em 2012, que representava 14,4 milhões de trabalhadores, o índice caiu para 11% em 2019 (10,5 milhões), até chega ao nível abaixo dos dois dígitos divulgado hoje. No período, o País assistiu à aprovação da reforma trabalhista, durante o governo Michel Temer (MDB), que reduziu a força das atividades sindicais.

“A redução na população sindicalizada acentuou-se a partir de 2016, quando a queda da sindicalização foi acompanhada pela retração da população ocupada total. A partir de 2017, embora com a população ocupada crescente, o número de trabalhadores sindicalizados permaneceu em queda”, diz Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Os números referentes a 2022 mostram que a baixa sindicalização é uma realidade em todas as regiões brasileiras. O Sul lidera o ranking de sindicalizados (11% da população ocupada), seguido por Nordeste (10,8%), Sudeste (8,3%), Norte (7,7%) e Centro-Oeste (7,6%).

Houve queda em todos os grupamentos de atividades analisadas pelo IBGE, com exceção dos serviços domésticos. Na indústria geral, a taxa de sindicalização girava na casa dos 20% até 2015, caindo para 11,5% em 2022. Por outro lado, a maior taxa de sindicalização (16,5%) é registrada  no setor de “Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura”, segundo o IBGE.

Com menor sindicalização, poder de barganha frente a empregadores diminui

A diminuição na taxa de sindicalização não é um fenômeno isolado. Nos últimos anos, o País lidou com mudanças importantes na dinâmica de trabalho, a exemplo de redução dos direitos trabalhistas, aumento da precarização e mais trabalhadores por conta própria. O quadro revela um enfraquecimento generalizado do poder de barganha dos trabalhadores.

Com menos pessoas ocupadas se associando a sindicatos, cai o poder das entidades para demandarem melhorias nas condições de trabalho. Nesse sentido, diminui também o número de greves deflagradas.

É o que aponta o Balanço das Greves do primeiro semestre de 2023, divulgado em agosto pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. De acordo com o órgão, foram realizadas 558 greves no País no primeiro semestre deste ano, número bem inferior ao de 1.233 greves promovidas no primeiro semestre de 2014 ou das 1.195 ocorridas no mesmo período de 2016. Abaixo, inclusive, das 901 e das 577 feitas, respectivamente, em 2018 e 2019.

“A flexibilização forçada que a pandemia inaugurou/acentuou em muitas organizações – e mesmo no conjunto das atividades econômicas – passou a ser utilizada sistematicamente como um meio eficaz de precarização do trabalho”, afirma a pesquisa do Dieese. 

O órgão reconhece que o avanço da precarização já era uma realidade antes da pandemia, mas aponta que é como se, “precisamente nas condições de turbulências dos anos recentes, houvesse sido descoberta uma ocasião oportuna para a realização, em larga escala, de um experimento de ampliação de terceirizações, de vínculos precários e de privatizações“.

A conclusão do Dieese se alinha às impressões de Adriana Beringuy, coordenadora da pesquisa divulgada nesta sexta, a apontar que, mesmo com o crescimento da população ocupada no Brasil, não houve aumento da cobertura sindical.

“Isso pode estar relacionado a diversos elementos, como aprofundamento das modalidades contratuais mais flexíveis introduzidas pela Reforma Trabalhista de 2017, formas independentes de inserção dos trabalhadores na produção em alternativa à organização coletiva, e o uso crescente de contratos temporários no setor público”, destacou a pesquisadora.

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