Sociedade

Pastor dos EUA que justifica escravidão com a Bíblia virá ao Brasil para congresso evangélico

Pastor escreveu dois livros que buscam “tirar o estigma” do sistema escravista do sul dos Estados Unidos

O pastor evangélico Douglas Wilson, da congregação americana Igreja de Cristo, é um dos expoentes mais recentes de uma lista de pastores que usam a Bíblia para defender o direito de cristãos escravizarem os negros - Reprodução/Youtube
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Considerado um dos congressos mais importantes no cenário evangélico do Brasil, o Consciência Cristã terá como palestrante o pastor estadunidense Douglas Wilson, defensor da ideia de que a Bíblia permite escravizar outros seres humanos. O evento, previsto para acontecer em Campina Grande (PB) em fevereiro, deve reunir lideranças da direita brasileira.

O convite foi revelado pelo The Intercept Brasil nesta terça-feira 16, em artigo escrito pelo teólogo Ronilso Pacheco. O evento é organizado pela Visão Nacional para a Consciência Cristã, uma entidade conservadora liderada por diversas igrejas evangélicas.

Para Pacheco, a vinda de Douglas Wilson cruza uma linha inaceitável e permite a “defesa aberta da naturalização da escravidão”. Ele explica que o pastor norte-americano tem forte influência sobre conservadores reformados brasileiros e também representa o nacionalismo cristão, um fenômeno que ameaça a democracia nos Estados Unidos.

Líder da Igreja de Cristo, o pastor escreveu dois livros que buscam “tirar o estigma” do sistema escravista do sul dos Estados Unidos.

Suas visões remontam a uma corrente de pensamento da década 1960, que se opôs ao movimento pelos direitos civis nos EUA.

Os adeptos dessa escola revivem as ideias do pastor calvinista Robert L. Dabney, um defensor do sistema escravista do sul dos EUA – entre as figuras que influenciaram Wilson está Rousas Rushdoony, autor do livro Institutes of Biblical Law.

Um dos argumentos defendidos por Wilson é a tese de que a vitória do Norte abolicionista impediu a ida de africanos escravizados para o estado da Virgínia, onde supostamente encontrariam “mestres piedosos”. Seus trabalhos acadêmicos estão diretamente ligados à tentativa de pintar a escravidão como algo “positivo”.

Apoiador do ex-presidente Donald Trump, o pastor chegou a apoiar a fala do republicano sobre o confronto entre neonazistas e manifestantes antirracistas em Charlottesville, na Virgínia, em 2017. “Eu igualo o Black Lives Matter à Ku Klux Klan”, escreveu Wilson à época.

Atualização

Após a repercussão negativa do apoio de Wilson aos grupos supremacistas e a defesa da escravidão com base na bíblia, a participação do líder da Igreja de Cristo foi cancelada no congresso Consciência Cristã.

Em nota publicada na noite da quarta-feira 17, o presidente da organização, Euder Faber, afirma que o cancelamento ocorreu após ‘polêmicas levantadas por interpretações de falas sobre o tema sensível da escravidão’. Ele esclarece também que o cancelamento ocorre pelo risco de haver ‘incitação de crime de ódio e uma escalada de violência física’ contra os participantes do evento.

Faber criticou o ‘cancelamento’ que, segundo ele, impede que Wilson tenha espaço para se defender e afirma que tomará as providências judiciais cabíveis contra as acusações.

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