Economia
Fome cresce no Brasil e atinge 33,1 milhões de pessoas em 2022
Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar mostra que só 4 entre 10 famílias conseguiram pleno acesso à alimentação durante a pandemia

O Brasil retrocedeu no que diz respeito a segurança alimentar, mostra o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado nesta quarta-feira 8. De acordo com os dados, são 33,1 milhões de pessoas que passam fome no País, mesmo patamar de 30 anos atrás.
O levantamento aponta ainda que, em menos de um ano, 14 milhões entraram em situação de vulnerabilidade alimentar. Isso significa que 6 a cada 10 brasileiros convivem com algum grau de insegurança alimentar.
Segundo os pesquisadores, a continuidade do desmonte de políticas públicas, a piora no cenário econômico, o acirramento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia da Covid-19 tornaram o quadro ainda mais perverso.
“A pandemia surge neste contexto de aumento da pobreza e da miséria, e traz ainda mais desamparo e sofrimento. Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país”, afirma Ana Maria Segall, médica epidemiologista e pesquisadora da Rede PENSSAN.
Em números absolutos, são 125,2 milhões de brasileiros que passaram por algum grau de insegurança alimentar, um aumento de 7,2% desde 2020, e de 60% em comparação com 2018.
Entre os mais impactados estão os brasileiros que vivem nas regiões Norte e Nordeste. Os índices das duas regiões são expressivamente maiores que a média nacional, chegando a 71,6% e 68% respectivamente. Isso significa que a fome faz parte do dia a dia de 1 em cada 4 famílias das regiões.
É também nas áreas rurais que a insegurança alimentar está mais presente, atingindo 60% dos domicílios, inclusive os lares de agricultores familiares e pequenos produtores.
A fome no Brasil também tem cor: Cerca de 65% dos lares comandados por pessoas pretas e pardas convivem com algum nível de restrição alimentar. Em comparação com a pesquisa anterior, a fome saltou de 10,4% para 18,1% entre os lares comandados por pretos e pardos.
“Temos desigualdades históricas do país que nunca foram resolvidas: rural e urbana, homem e mulher, brancos e negros. E essas desigualdades se reproduzem na questão da fome”, explica a médica sanitarista Ana Maria.
Em lares com renda superior a um salário mínimo por pessoa, diz o relatório, a fome quase desaparece.
Entre os desempregados, a situação é mais preocupante: 1 de cada 3 brasileiros já fez algo que lhe causou vergonha, tristeza ou constrangimento para conseguir alimento. O dado corresponde a 5,9 milhões de famílias no Brasil obrigadas a usar de meios social e humanamente inaceitáveis para obtenção de alimentos.
O cenário apontado pela pesquisa está diretamente relacionado com os altos índices de desemprego e um processo estruturado de precarização do trabalho e informalidade.
Soma-se a esta realidade a perda do poder aquisitivo causado pela inflação, que atinge prioritariamente os alimentos, e ao desmonte proposital do Conab durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), que deixou de estocar alimentos, com políticas públicas insuficientes para garantir a comida no prato do brasileiro.
A pesquisa foi realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) e teve execução em campo do Instituto Vox Populi. A Ação da Cidadania, a ActionAid Brasil, a Fundação Friedrich Ebert Brasil, o Ibirapitanga, a Oxfam Brasil e o Sesc são organizações apoiadoras e parceiras dessa iniciativa.
Os dados foram coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir de entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais, de 577 municípios, dispostos em 26 estados e no Distrito Federal.
Leia também

Governo Bolsonaro destrói programa alimentar mesmo com avanço da fome, diz site
Por CartaCapital
7,8 milhões de pessoas na América Latina correm risco de insegurança alimentar, diz Cepal
Por AFP
Não culpe a pandemia e a guerra pela inflação dos alimentos no Brasil
Por O Joio e o TrigoUm minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.