Política

Operação no Rio é a mais catastrófica da história e não detém o CV, diz pesquisador

A ação policial nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte da capital fluminense, é a mais letal do estado

Operação no Rio é a mais catastrófica da história e não detém o CV, diz pesquisador
Operação no Rio é a mais catastrófica da história e não detém o CV, diz pesquisador
Operação policial no Rio de Janeiro em 28 de outubro de 2025 deixa mais de 60 mortes. Foto: Mauro Pimentel/AFP
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A operação deflagrada nesta terça-feira 28 pelo governo de Cláudio Castro (PL) contra o Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, é a mais letal já registrada no estado. Para o pesquisador Daniel Hirata, coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI/UFF), trata-se também da “mais catastrófica”, sem efeitos concretos para impedir o avanço da facção criminosa.

Houve pelo menos 64 mortes na ação, entre elas as de quatro policiais. Foi um dia de caos na capital fluminense, com pessoas na linha de tiro, fechamento de comércio e interrupção de serviços essenciais.

“Não é só a mais letal da história do Rio de Janeiro, mas a mais catastrófica”, disse Hirata a CartaCapital, ao enfatizar que a operação registrou mais que o dobro de mortes em comparação com a chacina do Jacarezinho, de 2021 — na ocasião, morreram 28 pessoas.

“Essa operação não pode ser considerada bem-sucedida nem por sua execução — dada a quantidade de mortes para uma ínfima quantidade de prisões e apreensões —, nem por uma questão de concepção. Esse tipo de operação não produz nenhum efeito de contenção da expansão do Comando Vermelho.

O balanço mais recente indica que houve 81 prisões, além da apreensão de 93 fuzis, duas pistolas e nove motos.

Hirata reconhece o avanço territorial do CV, mas reforça só ser possível enfrentar essa expansão com ações efetivas contra suas redes de sustentação econômica e de proteção política. “Isso não se faz em uma operação que atua basicamente vitimando a base dessas organizações, e não suas principais lideranças e seus intermediários, que permitem a sua existência.”

Cláudio Castro: um governador ‘errático’

Para o pesquisador, Castro busca responsabilizar o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal pelas circunstâncias da operação. “Quando do envio da PEC da Segurança Pública, ele dizia que o governo federal estava se intrometendo em assuntos dos governadores”, relembra Hirata.

Nesta terça, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), cobrou do Congresso Nacional a aprovação da proposta.

Hirata também avalia que a ADPF das Favelas — outro alvo de Castro — foi responsável por reduzir a letalidade policial mesmo com o aumento das operações. “Ou seja, as operações policiais estavam ficando seguras, não inseguras como esta.”

Em 2022, o STF reconheceu um quadro de graves violações de direitos de moradores de favelas do Rio e uma omissão estrutural do poder público. Determinou, portanto, a elaboração de um plano para reduzir a letalidade policial e ordenou outras medidas, como a necessidade de ambulâncias em operações de alto risco e o uso de câmeras em viaturas e uniformes policiais.

O pesquisador também descarta que um eventual decreto de Garantia de Lei e da Ordem — que caberia ao presidente Lula (PT) — fosse uma alternativa viável para o Rio de Janeiro.

“O que o governador tenta produzir dentro de um léxico um tanto quanto confuso é um cenário de guerra. Por isso se fala em defesa — e não em segurança pública — e em ‘narcoterroristas’, por isso  ele quer acionar o Exército”, acrescenta. “O que temos é um problema criminal que deveria ser resolvido com policiamento, inteligência, preparo e eficiência. Tudo o que essa operação não teve.”

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