Política

Voto impresso terá derrota acachapante no plenário, com ou sem tanques, diz vice da Câmara

A CartaCapital, Marcelo Ramos (PL-AM) avalia que Bolsonaro manterá o ‘discurso irresponsável’, mas perderá a capacidade de mobilização

Voto impresso terá derrota acachapante no plenário, com ou sem tanques, diz vice da Câmara
Voto impresso terá derrota acachapante no plenário, com ou sem tanques, diz vice da Câmara
Marcelo Ramos e Jair Bolsonaro. Fotos: Câmara dos Deputados e Sergio Lima/AFP
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O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), avalia que o presidente Jair Bolsonaro sofrerá nesta terça-feira 10 uma “derrota acachapante” em sua tentativa de aprovar, no plenário da Casa, a PEC do Voto Impresso, de autoria da bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF).

CartaCapital, Ramos também minimizou o impacto do desfile de tanques da Marinha em Brasília nesta terça – com a participação de Bolsonaro – e elogiou a reação do Poder Judiciário às ameaças e aos ataques do presidente às instituições brasileiras.

A decisão de levar a PEC do Voto Impresso a plenário mesmo após uma comissão especial da Câmara rejeitá-la foi anunciada na última sexta-feira 6 pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Nesta segunda, após uma reunião de líderes, Lira incluiu a análise da proposta na pauta desta terça.

Mais cedo, o presidente da Câmara afirmou à Rádio CBN que, independentemente do resultado da votação da PEC, é necessário que a decisão seja aceita por vencedores e derrotados. “Temos que ter o compromisso em relação ao respeito do resultado. Já temos uma PEC dessa aprovada desde 2015 e o Senado nunca quis se debruçar. Não legislar também é legislar”, acrescentou.

Leia abaixo a entrevista com o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos:

CartaCapital: O senhor projeta uma derrota de Bolsonaro no plenário?

Marcelo Ramos: Projeto uma derrota acachapante. Acho que não faz 200 votos.

CC: O anúncio de que Bolsonaro participará de um desfile de tanques de guerra nesta terça é uma tentativa de intimidar a Câmara?

MR: Se for uma intimidação, ótimo, porque será ótimo dar uma lição de que um Parlamento independente e ciente de suas responsabilidades constitucionais é mais forte que tanques na rua. A questão não é se será uma derrota acachapante, mas se será uma derrota acachapante com tanques na rua ou sem tanques na rua. Eu acho que com tanques na rua pegará muito mal para o Exército, para as Forças Armadas.

CC: Bolsonaro aceitará o resultado da votação de terça? Lira acha que sim…

MR: Ele vai seguir com esse discurso irresponsável, que tenta colocar em xeque a democracia e o sistema de votação, até para começar uma narrativa de justificar uma provável derrota [em 2022], mas ele perderá sua capacidade de mobilizar em torno disso. Porque rejeitada a PEC não há nenhum outro instrumento legislativo que possa fazer essa matéria voltar à discussão.

CC: É correta a decisão de levar a PEC ao plenário após a rejeição na comissão especial?

MR: Sim, por três motivos: primeiro, porque é regimental, então regimentalmente tem de levar a plenário; segundo, uma decisão de plenário pacifica melhor a sociedade, já que, ainda que alguns sigam atacando o Parlamento e o sistema eletrônico, você tem uma decisão mais legítima, pois é uma decisão de 513, não de 34; terceiro, porque sinceramente vou criando a convicção de que nesses temas polêmicos a sociedade tem o direito de saber como cada deputado votou. Eu quero votar contra e ter o meu voto contra publicado em todas as listas. Porque sei que votar contra isso é reafirmar a democracia e a confiança no nosso sistema de votação.

CC: Bolsonaro elevou o tom das ameaças e dos ataques, mas houve uma reação do Judiciário. Como o senhor avalia essa resposta?

MR: A resposta do Judiciário tem duas características fundamentais: primeiro, ela é dura, responde com dureza um ataque que não tem outra forma de ser respondido; segundo, é dura, mas dentro dos limites da institucionalidade e das quatro linhas da Constituição. O fato de ele [Bolsonaro] sair da institucionalidade para atacar um Poder e o outro Poder reagir duramente, mas dentro da institucionalidade, diz muito sobre a diferença de conduta entre um e outro.

CC: Sem o ‘voto impresso’ em 2022, o senhor teme reações violentas de Bolsonaro e seus apoiadores em caso de derrota nas eleições?

MR: Vivemos o maior período de experiência democrática da história do nosso País. Nesse período passamos por dois impeachments e várias crises, mas as instituições se reafirmaram. Que há a tendência de um grupelho de amalucados tentar alguma atitude agressiva no caso de derrota de Bolsonaro, não tenho dúvida. Mas que isso será prontamente reprimido pelas instituições e pelas forças naturais da democracia, também não tenho dúvida.

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