Política

Militares teriam sido corrompidos por garimpeiros em terra yanomami, aponta jornal

As onformações constam em relatórios da Funai produzidos desde 2019

Militares do Exército em fila. Foto: Acervo 13BIB - Curitiba /PR
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Dois relatórios preliminares da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) produzidos durante a gestão de Marcelo Xavier revelam que militares foram comprados por garimpeiros para serem lenientes com os crimes cometidos em terras yanomamis. Não está claro se ações foram tomadas para conter os criminosos. As informações são do jornal Folha de S. Paulo desta quinta-feira 26.

Conforme mostra o jornal, militares e garimpeiros se relacionavam de maneira amigável desde o início de 2019, quando Jair Bolsonaro assumiu o poder. Os relatos descritos no texto são parte da 5ª fase da Operação Ágata, iniciada naquele mesmo ano.

Segundo o documento, os relatos apontam parentescos entre militares do Exército da região com garimpeiros. Essa relação permitia que informações sobre a realização de operações de combate ao garimpo fossem antecipadas aos criminosos. O vazamento de informações, segundo consta, era feita também com base no pagamento de propina e permitiu que ouro ilegal e drogas circulassem livremente nas terras yanomamis.

“Ao chegar na ‘Currutela do Coito’ […] encontramos o local totalmente vazio, com exceção de um cidadão e sua esposa. Ficou claro que todos sabiam da chegada da tropa e evacuaram o local. A ‘currutela’ ocupa uma área grande, e estava com muito lixo recente, dando a entender que estava totalmente ocupada há pouco tempo”, diz um trecho do texto sobre uma operação realizada em agosto de 2022. Relatos semelhantes foram colhidos desde 2019.

O vazamento de informações era feito, em muitos casos, por um grupo de WhatsApp. De acordo com o documento, era pelo aplicativo de mensagens que os garimpeiros recebiam imagens da saída das tropas e suas direções, podendo assim esvaziar os locais de extração criminosa antes da chegada da fiscalização.

“[Meu chefe] possui diversos militares comprados que trabalham como informantes”, diz uma das fontes em depoimento à Funai. O pagamento, além de dinheiro vivo, é feito em ouro. Em um dos relatos, mostra o jornal, um garimpeiro paga 10 gramas de ouro mensalmente a militares que avisam quando os soldados entram na terra indígena yanomami e quando saem, além de mostrarem as rotas em que irão passar e quantos são os membros da operação.

Segundo a reportagem, há no documento nomes, patentes e até contatos dos militares envolvidos no esquema criminoso. O jornal questionou então quais providências foram tomadas pela Funai durante a gestão bolsonarista de Marcelo Xavier, quando foram colhidas as informações, mas não obteve resposta. O Ministério da Defesa e o Exército também foram procurados, mas não comentaram.

O aumento da atividade criminosa na região e a omissão da gestão Bolsonaro diante da situação é apontado como causador da crise humanitária instalada entre os indígenas nos últimos dias. O presidente Lula visitou a região na semana passada, iniciando as ações do seu governo para conter o drama social no local. Alimentos e atendimento de saúde estão sendo distribuídos e realizados desde então. Nesta quarta-feira 24, Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública, prometeu sufocar financeiramente o garimpo. Uma operação da PF para apurar o suposto genocídio contra os yanomamis também está instalada.

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