Sociedade

Ameaçada, viúva de sargento morto no Riocentro buscou indenização

Ao Ministério Público Federal, Suely José do Rosário afirmou que seu marido foi vítima e morto por queima de arquivo

Perícia sobre o automóvel que a bomba em direção ao Riocentro
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Em depoimento a procuradores do Ministério Público Federal, Suely José do Rosário, viúva do sargento Guilherme do Rosário, morto no atentado ao Riocentro, contou ter sido pressionada logo após a morte de seu marido. “Fui ameaçada no dia em que enterrei meu marido. Não deram tempo nem para eu chorar a sua morte. Quem me ameaçou foi ‘Dr. Luís’, do DOI-Codi. Ele disse: ‘A senhora vai ser chamada para depor. Veja bem o que irá falar. A senhora será acompanhada, e lembre-se de que tem dois filhos para criar’”, contou ela sobre uma conversa ocorrida em 1981, ano do atentado a bomba no Riocentro. A partir de então, ela lembrou, “sempre me senti vigiada”.

Casada por 18 anos com o sargento Rosário, Suely tinha dois filhos com o militar que era paraquedista e, posteriormente, foi destacado para trabalhar no DOI-Codi. “Na brigada ele servia fardado”, afirmou. “No DOI, quando ele foi cedido, ia à paisana.

Apesar de Rosário ter morrido com uma das bombas planejadas para explodir no show do Dia do Trabalhador, no dia 30 de abril de 1981, no Riocentro, Suely disse desconhecer que seu marido tenha feito cursos ou fosse um especialista em explosivos.

Cronologia. Segundo depoimento de Suely (Disponível AQUI), naquele 30 de abril o combinado era que ela e o marido fossem visitar um conhecido no hospital, mas Rosário ligou dizendo que não poderia ir. “Marcaram uma reunião’, ele disse com uma voz muito chateada. Ele me ligou de novo umas 18 horas, perguntou do Jorge (colega hospitalizado) e disse: ‘Lá pelas 21h eu estou chegando’, e não chegou.”

Foi quando Suely colocou os filhos para dormir, deitou, mas não conseguia cair no sono. Acordou com duas pessoas do Exército à sua porta. Um lhe entregou um crucifixo, e ela logo se desesperou: “Cadê o Guilherme?!”.

Os militares conduziram Suely e seus dois filhos ao Hospital Central do Exército, quando o corpo, de acordo com o depoimento, já se encontrava no IML. “Tentaram me dar água, depois tentaram aplicar uma injeção em mim dizendo que eu estava nervosa”, lembrou. “Ele não foi para o HCE. Mentiram para mim. Deduzo que tentaram me levar para lá para me dopar.”

Três anos depois da morte de seu marido, Suely tentou pedir indenização ao Estado. A ideia era recorrer à Justiça para tentar uma promoção póstuma do marido – que à época era sargento – ao posto de general e pedir uma reparação, uma vez que Rosário estava a serviço do Exército “cumprindo ordens” quando morreu.

De acordo com o advogado Jesse Velmovitsky, que representou a viúva na ação, se Rosário não tivesse morrido no Riocentro, ele teria um desenvolvimento normal da carreira militar. “Alguns colegas dele chegaram ao posto de general”, observou em entrevista a CartaCapital. Um desembargador, no entanto, indeferiu o pedido.

“Uma coisa que não entendo é por que o capitão continua no Exército e recebendo as promoções normalmente e a mim foi vedado esse direito”, questionou Suely diante dos procuradores do grupo Justiça de Transição do MPF, que em fevereiro apresentaram uma nova denúncia sobre o caso Riocentro (saiba mais AQUI)

Apesar de as investigações responsabilizarem o capitão Wilson Machado e o sargento Guilherme do Rosário pelo atentado ao Riocentro, Suely ressaltou que seu marido “foi uma vítima” e não culpado. “Quem conheceu ele diretamente, quem conviveu com ele, sabia que ele não era nada disso. Era uma pessoa super-humana, que tomava a defesa de pessoas injustiçadas”, disse. “Eu o conheci com 16 anos. Para mim, ele foi morto como queima de arquivo.”

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