Sociedade

A principal linha de investigação sobre a morte de 3 médicos em um quiosque no Rio de Janeiro

Os profissionais participariam de um congresso; irmão da deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) está entre as vítimas

O quiosque na Barra da Tijuca onde três médicos foram assassinados. Foto: Florian Plaucheur/AFP
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Três médicos foram mortos a tiros e outro foi internado, devido a um ataque na madrugada desta quinta-feira 5 na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A perícia coletou 33 estojos de projéteis de pistolas 9 milímetros na área do quiosque onde o crime ocorreu.

Até a tarde desta quinta, uma linha de investigação policial envolve a hipótese de os quatro médicos terem sido atacados por engano. Nesta direção, a polícia apura se o alvo seria um miliciano da região chamado Taillon de Alcântara Pereira Barbosa. Ele foi preso no fim de 2020 e colocado em liberdade condicional no mês passado.

Em 8 de dezembro de 2020, o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público fluminense deflagrou a Operação Sturm, a fim de cumprir nove mandados de prisão e 14 de busca e apreensão contra milicianos que atuavam na região de Rio das Pedras e Muzema.

O líder do grupo criminoso era exatamente Taillon, filho de Dalmir Pereira Barbosa, uma das principais lideranças da organização e denunciado anteriormente na Operação Intocáveis II.

Polícia investiga se Taillon Barbosa (à esquerda) seria o alvo e teria sido confundido com o médico Perseu Almeida (à direita). Fotos: Reprodução

Uma das vítimas do atentado desta quinta-feira é Diego Ralf Bonfim, de 35 anos, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP). Em entrevista à TV Globo nesta tarde, ela classificou o caso como um “crime bárbaro” e cobrou respostas.

“Era a pessoa mais linda do mundo. Íntegro, inteligente, dedicado. Absolutamente carinhoso com todo mundo. Nunca fez mal pra ninguém. Pelo contrário, ele só orgulhava a nossa família”, disse Sâmia, em referência ao irmão.

Os dois outros médicos assassinados são:

  • Marcos de Andrade Corsato, 62 anos. Era médico-assistente do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; e
  • Perseu Ribeiro Almeida, 33 anos. Era especialista em cirurgia do pé e do tornozelo pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da USP.

O sobrevivente é Daniel Sonnewend Proença, de 32 anos, especialista em cirurgia ortopédica. Foi socorrido ao hospital e, segundo o mais recente boletim, seu estado é estável.

O crime ocorreu no Quiosque da Naná, na Avenida Lúcio Costa, na Praia da Barra da Tijuca.

Os médicos Diego Ralf Bomfim, Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida.
Foto: Reprodução

A cronologia do crime

Faltavam cerca de trinta segundos para a 1h desta quinta quando três homens desceram de um carro branco estacionado em frente ao quiosque. Dois deles saíram do banco de trás e um do carona.

Os disparos começaram quando dois dos assassinos se aproximaram consideravelmente da mesa onde as vítimas estavam. Perseu caiu para trás, Diego também foi ao chão e Marcos morreu sentado em sua cadeira.

Na sequência, os assassinos começam a recuar, mas sem cessar os disparos, enquanto Daniel tenta se afastar. Dois deles retornam ao carro, enquanto o terceiro se aproxima novamente das vítimas e faz novos disparos.

Segundos depois, um dos criminosos que já estavam no veículo volta ao quiosque e recomeça a atirar. O outro assassino que havia voltado ao carro também retorna à cena do crime, aparentemente para verificar se uma das vítimas já estava morta.

Faltando cerca de 17 segundos para a 1h, os dois homens que haviam voltado ao quiosque correm para o veículo e embarcam. O carro, então, arranca.

“Não teve conversa, não teve voz de assalto. Simplesmente chegaram e atiraram. E foi muito, muito rápido. Em questão de 30 segundos já tinha acontecido tudo. Então, a gente percebeu que não foi um assalto exatamente. Foi simplesmente uma execução”, disse uma testemunha.

Reações imediatas

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, determinou que a Polícia Federal acompanhe as investigações.

“Em face da hipótese de relação com a atuação de dois parlamentares federais, determinei à Polícia Federal que acompanhe as investigações sobre a execução de médicos no Rio. Após essas providências iniciais imediatas, analisaremos juridicamente o caso. Minha solidariedade à deputada Sâmia, ao deputado Glauber e familiares”, escreveu o ministro nas redes sociais.

O secretário-executivo da pasta, Ricardo Cappelli, se deslocará ao Rio de Janeiro a fim de se reunir com o governo estadual e a direção da PF.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que o crime é “inadmissível” e “uma coisa bárbara”. A polícia paulista auxiliará nas investigações.

“Foi uma execução sumária, uma ação que parece que durou segundos. Nós tivemos a execução a queima-roupa, não teve nem tempo de a pessoa reagir, fazer nada”, afirmou.

O presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), declarou que o crime deve ser “meticulosamente investigado, para saber as suas motivações”.

“Todos os fatos dessa natureza, evidentemente, precisam ser investigados, mas o fato de uma das vítimas ser irmão de uma deputada federal muito aguerrida, combativa e reconhecida, inclusive, por sua qualidade, é muito importante que haja uma investigação profunda nesse sentido”, prosseguiu. “O Congresso Nacional obviamente acompanhará de maneira muito próxima os desdobramentos.”

O presidente Lula (PT) se manifestou por meio das redes sociais: “Recebi com grande tristeza e indignação a notícia da execução de Diego Ralf Bomfim, Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida na orla da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, na madrugada desta quinta-feira. As vítimas estavam na cidade para um Congresso Internacional de Ortopedia. Minha solidariedade aos familiares dos médicos e a deputada Sâmia Bomfim e ao deputado Glauber Braga. A Polícia Federal, sob determinação do ministro Flávio Dino, está acompanhando o caso”.

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), além de prestar solidariedade à família de Sâmia, disse esperar que “as autoridades policiais esclareçam com celeridade esse lamentável episódio e que os rigores da lei sejam aplicados aos autores desse crime bárbaro”.

Já o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), disse ter se comprometido com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a dar uma “pronta resposta” sobre a autoria e a motivação do crime.

Ainda pela manhã, Castro afirmou que a Polícia Civil do Rio já havia realizado a perícia e recolhido as imagens para identificar a rota dos criminosos. Os depoimentos de testemunhas ocorrem na Delegacia de Homicídios da Capital.

“A Polícia Civil de São Paulo vai contribuir com a nossa investigação, disponibilizando informações sobre o perfil das vítimas. A Polícia Federal também vai auxiliar na busca pelos bandidos. As diligências da Polícia Civil do Rio continuam em andamento”, emendou o governador fluminense.

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