Saúde

Vacinar leva meses, o Brasil precisa do confinamento, afirma especialista

Dada a inércia do governo federal, avalia Daniel Dourado, estados e municípios terão de assumir o protagonismo na imposição da medida

Aglomeração na Praia do Rosa, em Imbituba (SC), em outubro, em meio à pandemia da Covid-19. Foto: Divulgação/Prefeitura de Imbituba
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O Brasil ultrapassou na quinta-feira 7 a marca de 200 mil mortes por Covid-19. São 200.498 óbitos, segundo o mais recente boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde. O total de casos ultrapassa os 7,9 milhões. Em meio a um cenário tão dramático, o noticiário sobre as vacinas renova as esperanças de muitos brasileiros.

O Instituto Butantan pediu oficialmente à Anvisa autorização para o uso emergencial da Coronavac, desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac. Segundo o governo de São Paulo, o imunizante teve uma eficácia de 78% na prevenção de casos leves e ofereceu ainda proteção total, de 100%, contra mortes, casos graves e internações. A agência também deve analisar em breve o uso emergencial da vacina Oxford/AstraZeneca.

Até que o programa de vacinação seja executado em larga escala, contudo, o Brasil terá que impor um rígido controle sobre a circulação de pessoas para arrefecer a disseminação do coronavírus. O alerta é de Daniel Dourado, médico e advogado sanitarista do Centro de Pesquisa em Direito Sanitário da USP.

“Uma coisa que precisa estar no horizonte de 2021 é a necessidade de medidas de saúde pública. O Reino Unido, por exemplo, já está vacinando, mas precisou impor um lockdown. É o esperado, mesmo em países que estão vacinando. Em uma estimativa conservadora, o Brasil vai precisar vacinar, em duas doses, no mínimo 150 milhões de habitantes. Isso vai demorar meses, talvez o ano inteiro”, afirmou Dourado a CartaCapital. “Mesmo que a gente pense só nos grupos prioritários, são ali entre 50 e 55 milhões de pessoas. Até esses grupos serem vacinados, vão uns bons meses. Nesse meio tempo, não há outro jeito: a única maneira de segurar [a transmissão] é tomar aquelas medidas que ninguém quer, mas que são necessárias: distanciamento físico, fechamento de comércio, universidade, escola. É preciso diminuir o contato entre pessoas.”

Uma medida indispensável, alerta, já começa a ser negligenciada: o uso de máscaras.

“Os países que conseguem controlar a segunda onda adotaram uma estratégia massiva do uso de máscaras. Os governos fazem uma comunicação clara e direta, explicando a necessidade daquilo. Mas há fiscalização e há multa. Aqui na França, todo mundo usa máscara. Quem for pego sem máscara toma uma multa. Se for pego duas vezes, a multa é em dobro. As autoridades precisam incorporar essas medidas. Aqui na França tem toque de recolher, inclusive nas festas de fim de ano. No Brasil em 2021, vai precisar. Precisamos voltar a falar disso”, alertou.

Para o especialista, entretanto, os estados e municípios terão de assumir a dianteira, já que o governo de Jair Bolsonaro não parece disposto a defender medidas recomendadas por especialistas para reduzir os índices de contaminação da população.

“No começo a gente dizia ‘não sei quanto tempo o Bolsonaro vai conseguir segurar esse discurso’. Mas segurou por dez meses. Não dá para duvidar de que vai continuar apostando nessa conversa sem pé, nem cabeça de tratamento precoce. Nenhum dos medicamentos testados funciona, não adianta”, acrescentou Dourado.

Apesar das expectativas de um amplo programa de vacinação contra a Covid-19, o ano será de grandes desafios.

“Temos uma estrada longa pela frente. A vacina é o começo do fim, mas a gente precisa organizar, estruturar, vacinar todo mundo. E nisso vai o ano inteiro. Nesse meio tempo, terão de ser adotadas as medidas de saúde pública – e o confinamento está nesse cenário”, reforça.

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