Sociedade

Na mira de pistoleiros, líder comunitário do Pará teme execução e pede mais proteção ao governo

Erasmo Theofilo sofreu três ameaças de morte diretas após se mudar do assentamento onde, 17 anos antes, foi executada a missionária Dorothy Stang

Foto: Comissão Pastoral da Terra/MN
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Erasmo Alves Theofilo atuou por décadas para que a Gleba Bacajá, região onde vivem 73 famílias em Anapu, no sudoeste do Pará, se tornasse uma área assentada. Conseguiu no ano passado. O local foi batizada como  ‘Assentamento Irmã Dorothy‘. Foi ali que executaram, há 17 anos, a missionária americana que denunciava a violência armada na região. 

O título formal, porém, em nada diminuiu a cobiça dos grileiros pela terra – muito pelo contrário. Um episódio marcante ocorreu em 2022. Às vésperas das eleições presidenciais, que veta temporariamente prisões, Erasmo e sua família viveram horas de terror na mira dos pistoleiros.

“Nós ficamos escondidos no meio do mato, com medo dos pistoleiros, até por volta de 16h da tarde que foi quando a polícia chegou”, conta ele a CartaCapital.

A única alternativa era a de se mudar. Para proteger, a esposa e os cinco filhos, Theofilo começou a pedir apoio local para integrantes de movimentos, sindicatos e demais personalidades da sociedade civil, que também o ajudaram a encontrar uma nova cidade.

“Quando um atentado acontece, eu não tenho três meses para falar com o pistoleiro, com o mandante da minha tentativa de assassinato”, desabafa, criticando os prazos do programa federal de proteção a testemunhas, do qual faz parte desde 2019, quando duas outras lideranças rurais de Anapu foram executadas.

A nova casa também não lhe trouxe paz. Com um mês de mudança, houve a primeira tentativa de execução. No fim de 2022, a segunda, quando precisou se mudar novamente. Uma terceira ocorreu no final para o começo deste ano. 

A mais grave envolveu uma tentativa de sequestro do filho durante a volta à escola. O que salvou foi o apoio popular. Vizinhos perceberam que eram um carro diferente do habitual que buscava as crianças na escola e impediram que elas entrassem no veículo. 

Erasmo e a esposa, Natália, têm cinco filhos, com idades entre 2 a 16 anos.“Este é o primeiro ano que eles vão concluir a série em uma mesma escola.”

Depois que saiu de Anapu, ele e a família não conseguiram ir tão longe, já que o programa estabelece que eles permaneçam no mesmo estado para garantir proteção. Isto porque a iniciativa antes gerida em âmbito federal, agora é de competência estadual. 

Ele também relembra a execução da ialorixá Maria Bernadete Pacífico, na Bahia, que também estava sob proteção do mesmo programa.

.”Será que nós precisamos morrer pra nossa família tenha um pouco de sossego, será que nós precisamos tombar para serem lembrados de nós como heróis da luta camponesa? Porque eu tô aqui! Eu continuo vivo, respirando, só querendo paz e sossego para minha família, eu não sou digno disso”.

A investigação dos crimes e busca por apoio

Na tentativa de agilizar a tramitação dos envolvidos nos tiroteios em Anapu, Theofilo e outras pessoas da comunidade investiram esforços em identificar os pistoleiros e mandantes.

 “A investigação fica em tramitação eterna, não tem desdobramento nenhum. Por mais que a gente tenha identificado os pistoleiros, os mandantes, por mais que a gente denuncie onde eram as casas, a investigação não anda”, diz o líder. “Não tem interesse nenhum do Estado em resolver a situação, porque a maioria desses grileiros do Pará, são financiadores dos senhores governadores, são eles que protegem”.

Ele e outros líderes comunitários da região iniciaram uma busca por contato nos ministérios do governo Lula, aos quais, só retornou o ministro da Agricultura, Paulo Teixeira, em visita à região. Outra tentativa de contato com o governo foi com o ministro Silvio Almeida, na ocasião do Diálogos Amazônicos, no Pará. Um contato direto aconteceu, mas também sem desdobramentos, segundo Theofilo.  

O Ministério dos Direitos Humanos informou, em nota, que foram criadas frentes para aprimorar o programa. Pondera, contudo, que os avanços esbarram em uma “necessidade de ampliação da capacidade das forças de segurança pública” destinadas a atender as demandas de proteção do programa, como escolta, rondas periódicas e outras ações de competência das polícias.

Por conta dessas ausências, ele e mais 49 líderes amazônicos protegidos pelo programa do governo criaram o ‘Instituto Pororoca’, para mobilizar apoio e segurança a eles e às comunidades. Destes 50 líderes, 32 saíram do estado por conta própria e foram para outras regiões do País, sem proteção governamental.

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