Política

O impacto da violência policial no Rio sobre a saúde física e mental da população, segundo pesquisa

Um levantamento do CESeC mostra que moradores de regiões afetadas por tiroteios envolvendo o Estado têm mais hipertensão, ansiedade e depressão

Chacina no RJ deixa 28 mortos na favela do Jacarezinho. Foto: CARL DE SOUZA / AFP
Apoie Siga-nos no

Na quinta-feira 6 de maio de 2021, pelo menos 29 pessoas morreram no Jacarezinho, favela do Rio de Janeiro, na Operação Exceptis, a mais letal na história do estado. Episódios como aquele reforçam a incerteza diante da violência: 51% dos moradores de regiões mais afetadas por tiroteios envolvendo agentes do Estado sofrem com transtornos físicos e mentais, índice que é de 35,9% em áreas com menor incidência de conflitos do tipo.

Os dados são da pesquisa Saúde na Linha de Tiro, realizada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania e divulgada nesta quarta-feira 9. 

O levantamento tem como base as três comunidades mais impactadas por tiroteios com o envolvimento de agentes do Estado em 2019: Nova Holanda, no complexo da Maré; CHP-2, no complexo de Manguinhos; e Vidigal. Para comparação, a pesquisa leva em conta outras três áreas que não tiveram conflito armado no mesmo período: Parque Proletário dos Bancários e Parque Conquista, na zona norte, e Jardim Moriçaba, na zona oeste.

Nas regiões com operações constantes, os moradores têm um risco 42% maior de desenvolver hipertensão e uma chance cerca de 73% mais elevada de sofrer com insônia prolongada.

Já a depressão alcança 29,6% das pessoas entre 18 e 45 anos que convivem com conflitos armados envolvendo o Estado. Ao todo, 1.500 pessoas foram entrevistadas.

Os moradores doentes ainda têm dificuldade de encontrar atendimento próximo. Nas comunidades mais expostas à violência do Estado, 59,5% das pessoas disseram que a unidade de saúde já havia sido fechada em algum momento.

Em 2022, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, foram contabilizados 445 fechamentos de unidades de saúde por causa da violência.

Há, também, os custos com o tratamento de pessoas adoecidas. Neste cálculo, o investimento anual do Estado com o tratamento de pacientes com hipertensão arterial e depressão pode variar entre 69 mil e 95 mil reais, em valores de 2022.

Durante as operações, muitos moradores ficam impossibilitados de trabalhar. A ação mais recente na Vila Cruzeiro, que deixou pelo menos 10 mortos, também resultou no fechamento de 16 escolas. Cerca de 3.200 alunos precisaram ficar em casa e, por consequência, muitos familiares não trabalharam. 

Os prejuízos desses grupos chegam a 1,4 milhão de reais. Muitas dessas pessoas são impossibilitadas de realizar atividades habituais devido a problemas de saúde.

“O contexto da violência armada no Rio de Janeiro tem uma singularidade em relação às outras cidades no Brasil. Nossos dados mostram que a guerra às drogas impede que as pessoas tenham acesso a um direito básico e universal como a saúde”, aponta Mariana Siracusa, coordenadora da pesquisa. “Compreender os impactos dessa violência é essencial para a formulação de políticas que possam transformar essa realidade.”

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo