Sociedade

Ipea: Briga familiar e desemprego são principais motivos que levam brasileiro a viver em situação de rua

O recorte de raça mostra que 68% das pessoas em situação de rua no Brasil se declaram negros

Próximo ao metrô Santana, os pilares ainda não têm as estruturas "antimendigo". Pessoas em situação de rua permanecem no local
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Brigas com familiares ou companheiros e desemprego são os principais motivos citados por pessoas em situação de rua para explicar sua circunstância. Os dados constam em um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, divulgado nesta segunda-feira 11.

A ruptura de vínculos familiares é apontada por quase a metade das pessoas em situação de rua como o fator determinante para a sua circunstância. Ao todo, 47,3% dos entrevistados fazem este apontamento. O desemprego, por sua vez, é citado por 40,5% das pessoas.

Levando em consideração somente motivos individuais, além da liderança dos problemas com familiares e companheiros, aparecem razões como o alcoolismo e a dependência de outras drogas (30,4%); perda de moradia (26,1%); ameaça e violência (4,8%); distância do local de trabalho (4,2%); tratamento de saúde (3,1%); preferência ou opção própria (2,9%); e outros motivos (11,2%).

Diante dos dados, o estudo conclui que as causas para a situação de rua no Brasil podem ser organizadas em três dimensões:

  1. a exclusão econômica, envolvendo a insegurança alimentar, o desemprego e déficit habitacional nos grandes centros;
  2. a fragilização ou ruptura de vínculos sociais, particularmente vínculos familiares e comunitários, por meio dos quais essas pessoas poderiam ser capazes de obter acolhimento em situações de dificuldade;
  3. e os problemas de saúde, particularmente, mas não somente, aqueles relacionados à saúde mental.

É comum, de acordo com o estudo, que as três dimensões usadas para organizar os dados se manifestem ao mesmo tempo. Por exemplo, metade daqueles que alegam motivações ligadas à saúde também apontam razões familiares para a situação de rua. 44% desses também acrescentam motivações econômicas. Entre aqueles que falam em problemas familiares, 42% também têm motivações econômicas como causa de sua situação de rua e 34% relatam motivos de saúde.

Os motivos que explicam a circunstância de vulnerabilidade também estão relacionados com o tempo de permanência na rua. Os problemas familiares estão associados a um tempo de permanência a maior. Isso ocorre também com os motivos relacionados à saúde, em especial pelo uso abusivo de álcool e outras drogas.

Por outro lado, razões econômicas, como o desemprego, estão associadas a episódios de rua de curta duração. No total, 33,7% da população em situação de rua está nesta condição pelo período de até 6 meses, 14,2% entre seis meses e um ano, 13% entre um e dois anos, 16,6% entre dois e cinco anos, 10,8% entre cinco e 10 anos e 11,7% há mais de 10 anos.

O levantamento ainda aponta que 70% da população em situação de rua mora no mesmo estado em que nasceu. Além disso, embora as mulheres sejam somente 11,6% da população adulta em situação de rua, representam 35% das responsáveis familiares entre a parcela que vive com as famílias nessas circunstâncias.

Falta de documentos

Entre os adultos, 29% não têm título de eleitor e 24% não possuem carteira de trabalho. Apenas 58% das crianças e adolescentes de 7 a 15 anos e em situação de rua frequentam a escola. Pelo menos 69% da população adulta em situação de rua realiza alguma atividade para conseguir dinheiro, mas apenas 1% tinha um emprego com carteira assinada.

O recorte de raça mostra que 68% das pessoas em situação de rua se autodeclaram negros, entre os brancos são 31,1%. O tempo médio de escolaridade entre negros em situação de rua também é menor do que entre os brancos nas mesmas circunstâncias.

O estudo foi elaborado visando colaborar com a criação de um plano de ação e monitoramento para a população em situação de rua. A elaboração de uma política pública eficaz para essa população foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal em julho.

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