Sociedade

Enquanto Bolsonaro discursava, os Munduruku eram atacados (mais uma vez) pelo garimpo

Garimpeiros e indígenas aliciados pelo garimpo protagonizam investidas contra as terras da tribo; MPF aponta falta de fiscalização

Povo Munduruku durante mobilização, em Brasília (Foto: Adi Spezia/Cimi)
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Enquanto o presidente da República, Jair Bolsonaro, discursava na Cúpula de Líderes do Clima, o conflito entre povos indígenas e garimpeiros no sudoeste do Pará se intensificava. Somente nesta semana, garimpeiros e índios pró-garimpo atacaram duas vezes o espaço de encontro das mulheres munduruku — que lutam contra a invasão do garimpo ilegal —  na cidade de Jacareanga. Também foram roubados um motor de barco e 830 litros combustível na cidade.

Segundo relatos, é a terceira vez que a entidade é atacada pelo mesmo grupo em menos de um mês, e um Segundo uma fonte que estava no local, policiais militares estavam no local e um dos invasores teria inclusive filmado o crime. Temerosos, os moradores da terra indígena relatam ameaças de morte e a destruição do meio ambiente.

Só em 2020, foram desmatadas nas terras Munduruku e Sai Cinza, no alto Tapajós, áreas equivalentes a mais de dois mil campos de futebol. A terra indígena Munduruku perdeu, segundo o INPE, 2.052 hectares de floresta para o garimpo ilegal.

O aumento da violência levou o Ministério Público Federal regional a, mais uma vez, pedir que o governo federal, estadual e os órgãos de fiscalização ajudem a conter a violência. Um dia antes do ataque, o MPF também havia avisado as autoridades do risco, mas nenhuma medida foi tomada.

A sede da Associação de Mulheres Munduruku após os ataques (Foto: Divulgação)

Nos diversos ofícios enviados pela procuradoria estão registradas a ausência completa de ações de fiscalização e proteção. “A desidratação dos órgãos de fiscalização e controle e a omissão dos órgão estatais no combate a atividades ilegais na Amazônia contribuiu decisivamente para a escalada da violência na região”, afirma o procurador do Pará, Gabriel Dalla. “O que temos visto é uma espécie de campanha, inclusive violenta, pela ‘legitimação’ dessas atividades, que se alimenta justamente das omissão das autoridades públicas.”

Segundo relatos, índios pró-garimpo armados, aliciados pelo empresariado, têm avançado sobre as terras indígenas com total anuência do governo federal – que já figura até como réu em uma ação civil pública por omissão no combate ao crime organizado dentro da Amazônia, como relatou CartaCapital.

A situação relatada pelo MPF levou a Polícia Federal a realizar a operação Divitia 709, que executou dois mandados de busca e apreensão contra um empresário acusado de emprestar aeronaves a garimpeiros. O empresário está foragido.

Enquanto Bolsonaro, confortavelmente sentado ao lado de Ricardo Salles, dizia na cúpula do clima que iria dobrar o orçamento dos órgãos de fiscalização e controle, o Ibama anunciava a paralisação inédita de três dias da fiscalização. A greve é resposta a uma mudança nas regras do sistema de multas que, segundo os funcionários, inviabiliza a fiscalização ambiental.

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