Sociedade

Covid-19: SP está ‘entre o estável e o começo da subida’, alerta pesquisador

Para Roberto Kraenkel, do Observatório Covid-19 BR, governo federal ‘desistiu de combater’ o coronavírus

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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Usar o termo “segunda onda de Covid-19” para o Brasil pode ser arriscado, mas alguns estados e municípios apresentam uma “mudança de tendência claramente definida”, enquanto o governo federal está “cego” e “desistiu de combater” o coronavírus. A análise é de Roberto Kraenkel, professor do Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pesquisador do Observatório Covid-19 BR.

“O Brasil, como um todo, é um conjunto de epidemias, cada uma em um estágio. Certamente existem estados e municípios com um grande problema, como Santa Catarina e a cidade de Florianópolis, onde claramente há um crescimento de casos muito grande. Chamar isso de segunda onda ou não é um tanto bizonho. O caso de Florianópolis é emblemático no Brasil”, afirma Kraenkel.

Na terça-feira 17, Santa Catarina ultrapassou a marca dos 300 mil casos confirmados. A taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da rede pública subiu e chegou a 76,39%. O estado tem três regiões consideradas de nível de risco “gravíssimo” e outras 13 em situação “grave”.

“Sobre o estado de São Paulo, o que se vê a partir dos dados públicos que podem ser analisados com maior certeza é que havia uma queda no número diário de casos, mas eles pararam de cair, e São Paulo está numa situação entre o estável e o começo de uma subida. Isso é o que se vê diretamente dos dados das internações, ou seja, das pessoas que têm a tal da Síndrome Respiratória Aguda Grave – a grande maioria desses casos é de Covid. Há uma mudança de tendência claramente definida também para a cidade de São Paulo, analisa.

Nesta quinta-feira 19, o governo de São Paulo anunciou que publicará um decreto determinando que hospitais não desmobilizem leitos criados para atender pacientes infectados pelo novo coronavírus. Além disso, a gestão de João Doria (PSDB) decidiu suspender novos agendamentos de cirurgias eletivas de outras doenças.

Na segunda-feira 16, o governo estadual admitiu que as internações de casos suspeitos e confirmados de Covid-19 na última semana epidemiológica (entre 8 e 14 de novembro) subiram 18%.

Segundo Roberto Kraenkel, “pode ser um repique momentâneo ou o início de uma situação grave”, mas “qualquer um que afirmar com grande certeza o que vai acontecer no próximo mês ou dois vai estar chutando”.

Questionado sobre o momento em que estados e municípios abrandaram medidas restritivas como fechamento de comércio e de escolas, Kraenkel pondera que o Brasil, para além dessa discussão, deveria instituir “uma forma de ter mais testes e de achar quem é que infectou outras pessoas, ou seja, rastrear a cadeia de infecção. E isso não foi feito em lugar algum no Brasil, uma grande diferença em relação a países europeus”.

“O nosso sistema de vigilância é manco, porque responde apenas ao sujeito que está doente agora, mas você poderia muito ter encontrado outras pessoas se tivesse achado a cadeia de contágio”.

Também em contraponto a alguns países europeus, o Brasil não conseguiu reduzir de forma consistente os números diários da pandemia antes de ter de lidar, novamente, com o risco de crescimento dos casos, das internações e das mortes pelo novo coronavírus.

Para Kraenkel, o caso brasileiro só não é único no mundo porque encontra similaridades com o cenário nos Estados Unidos, governados por Donald Trump. “Temos um país imbatível, que são os Estados Unidos, que conseguem ser piores que a gente em relação a isso. Os Estados Unidos têm a mesma descoordenação do Brasil. O governo federal do Brasil desistiu de combater a epidemia, quase desde o começo. Desistiu, simplesmente. É uma irresponsabilidade sem tamanho o governo federal não tentar fazer uma coordenação de esforços para mitigar [os danos]. A mesma coisa aconteceu nos Estados Unidos. O governo federal abandonou completamente a luta contra a epidemia”, declara.

De acordo com o pesquisador, não há “nenhuma indicação de que o governo federal mudará de postura”.

“O governo federal continua insistindo no ‘tratamento precoce’, que é uma coisa que não existe em lugar nenhum do mundo. Isso é uma falácia absoluta. O governo brasileiro não dará nenhum passo porque está cego em relação à realidade, então, sou pessimista de que haja qualquer tipo de coordenação do governo federal do Brasil”, completa.

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