Política

RSF considera Brasil como país “problemático” por fake news e ataques de Bolsonaro à imprensa

O Brasil permanece como o segundo país da região mais perigoso para o exercício da profissão, com um balanço de pelo menos 30 jornalistas assassinados na última década

(Foto: Isac Nóbrega/PR)
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O Brasil subiu uma posição no ranking de países que respeitam a liberdade de imprensa, classificado em 110° lugar em uma lista de 180 nações pesquisadas, segundo levantamento anual da Repórteres Sem Fronteiras. Em seu relatório de 2022, divulgado nesta terça-feira (3), a entidade lamenta “a violência estrutural” persistente contra jornalistas no país. Diminuir o peso da desinformação é um dos grandes desafios para o avanço da liberdade de imprensa no Brasil, diz a RSF.

No dia internacional da liberdade de imprensa, celebrado em 3 de maio, há pouco para se comemorar no Brasil. “O cenário da mídia brasileira continua marcado por uma forte concentração [da iniciativa] privada, caracterizado por uma relação quase incestuosa entre os poderes político, econômico e religioso”, resume a RSF. “O trabalho independente dos jornalistas é constantemente atacado, e a imprensa está sujeita a forte interferência do governo”, constata a organização.

A chegada de Jair Bolsonaro ao poder, em 2018, piorou significativamente o cotidiano da profissão. “O presidente ataca regularmente a imprensa, mobilizando exércitos de apoiadores em redes sociais, em uma estratégia (…) destinada a desacreditar a mídia, apresentada como inimiga do Estado”, explica o relatório. Apesar de a Constituição de 1988 garantir o direito à liberdade de imprensa no país, a estrutura de radiodifusão e telecomunicações é antiga, permissiva e ineficaz, avalia a RSF.

A ONG nota que a diversificação de negócios promovida pelos principais grupos de mídia brasileiros, para enfrentar a concorrência das plataformas online, tem aumentado o potencial de conflitos de interesse e perda de independência editorial. “A imprensa local está cada vez mais enfraquecida”, constata o relatório.

Bolsonaro envenena o debate público

A virulência dos ataques do governo Bolsonaro contra profissionais da imprensa contribuiu para o fortalecimento da hostilidade e da desconfiança na sociedade. Além disso, a extrema direita recorre à desinformação para envenenar o debate público, critica a ONG.

Em relação à segurança, o Brasil permanece o segundo país da região mais perigoso para o exercício da profissão, com um balanço de pelo menos 30 jornalistas assassinados na última década. Os mais vulneráveis são jornalistas que trabalham em blogues, apresentadores de rádio e jornalistas independentes que fazem investigações sobre corrupção e política local, principalmente em cidades pequenas e médias. A violência contra as jornalistas mulheres também está em alta.

Desinformação e tensões internacionais

O “caos das informações” e a desinformação alimentam as tensões internacionais e as divisões na sociedade, alerta a RSF. Na América Latina, por exemplo, a atmosfera é cada vez mais tóxica para o exercício da profissão, principalmente pela retórica antimídia e a banalização dos discursos estigmatizantes dos políticos, que criam desconfiança na sociedade.

No total, 73% dos 180 países avaliados pela ONG são caracterizados por situações consideradas “muito graves”, “difíceis” ou “problemáticas” no que diz respeito à liberdade dos jornalistas ao desempenhar seu trabalho.

O número de países onde a situação é “muito grave” passou de 21 para 28 este ano, incluindo quatro da América Latina – Cuba, Nicarágua, Honduras e Venezuela –, ao lado de nações como Rússia, Coreia do Norte, Irã ou Síria. O Brasil está na categoria dos “problemáticos”. Sobre a Rússia (155º), a RSF aponta que a invasão da Ucrânia foi preparada por meio de uma “guerra de propaganda”. Apenas oito países – incluindo Portugal e Costa Rica – apresentam uma “boa situação”, contra 12 em 2021.

Com pelo menos sete jornalistas assassinados em 2021, o México permanece como o país mais violento do mundo para a imprensa e ocupa a posição 179 de 180 na classificação de segurança. A Noruega mantém a liderança da liberdade de imprensa pelo sexto ano consecutivo, seguida por Dinamarca e Suécia. Os últimos países na lista são China, Mianmar, Turcomenistão, Irã, Eritreia e Coreia do Norte.

A RSF utilizou um novo método para elaborar a classificação, com base em cinco indicadores: contexto político, marco legislativo, contexto econômico, contexto sociocultural e segurança.

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