Justiça

Mulher dada como desaparecida é resgatada após 21 anos em trabalho análogo à escravidão

Adelaide era procurada pela família desde 2008, quando foi registrada como desaparecida; ela era vigiada 24h por dia sem remuneração ou permissão para sair

Adelaide Alexandrete se reencontra familiares após ser resgatada. Foto: Reprodução/RBS TV
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Uma mulher foi resgatada de uma situação de trabalho análogo à escravidão em uma casa em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Adelaide Alexandrete, de 45 anos, prestava serviços domésticos sem remuneração e estava desaparecida há 21 anos.

Após ser resgatada, Adelaide foi levada para um abrigo municipal. O Ministério Público do Trabalho trabalha para garantir o pagamento de verbas rescisórias pelo empregador, somando 21 anos de serviços domésticos não remunerados.

Em entrevista ao G1, Adelaide descreveu sua rotina de trabalho exaustiva e comparou-a a uma prisão. Ela não tinha a liberdade de sair, mesmo nos finais de semana, e permanecia trabalhando continuamente.

Ela vivia em uma parte da casa separada por duas estantes vazadas, o que permitia a vigilância constante dos patrões. Além disso, era forçada a tomar banho em uma bacia, já que o banheiro disponível não tinha chuveiro.

O MPT informou que Adelaide não teve direito a férias ou descanso semanal remunerado durante todos esses anos.

O procurador Alexandre Maria Raganin relata que o empregador defendeu-se alegando que estava “fazendo um favor a uma pessoa em situação de vulnerabilidade, que não tinha onde residir”. A Polícia Federal aguarda o encaminhamento das informações do caso pelo MPT para decidir se abrirá um inquérito contra ele.

O caso de Adelaide veio à tona depois que um prontuário médico destacou sua condição de extrema ansiedade, a ausência de salário e a falta de liberdade para se movimentar livremente, levantando a questão: “Paciente submetida a trabalho escravo?”

A família de Adelaide a procurava desde 2008, quando o desaparecimento foi registrado na Delegacia da Polícia de Três de Maio, distrito no Noroeste do estado. Sua mãe enviou mais de 170 cartas para programas de TV, sem que Adelaide soubesse que estava sendo procurada.

Este ano, o Ministério do Trabalho e do Emprego publicou dados atualizados sobre casos de trabalho análogo à escravidão relacionados ao tráfico de pessoas em 2022. Foram identificadas 1.970 vítimas dessa prática. Neste mesmo ano, 1.201 trabalhadores foram resgatados em condições semelhantes.

Desde 2016, a Inspeção do Trabalho resgatou 4.888 trabalhadores em situações análogas à escravidão. Em 58% dos casos, as vítimas foram de tráfico interestadual de pessoas, sendo a maioria homens (93%) de etnia predominantemente preta ou parda (85%) e com baixo nível de escolaridade (23%).

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