Saúde

Luta contra a nova cepa do coronavírus no Brasil esbarra em vigilância ineficiente

Segundo o epidemiologista Otavio Ranzani, não há dados do avanço local de variantes: ‘Fica difícil saber se já está tomando conta dos casos’

Praia Grande (SP) foi palco de aglomerações no início de 2021. Foto: Reprodução/ TV Tribuna
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O governo de São Paulo confirmou na segunda-feira 4 os dois primeiros casos registrados no Brasil da variante do novo coronavírus identificada no Reino Unido no fim de 2020. Os infectados são uma mulher de 25 anos, que teve contato com viajantes que passaram pelo território britânico, e um homem de 34 anos, ligado à primeira paciente.

Para Otavio Ranzani, médico epidemiologista e intensivista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e do Instituto de Saúde Global de Barcelona, na Espanha, o perigo da chegada dessa variante é grande, dada sua capacidade de disseminação.

“Está demonstrado que essa variante tem um poder de transmissão maior. E também já tem experimento de laboratório mostrando que ela tem uma afinidade maior. Ela se atraca melhor ao receptor”, analisa Ranzani a CartaCapital. O governo britânico estima que a variante seja até 70% mais transmissível. Segundo um estudo da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, a nova cepa da Covid-19 é “entre 50% e 74%” mais contagiosa. “A grande dúvida é se ela realmente conseguirá ser mais transmissível em crianças, uma suspeita do Reino Unido”, completa.

A Prefeitura de São Paulo contabilizou, até esta terça-feira 5, mais de 492 mil casos e cerca de 15.800 mortes pela Covid-19 . No entanto, reforça Ranzani, o avanço na nova variante pode acelerar ainda mais a transmissão da pandemia, tornando necessárias medidas de distanciamento social mais restritivas.

“Nos grandes centros… Em São Paulo, por exemplo, o cenário pode ficar ainda mais catastrófico – e mais rapidamente. Na África do Sul, no Reino Unido e na Irlanda, essa subida tem sido mais que exponencial. Pode ser que, em breve, seja necessário [adotar mais medidas restritivas]. Mas pode ser que seja tarde, se a maioria [dos novos casos] for da nova variante. O problema é que, no Brasil, não há esse tipo de vigilância por variante. Fica difícil saber se ela já está tomando conta dos casos ou não”, aponta.

Em relação às chances de a nova cepa colocar em xeque a eficácia das vacinas, Ranzani vê ainda um cenário ainda de incerteza. O mais indicado, avalia, é manter as medidas convencionais de proteção contra a Covid-19.

“A melhor coisa que a gente tem para evitar mutações é evitar a transmissão do vírus. Usar máscara, lavar as mãos, manter o distanciamento físico, ficar em local ventilado. Quanto menos transmissão houver, menor a chance de se o vírus se mutar.”

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