O que aconteceu com o idoso que agrediu um motoboy negro no Rio Grande do Sul

Ao esperar na calçada a notificação de uma entrega, o motoboy Everton Henrique Goandete da Silva, um homem negro de 40 anos, foi agredido no pescoço com um canivete pelo morador Sérgio Camargo Kupstaitis, um idoso branco de 71 anos, no último sábado 17. 

A gravação do caso gerou repercussão, pois, ao ser chamada, a Brigada Militar do Rio Grande do Sul imobilizou e prendeu Everton, a vítima, enquanto Sérgio, o agressor, foi poupado e detido momentos depois.

As imagens mostram que a abordagem se tornou incisiva, quando Everton falou para o morador mostrar o canivete aos policiais. 

Neste momento, um policial puxou o motoboy pela camiseta e disse para ele se acalmar, e ele rebateu: “Quem tá errado é ele, então me larga”. A partir de então, ao menos quatro policiais tentaram imobilizá-lo. 

Enquanto o motoboy foi algemado às forças e colocado no porta-malas da viatura, o idoso conversou com agentes, foi ao seu imóvel colocar uma blusa e só depois, ao voltar ao local da ocorrência, foi algemado e levado à delegacia no banco traseiro do veículo. 

Segundo a Polícia Civil, a Brigada Militar registrou um boletim de ocorrência e liberou ambos. 

O motoboy e o morador vão responder pelo mesmo delito: lesão corporal. 

A delegada que investiga o caso, Rosane de Oliveira, da 3ª Delegacia de Polícia da Capital, disse à imprensa na segunda-feira 19, que inicialmente não terá indiciamento pelo crime de racismo. 

“A investigação que está em andamento determinará quais atos foram de fato praticados, bem como se, eventualmente, houve outro fato delituoso”, reforçou também a Polícia Civil, em nota.

No caso dos agentes, uma sindicância foi aberta pela Brigada Militar para apurar a abordagem, a pedido do governo do Rio Grande do Sul, e os policiais envolvidos foram afastados durante uma semana para concluir se houve ou não abuso de autoridade. 

O idoso, que foi ouvido pela Polícia na segunda-feira, admitiu ter usado um canivete para agredir o motoboy. Como reação, Everton teria acertado pedradas na perna do morador.

Na visão da delegada, o motoboy foi rendido por estar “mais alterado”. “O Everton estaria mais alterado. O outro indivíduo, que é a outra parte, estaria mais calmo, mais quieto”, alega Oliveira.

Qual o real motivo da agressão? 

Em depoimento à Polícia, o morador disse que tem desavenças antigas com o motoboy devido a tumulto e barulhos na porta de sua residência. Este teria sido o motivo da agressão, segundo ele. 

Por outro lado, o motoboy afirmou que naquele momento não houve nenhuma discussão.

“Estão falando que eu discuti com ele. Ele apareceu do nada e me desferiu o golpe de faca. Então, não houve uma discussão. Eu estava sentado”, disse Everton ao G1. “Do nada, o senhor ali apareceu com um canivete. Foi de surpresa”. 

Ele explicou que a rua onde o caso aconteceu é ponto de parada dos motoboys para aguardar notificação de pedidos. 

A Polícia Civil ainda investiga o que causou o desentendimento entre os dois e qual foi o início da agressão.