Sociedade

Polícia da Bahia investiga caso de tortura contra funcionário negros em loja

As agressões teriam sido cometidas e filmadas pelo empresário Alexandre Santos Carvalho, um dos sócios da loja Atacadão das Máscaras

Detalhe de mãos com marcas de queimadura; Polícia Civil e Ministério Público do Trabalho apuram denúncia - Reprodução/TV Bahia
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A Polícia Civil da Bahia abriu um inquérito para investigar possível caso de tortura envolvendo dois funcionários negros de uma loja em Salvador.

Em cenas registradas em vídeo, Willian de Jesus aparece dento suas mãos queimadas e marcadas por um ferro de passar roupas, deixando registrado a marca “171”, artigo referente ao crime de estelionato. Anteriormente, outro funcionário, foi gravado recebendo pauladas após suspeita de furto de 30 reais. 

Após a repercussão de fotos e vídeos divulgados pelos próprios torturadores nas redes sociais, os dois funcionários registraram queixa na Polícia. 

As agressões teriam sido cometidas e filmadas pelo empresário Alexandre Santos Carvalho, um dos sócios da loja Atacadão das Máscaras. No momento, ainda estaria presente no local o primo e gerente do estabelecimento, Diógenes Carvalho Souza. 

Em uma das filmagens, William de Jesus aparece seminu, com uma amordaça na boca, enquanto o empresário manda que ele mostre as marcas nas mãos.

“Bota o 171 aí, ladrão”, ordena a voz, enquanto o jovem aparece nitidamente sentindo dor em uma cadeira. 

Em um segundo vídeo, Marcos Eduardo aparece senado em uma cadeira enquanto é obrigado a narrar as agressões sofridas por Carvalho. 

É possível ouvir na gravação que o empresário afirma ter colocado 30 reais debaixo do balcão para testar a honestidade do funcionário.

“Ó pessoal, mais um ladrão aqui. Trabalhou para mim aqui, a gente deu moral, deu confiança. Aí ele metendo mão no dinheiro. Botei uma isca para ele. Falei com meu primo aqui, que eu ia pegar ele […] Agora, ele tá colhendo o que ele plantou”, diz ele.

Alexandre prestou depoimento da delegacia que investiga o caso. Segundo o delegado Willian Achan, titular do caso, “ele disse que queria fazer Justiça com as próprias mãos porque ficou muito chateado [com o suposto furto]”. 

Além do empresário, já prestaram depoimento as duas vítimas e outras duas testemunhas. O gerente é esperado pelas autoridades nesta quarta-feira 31. 

Além das agressões, William afirmou ser vítima de diversas violações trabalhistas. Ele não teria sua carteira de trabalho assinada, horário fixo ou período de descanso e constantemente sofria descontos em seu pagamento devido a desconfianças de furto. 

“Eles [os empregadores] acusavam todos os funcionários de furto. Então, eles descontavam no pagamento semanal da gente”, disse o jovem. 

“Alguns não aguentavam e saíam. Eu fiquei porque precisava do dinheiro. Era como um trabalho escravo”, completou. 

Segundo a vítima, ele teria sido surpreendido pelos agressores quando chegou para trabalhar. 

 “Eles disseram que eu ia sofrer como no tempo da escravidão. Tive medo de morrer, mas consegui fugir”, afirmou. 

A dupla deve ser investigada por tortura e exercício arbitrário das próprias funções por confiscarem o celular e o relógio de uma das vítimas. 

O advogado das vítimas declarou que buscará responsabilização penal e trabalhista do empresário e do gerente. 

Além do dano psicológico, há também o dano trabalhista, pois eles não estão conseguindo trabalho”, afirmou. 

“No caso de William, é mais complicado ainda, pois é preciso esperar as queimaduras cicatrizarem, já que ele trabalha com atendimento ao público”, concluiu. 

Nesta segunda-feira 29, o Ministério Público do Trabalho abriu um inquérito para apurar a denúncia de tortura e do não cumprimento das regras trabalhistas por parte dos empregadores. 

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