Sociedade

Segurança alimentar cresce, mas quase 9 milhões ainda passam fome no Brasil

Embora haja uma melhora significativa em relação ao pré-pandemia, o número de lares em insegurança alimentar ainda supera os níveis registrados em 2013

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Em 2023, a insegurança alimentar atingiu 27,6% dos lares brasileiros, o que equivale a 64 milhões de pessoas sem acesso pleno à alimentação básica. Embora elevado, o percentual representa um recuo notável em relação aos anos de 2017 e 2018, anos em que o Brasil registrou uma taxa de 36,7% de insegurança alimentar.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a PNAD-C, realizada pelo IBGE e divulgada nesta quinta-feira, dia 5.

Ao todo, 21,6 milhões de lares no país encontravam-se em situação de insegurança alimentar em 2023. Desses, 14,3 milhões (18,2%) enfrentavam insegurança alimentar leve, 4,2 milhões (5,3%) insegurança alimentar moderada, e 3,2 milhões (4,1%) um nível grave de insegurança, quando a falta de comida atinge também as crianças, em geral poupadas quando o problema é menos grave.

Levando em conta a média de moradores por domicílio, que é de 2,79, são quase 9 milhões os brasileiros em insegurança alimentar grave. O IBGE estima ainda que a fome nos lares afete 4,5% das crianças de 0 a 4 anos no país e 4,9% da população de 5 a 17 anos.

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, destacou o recuo nos índices como resultado direto das políticas implementadas durante o terceiro mandato do presidente Lula.

“É um resultado potente e significativo que foi anunciado aqui. São 24,4 milhões de pessoas que saíram da situação de fome no brasil em 2023, é um marco para o Brasil”, destacou. “Quem tem fome tem pressa, e foi com esse olhar que o governo Lula trabalhou desde o primeiro dia para chegar nesse resultado.”

O caminho para a superação da fome e da pobreza, contudo, ainda é longo. Ainda que haja uma redução geral nos índices de insegurança alimentar comparados aos últimos cinco anos, o número de lares afetados ainda é significativamente alto em relação à última década. Em 2013, o Brasil tinha 22,6% dos domicílios em situação de insegurança alimentar.

Norte e Nordeste registram indicadores mais preocupantes

As regiões Norte e Nordeste apresentaram os maiores índices de insegurança alimentar no Brasil. Respectivamente, estas regiões contabilizaram 12,7 milhões (39,7%) e 3,6 milhões (38,8%) de domicílios enfrentando essa condição. O quadro de insegurança alimentar leve foi observado em aproximadamente um quarto dos lares em ambas as regiões

As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste foram as áreas com percentuais mais elevados de domicílios particulares, com prevalências de insegurança alimentar grave de 7,7%, 6,2% e 3,6%, respectivamente. 

A região Sul registrou o maior número de domicílios em segurança alimentar, alcançando um patamar de 83,4%. As regiões Centro-Oeste e Sudeste também apresentaram mais da metade de seus lares em condições de segurança alimentar, com índices de 75,7% e 77%, respectivamente.

Em 2023, o Pará foi o estado com a maior proporção de domicílios enfrentando insegurança alimentar moderada ou grave, com um em cada cinco lares, ou 20,3%, nessa condição. Esse estado lidera o ranking nacional, seguido por Sergipe, com 18,7%, e Amapá, com 18,6%.

Lares chefiados por mulheres e pessoas pretas estão entre os mais vulneráveis

Em 51,7% dos domicílios do país, a pessoa responsável era a mulher, enquanto 48,3% a pessoa responsável era do sexo masculino. A divisão é aprofundada nos lares que convivem com a insegurança alimentar, nos quais 59,4% são chefiados por mulheres enquanto apenas 40,6% por homens. A diferença pode ser explicada tanto pela diferença salarial e de ganhos no mercado, assim como pelo alto número de mães solo no Brasil. Em 2022, o IBGE registrou o mais de 11 milhões de mulheres na categoria.

Ao analisar o recorte de raça, a pesquisa revela que a insegurança alimentar atinge 69,7% dos lares com moradores pretos e pardos e é duas vezes maior que em famílias brancas (29%).

Queda recorde na insegurança alimentar rural

Os moradores da zona rural continuam enfrentando mais insegurança alimentar do que os das cidades brasileiras. Nas áreas urbanas, 73,3% dos lares possuem segurança alimentar, enquanto na zona rural, esse percentual é de apenas 65,5%.

Apesar dessa disparidade, há um avanço significativo: a taxa de insegurança alimentar moderada ou grave nas áreas rurais caiu para 12,7%, o menor índice desde o início da série histórica em 2004, quando a incerteza na alimentação afetava 23,6% das famílias rurais.

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