Política
Torres diz à PF que não sabia de ‘ações radicais’ antes de 8/1; intervenção, porém, divulgou alerta
O relatório aponta que a Secretaria de Segurança Pública foi avisada em 6/1 sobre risco de invasão do Congresso
O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres afirmou à Polícia Federal, nesta quinta-feira 2, ter sido avisado em 6 de janeiro de que a manifestação bolsonarista marcada para dois dias depois não teria “ações radicais”. A informação contrasta com o que revelou o relatório da intervenção federal no DF.
A TV Globo obteve trechos do depoimento de Torres, que se estendeu ao longo de todo o dia.
“Que indagado se recebeu informações ou informe de inteligência sobre as manifestações que ocorreriam no dia 08/01, respondeu que recebeu essas informações no dia 06/01, pela manhã. Que essas informações não indicavam ações radicais. Que no dia 06/01 estava ocorrendo uma reunião convocada pela secretaria de operações integradas com os seguintes órgãos: PMDF, PCDF, CBMDF, DETRAN, DF Legal”, relatou Torres à PF.
Alegou, ainda, que “antes de assinar analisou integralmente o protocolo de ações integradas e verificou que dentro das atribuições da SSP constavam todas as diretrizes necessárias para que os órgãos de segurança pública realizassem seus deveres, com as informações que estavam disponibilizadas até então”.
O relatório produzido pela intervenção da União no DF e divulgado no fim da semana passada aponta, porém, que a Secretaria de Segurança Pública, então comandada por Torres, foi avisada em 6 de janeiro sobre o risco de invasão do Congresso Nacional. Dois dias mais tarde, terroristas bolsonaristas invadiram e depredaram o prédio do Legislativo e repetiram a ação no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal.
“As divulgações apresentam-se de forma alarmante dada a afirmação que a tomada de poder ocorreria, principalmente com a invasão ao Congresso Nacional”, diz o Relatório de Inteligência nº 006/2023, entregue na antevéspera dos atos golpistas ao gabinete de Torres.
Segundo o relatório da intervenção, “pode-se concluir que não houve falta de informações e alertas sobre os riscos da manifestação”.
O documento de inteligência enviado a Torres às 17h de 6 de janeiro ainda reforçava haver:
- possibilidade de invasão e ocupação de órgãos públicos;
- participação de grupos com intenção de ações adversas, bem como orientação de que o público participante fosse de adultos em boa condição física;
- participação de pessoas que pertenceriam ao segmento de Colecionadores, Atiradores e Colecionadores;
- possíveis ações de bloqueios em refinarias e/ou distribuidoras.
Torres também declarou à PF, segundo a TV Globo, que a minuta golpista encontrada em sua casa é um documento “descartável” e “sem viabilidade jurídica”.
A proposta de decreto serviria para o então presidente Jair Bolsonaro (PL) declarar estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral. O objetivo seria reverter o resultado do pleito de 2022, do qual Lula (PT) saiu vencedor no segundo turno.
O documento foi apreendido em um armário de Torres durante ação de busca e apreensão realizada em 10 de janeiro, em Brasília.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.