Política

Gabinete de Torres foi alertado sobre risco de invasão do Congresso em 6 de janeiro, atesta documento

Segundo o relatório da intervenção no DF, ‘não houve falta de informações e alertas sobre os riscos da manifestação’

Anderson Torres e Jair Bolsonaro. Foto: Evaristo Sá/AFP
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O relatório produzido pela intervenção da União no Distrito Federal aponta que a Secretaria de Segurança Pública, então comandada por Anderson Torres, foi avisada em 6 de janeiro sobre o risco de invasão do Congresso Nacional. Dois dias depois, terroristas bolsonaristas invadiram e depredaram o prédio do Legislativo e repetiram a ação no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal.

O interventor Ricardo Cappelli apresentou nesta sexta-feira 27 o documento, a listar falhas operacionais em 8 de janeiro.

“As divulgações apresentam-se de forma alarmante dada a afirmação que a tomada de poder ocorreria, principalmente com a invasão ao Congresso Nacional”, diz o Relatório de Inteligência nº 006/2023, entregue na antevéspera dos atos golpistas ao gabinete de Torres.

Segundo o relatório da intervenção, “pode-se concluir que não houve falta de informações e alertas sobre os riscos da manifestação”.

O documento de inteligência enviado a Torres às 17h de 6 de janeiro ainda reforçava haver:

  • possibilidade de invasão e ocupação de órgãos públicos;
  • participação de grupos com intenção de ações adversas, bem como orientação de que o público participante fosse de adultos em boa condição física;
  • participação de pessoas que pertenceriam ao segmento de Colecionadores, Atiradores e Colecionadores;
  • possíveis ações de bloqueios em refinarias e/ou distribuidoras.

Horas antes da divulgação do relatório da intervenção, Ricardo Cappelli afirmou que uma praxe da Secretaria de Segurança Pública em relação a protestos é a produção de um plano de ações integradas. Essas diretrizes se desdobram em planos operacionais ou ordens de serviço, termos técnicos utilizados para definir a linha de ação da segurança pública.

“No evento do dia 8, isso não aconteceu”, apontou. “Não há plano operacional, nem ordem de serviço, de forma que não há registro de quantos homens iriam a campo. Houve apenas um repasse burocrático do ofício recebido para algumas unidades pelo Departamento de Operações, e isso é central, porque quem faz esse planejamento é o DOP da Polícia Militar.”

Na prática, explicou Cappelli, o chefe em exercício do DOP, coronel Paulo José, encaminhou “burocraticamente” esse memorando a algumas unidades. “Não houve plano operacional ou ordem de serviço, apenas o memorando encaminhado, e esse memorando não acionou batalhões, nem chegou a batalhões importantes. Há uma falha operacional, porque o relatório de inteligência que existe não gera o desdobramento operacional adequado.”

De acordo com o relatório da intervenção, a ação golpista teve início às 13h03 de 8 de janeiro, quando bolsonaristas deixaram o acampamento instalado em frente ao quartel-general do Exército em direção à Praça dos Três Poderes.

Confira uma linha do tempo resumida:

  • 13h03: bolsonaristas saem do acampamento e iniciam a marcha;
  • 13h50: na Torre de TV, golpistas danificaram um veículo que passava pela marcha com pauladas e agrediram um dos ocupantes do automóvel;
  • 14h: na altura da sede do Ministério da Defesa, um manifestante foi detido portando facão, estilingues e esperas metálicas;
  • 14h10: bolsonaristas que passavam pela Torre de TV foram detidos portando estilingues, bolas de gude, balaclava e isqueiros. Uma testemunha afirmou ter ouvido um deles dizer que iria “quebrar tudo”;
  • 14h25: na altura da ERB, um manifestante foi detido portando balaclava, estilingues, segmentos de madeira, pedaços de tecido com vinagre, bolas de gude e esferas de estanho. Alegou que manifestantes tinham a intenção de invadir o Congresso Nacional;
  • 14h25: antes da linha de revista da PM-DF, foram apreendidos rojões, tesouras, máscaras antigás, estilingues, bolas de gude, estiletes, canivetes e fracos com gás e com líquidos inflamáveis;
  • 14h30: ao passarem pelo Estádio Nacional, manifestantes foram detidos portando óculos de esqui, material cortante/perfurante, estacas de madeira, estilingues e bolas de gude;
  • 14h43: golpistas romperam o gradil e iniciaram a invasão do Congresso.

Torres foi preso em 14 de janeiro, ao retornar dos Estados Unidos, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

A ordem de prisão foi publicada em 10 de janeiro, dois dias depois de bolsonaristas praticarem atos de terrorismo em Brasília. A decisão de Moraes foi, posteriormente, chancelada pelo plenário do STF. O documento menciona “descaso e conivência” de Torres “com qualquer planejamento que garantisse a segurança e a ordem no Distrito Federal”.

O comportamento de Torres, afirmou Moraes, “só não foi mais acintoso do que a conduta dolosamente omissiva do Governador do DF, Ibaneis Rocha”. O emedebista foi afastado do cargo por 90 dias ainda na noite do domingo 8, também por decisão de Moraes, confirmada pelo plenário.

Leia a íntegra do relatório:

1 RELATÓRIO FINAL

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