Política

Primeiro advogado de Queiroz também prestou serviço à ex-mulher de Wassef

Paulo Klein constou até 2016 como advogado de Maria Cristina Boner Leo em uma ação criminal

Foto: Reprodução Em novo áudio, Queiroz xinga promotores e diz que investigação sobre seu caso "até demorou". Foto: Reprodução)
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Preso no último dia 18, após mais de um ano sumido, Fabrício Queiroz tem enfrentado as suspeitas do caso da ‘rachadinha’ sob a guarida de dois renomados criminalistas: Paulo Klein, responsável pela defesa até o fim do ano passado e Paulo Emílio Catta Preta, que assumiu o caso no dia da prisão do ex-assessor de Flavio Bolsonaro. Além do primeiro nome e da profissão, os dois tem outra coisa em comum. Ambos prestaram serviços a Maria Cristina Boner, ex-mulher de Frederick Wassef, amigo e advogado dos Bolsonaro e dono do imóvel em Atibaia onde Queiroz foi encontrado.

Especializado em defender policiais, Klein atuou como advogado de Maria Cristina Boner Leo, a ex-mulher de Frederick Wassef, em um processo criminal movido por ela contra o outro ex-marido, Antonio Bruno Di Giovanni Basso, ex-vice-presidente de contas de mercado governamental da Microsoft. Sua banca deixou o caso em outubro de 2016. À época, Boner e Wassef ainda mantinham união estável. Questionado por CartaCapital, o advogado diz jamais ter tido contato contato pessoal com Maria Cristina “ou qualquer pessoa a ela relacionada”. E que o atendimento a ela era realizado exclusivamente por seu antigo sócio, o advogado André Perecmanis.

Embora tenha assumido formalmente a defesa de Flavio Bolsonaro em junho do ano passado, Wassef  há tempos orientava a estratégia de defesa do caso Queiroz. Sua influência cresceu conforme minguava a do ex-ministro Gustavo Bebianno, braço direito de Bolsonaro na campanha demitido do governo um mês após a posse. Inicialmente, coube a Bebianno, também advogado, e ao empresário Paulo Marinho coordenar o passo-a-passo dessa estratégia. Na primeira quinzena de dezembro, houve conversas com o advogado Ralph Hage Vianna para assumir a defesa de Queiroz. Procurado, Vianna corroborou a versão de Marinho. “De fato, fui procurado, mas por sigilo profissional não posso dar mais detalhes”.

No dia 18 de dezembro de 2018, segundo Marinho, Flávio disse a ele que havia conversado com Jair Bolsonaro e que o pai decidira montar um outro esquema jurídico, comandado por outro advogado. “Ele não me revelou quem era, mas depois vim a saber que era Wassef”, contou a CartaCapital. Dias depois, Paulo Klein assumiu a defesa de Fabrício Queiroz.

Klein deixou a defesa de Queiroz no dia 19 de dezembro do ano passado, um dia após o Ministério Público do Rio de Janeiro pedir busca e apreensão em endereços ligados a Flávio e e a seu ex-assessor. Queiroz passou seis meses sem advogado antes da entrada de Catta Preta no caso. Ele também presta serviços Maria Cristina Boner Leo. Atualmente, consta como advogado da ex-mulher de Frederick Wassef em uma ação cível. Também a defendeu entre 2012 e 2018 no chamado mensalão do DEM, na qual Boner é acusada de pagar propina a integrantes do governo do Distrito Federal em troca de contratos. Catta Preta também trabalha para a família do miliciano Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro durante uma operação policial na Bahia. 

Relações conjugais

Maria Cristina Boner e Frederick Wassef estiveram juntos entre 2007 e 2017. Se conheceram enquanto ele era advogado do ex-marido da empresária, que há 13 anos disputa na Justiça a partilha dos bens — e é acusado por ela de agressão e extorsão. Mesmo separados, ainda são amigos. Até o ano passado, Wassef figurava como representante legal da ex-mulher. Em 2010, em negócio nebuloso, vendeu a ela um terreno em um brejo de Atibaia avaliado na época em 2,9 milhões de reais.

Boner fundou do Grupo Globalweb, dono de sete empresas que há anos prestam serviços de TI ao setor público. Em 2009, ela foi flagrada na Operação Caixa de Pandora no Distrito Federal — sua empresa teria patrocinado o mensalão do DEM em troca de contratos na área de informática. Outra empresa fundada por ela, a B2BR, é suspeita de ter feito pagamentos às empresas de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras. Em 2019, Maria Cristina foi condenada pela Fazenda Pública por improbidade administrativa. Na última quarta-feira 24, em julgamento relâmpago, ela e a B2BR foram absolvidas por unanimidade pelo TJ-DF.

Neste ano e meio de governo Bolsonaro, a Globalweb Outsourcing, administrada agora por sua filha, Bruna Boner Leo, faturou mais de 41 milhões em contratos com a administração federal e estatais. Para amealhar quantia semelhante nas gestões Dilma e Temer, levou quatro anos. O Ministério Público junto ao TCU pediu para o tribunal investigar os contratos.

Também sobe a gestão de Bolsonaro, o governo suspendeu uma multa de R$ 27 milhões a um consórcio do qual a GlobalWeb faz parte. 

Versões confusas

Segundo informações do caseiro de Atibaia à Polícia Civil, Queiroz frequentava o imóvel há mais de um ano. Na última quinta-feira 25, uma reportagem da Band mostrou que ele passou também alguns meses em um apartamento no Guarujá pertencente aos pais do agora ex-advogado de Flavio. 

No mesmo dia em que a Polícia Civil bateu à porta de seu escritório à cata de Queiroz, Wassef abandonou a defesa de 01. De lá pra cá, tem apresentado versões desencontradas e confusas sobre a ligação com Queiroz.

À Folha de São Paulo, em entrevista publicada no dia 20, Wassef declarou que jamais havia conversado ou trocado mensagem com Queiroz. Depois, em declaração veiculada no dia 22 pelo telejornal SBT Brasil, disse que abrigou o ex-assessor por “razões humanitárias”. Já em entrevista a Veja, publicada nesta sexta-feira 26, o advogado afirma que escondeu Queiroz para evitar uma suposta ameaça de assassinato e, dessa forma, proteger o presidente Jair Bolsonaro. Sustenta, contudo, que jamais conversou sobre o assunto Queiroz nem com o presidente e nem com o 01.

Fabrício Queiroz era procurado pelas autoridades para ser notificado a prestar depoimento no caso das ‘rachadinhas’. Mas não estava foragido. Essa diferenciação, na visão de alguns juristas, pode poupá-lo de responder por obstrução de Justiça. De qualquer forma, a OAB abriu um processo para apurar suspeitas de obstrução de justiça, possível infração ética e por supostamente ter ocultado informações sobre o paradeiro do ex-assessor.

Na quinta-feira 26, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro votou por manter o foro especial de Flavio. Seus advogados pedirão anulação de todas as decisões e provas relativas ao caso. A decisão contraria o Supremo: em 2018, os ministros restringiram o alcance do foro a fatos ocorridos durante o mandato, em função do cargo. 

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