Política

Queiroz defende Bolsonaro e acusa Witzel pela morte de Adriano da Nóbrega

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, que revelou o áudio da irmã do ex-policial militar, a Polícia Civil teria omitido a menção ao Planalto no relatório oficial sobre a escuta

Foto: Reprodução
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Ex-assessor do clã-Bolsonaro, acusado de ser um dos principais operadores do esquema de rachadinha nos gabinetes da família do presidente Jair Bolsonaro, Fabrício Queiroz saiu em defesa do aliado nesta quinta-feira 7 após a revelação de um áudio de Daniela da Nóbrega, irmã de Adriano da Nóbrega, em que ela acusa o Palácio do Planalto de oferecer cargos em troca da execução do miliciano.

Para defender o presidente, Queiroz gravou um vídeo divulgado em suas redes sociais no qual acusa o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel de ser o responsável pela oferta de cargos em troca da morte de Adriano. Segundo diz Queiroz, a irmã do miliciano teria confundido o Palácio do Planalto com o Palácio do Guanabara, sede do governo fluminense.

“Eu recebi uma ligação do capitão Adriano no dia 24 de dezembro de 2019, onde ele me relatou que houve uma reunião dentro do Palácio do Guanabara, que ficou acertado que não era para ele ser preso e sim executado, o que aconteceu em fevereiro”, relata Queiroz no vídeo publicado durante a madrugada.

“Isso foi relatado pra mim pelo Adriano. Que teve uma reunião e essa reunião foi contada para ele por um amigo de turma de polícia que se encontrava dentro do palácio, um colega, deve ser coronel, major, capitão”, acrescenta ao alegar confusão da irmã no áudio revelado pelo jornal Folha de S. Paulo.

Na gravação, Daniela conta para uma tia, poucos dias após a morte do irmão, que ele já sabia da ordem do Planalto para que fosse morto.

“Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo”, conta ela na escuta realizada com autorização da Justiça.

Adriano foi morto no dia 9 de fevereiro de 2020, após mais de um ano foragido. Ele era acusado de comandar a maior milícia do RJ e suspeito de participar do esquema de rachadinha no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente e deputado estadual na época do escândalo.

O Planalto e a Defesa não se posicionaram sobre o caso. Flávio, hoje senador, criticou a revelação do áudio, que disse que ‘obviamente’ as alegações da irmã de Adriano ‘nunca aconteceram’.

Polícia omitiu menção ao Planalto em transcrição do áudio

No relatório escrito do áudio da irmã de Adriano, feito pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, não há qualquer menção ao Palácio do Planalto. A omissão foi revelada nesta quinta-feira 5 pelo jornal Folha de S. Paulo.

A conversa entre Daniela e uma tia é classificada no relatório da Operação Gárgula como de prioridade alta, mas apenas um resumo do diálogo foi incluído no documento. Não há no texto a transcrição completa das acusações feitas por Daniela, nem a menção ao Planalto.

“Tatiana diz que Daniela sabe de muitas coisas”, diz o texto dos agentes de inteligência da Polícia. A menção à Tatiana, outra irmã de Adriano, está equivocada, já que os áudios indicam que a declaração é da tia direcionada à Tatiana após conversa com Daniela.

O texto descreve apenas as acusações da irmã de Adriano contra o Tribunal de Justiça e destaca a informação de que um bicheiro pagou pela absolvição de Adriano em um processo em que era acusado de homicídio de um flanelinha durante uma operação policial. Na gravação, não há referência ao nome do magistrado.

É comum que promotores ou delegados não escutem todas as gravações, mas sim apenas os trechos destacados nos relatórios da Polícia que estejam diretamente ligados ao crime em investigação.

Bolsonaro aparece em dois trechos do relatório, nenhum ligado à acusação de Daniela sobre a oferta de cargos no Planalto em troca da morte do irmão. Segundo o documento, o ex-capitão é mencionado quando Tatiana diz que seu irmão não era miliciano, mas sim bicheiro. Segundo ela, a acusação de que ele tinha envolvimento com a milícia era uma tentativa de ‘ligar ele ao Bolsonaro’.

“Aí querem botar ele como uma pessoa muito ruim para poderem ligar ao Bolsonaro. Aí já disseram que foi o Bolsonaro quem assassinou. Quando a gente queria cremar diziam que e a família queria cremar rápido porque não era o Adriano. Uma confusão”, diz ela em outro trecho das escutas.

As declarações são descritas no relatório da Polícia apenas como “Tatiana diz que querem ligar ele ao Bolsonaro”.

Outra menção ao presidente, segundo o jornal, está presente no relatório ao descrever conversas de Luiz Carlos Felipe Martins, sargento da PM acusado de ser braço-direito de Adriano, e um homem não identificado.

“Ele falava para mim: ‘Orelha, nunca vi isso. Estamos se fudendo por ser amigo do presidente da República. Porra, todo mundo queria uma porra dessa. Sou amigo do presidente da República e to me fudendo’. Morreu por causa disso”, disse o sargento.

O resumo feito pelos agentes da Polícia descreve a menção à amizade entre os dois, mas não cita que a relação foi, conforme diz o PM na conversa, a causa da morte de Adriano. Orelha também foi morto em uma emboscada no dia 20 de março de 2020, dias antes da Operação Gárgula. O caso ainda não foi elucidado.

A Polícia Civil foi procurada, mas não comentou o relatório. Planalto e Defesa também não se posicionaram sobre as novas revelações.

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