Sociedade
PM que baleou motociclista pelas costas diz que se enganou
Ouvidor da PM de São Paulo disse que ‘não há justificativas’ para ação de policial
Um policial militar matou um motociclista com um tiro nas costas em uma abordagem no sábado 26, segundo mostram imagens obtidas pelo site Ponte Jornalismo. O caso aconteceu em frente à 2ª Companhia do 29º Batalhão da PM em São Miguel Paulista, zona leste da cidade de São Paulo.
O PM responsável, Claiton Marciano dos Santos, de 45 anos, foi preso em flagrante por homicídio doloso, quando há intenção de matar. A primeira versão do cabo era que tinha atirado em legítima defesa, mas o vídeo mostra que a vítima estava descendo da moto quando levou o tiro. Claiton estava há 24 anos na corporação.
Em novo depoimento o PM disse que atirou porque ouviu um estampido e ficou com medo, durante uma tentativa de abordagem. O cabo ainda disse em seu depoimento que não teve a intenção de balear Nadson, “apenas de parar a motocicleta”.
O motociclista foi identificado como Nadson Igor Rodrigues de Miranda, de 23. Ele morreu no hospital Tide Setubal, para onde foi levado pelos policiais.
Nadson era suspeito de ter roubado a motocicleta que pilotava, o que foi posteriormente confirmado pela Secretaria de Segurança Pública, que fez a identificação com a pessoa assaltada. No local em que Nadson morreu, não foram aprendidas armas de fogo.
O crime será investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil. No depoimento, Claiton afirma que ouviu um estampido e que, por esse motivo, atirou em Nadson enquanto ele ainda estava na moto.
“Não tem justificativa”
O ouvidor da Polícia do estado de São Paulo, o advogado Elizeu Soares Lopes, criticou o aumento da violência policial na região durante a pandemia do novo coronavírus e afirmou que o índice “não tem justificativa”.
“Nós não estamos em guerra. São números assustadores [de violência policial], nós estamos em uma situação de confinamento, onde a grande maioria das pessoas, estão em casa, isoladas, com medo do coronavírus, que, esse, sim é nosso principal inimigo hoje. Então, não tem justificativa para esses aumentos significativos da violência”, afirmou em entrevista à GloboNews no domingo 26.
À emissora, Lopes declarou que a Ouvidoria vai instaurar um procedimento para acompanhar investigações sobre o caso do PM que matou o motociclista. Segundo ele, o combate à criminalidade por parte da Polícia deve ocorrer “dentro da lei”, sob pena de cometer outro crime.
As críticas do ouvidor ocorrem em meio a um debate sobre a possível extinção da Ouvidoria das Polícias de São Paulo. A discussão emergiu nas últimas semanas, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), por conta de um projeto que defende o fim do órgão.
O governador João Doria (PSDB) já avisou que não apoia o texto que tramita no Parlamento.
Criada em 1995, a Ouvidoria é um órgão da Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, que tem como função ouvir, encaminhar e acompanhar denúncias, reclamações, sugestões e elogios feitos pela população sobre a atuação policial.
As pessoas podem procurar a Ouvidoria sempre que a polícia não for eficiente, ou se tiverem conhecimento de atos ilegais, como crimes e abusos, cometidos por policiais.
Os parlamentares que defendem o fim da Ouvidoria argumentam que a proposta tem o objetivo de “dar continuidade à política de redução de gastos públicos”. Também afirmam que querem “corrigir um injustiça imposta unicamente em desfavor dos policiais do estado”.
Nas redes sociais, o autor do projeto afirmou que a Ouvidoria das Polícias é um “órgão totalmente politizado, que só traz prejuízo para a segurança da nossa população”.
D’Avila já provocou polêmica por ter pedido uma sessão de homenagem ao ditador chileno Augusto Pinochet. Também assinam a proposta outros 17 deputados estaduais. Entre eles, estão Gil Diniz e Douglas Garcia, que recentemente foram expulsos do PSL por manifestações antidemocráticas contra o Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo dados da SSP, divulgados na sexta-feira 24, a Polícia Civil e a Polícia Militar mataram, juntas, 514 pessoas em situações como folga ou no próprio serviço, em supostos tiroteios, entre janeiro e junho deste ano. O patamar foi recorde no semestre, se comparado aos índices anteriores desde o início da série histórica, em 2001.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.