Justiça

Por que Barroso é um dos alvos preferidos de Bolsonaro e da extrema-direita

Autor de ‘perdeu, mané’ e ‘derrotamos o bolsonarismo’, o ministro do STF vive na mira da oposição ao governo Lula

LUIS ROBERTO BARROSO E JAIR BOLSONARO. FOTOS: NELSON JR./STF E MARCOS CORRÊA/PR
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O ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso virou alvo da extrema-direita na quarta-feira 12, ao exaltar o fato de o Brasil ter derrotado o bolsonarismo – ao menos nas urnas – em 2022.

A declaração, concedida em um cenário hostil a ele no Congresso da União Nacional dos Estudantes, em Brasília, virou combustível para representantes da oposição ao governo Lula voltarem a articular um pedido de impeachment do magistrado.

No ato da UNE, Barroso foi vaiado por estudantes que contestavam sua conduta diante do piso salarial da enfermagem e no processo de derrubada de Dilma Rousseff, em 2016.

“Aqueles que gritam, que não colocam argumentos na mesa, isso é o bolsonarismo”, reagiu. “Nós derrotamos a censura, nós derrotamos a tortura, nós derrotamos o bolsonarismo para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas.”

Esta não é, no entanto, a primeira vez que o ministro do Supremo e bolsonaristas entraram em rota de colisão. Uma das ocasiões mais célebres remete a novembro do ano passado, quando Barroso foi abordado e questionado por um manifestante em Nova York a respeito do código-fonte das urnas eletrônicas.

“Perdeu, mané, não amola”, devolveu o juiz. Dias depois, disse “lamentar” o episódio, mas garantiu não ter se arrependido da resposta ao apoiador de Jair Bolsonaro.

Usuários de redes sociais também devem ter lido ao menos uma vez a afirmação de que Barroso teria dito que “eleição não se ganha, se toma”. Praxe na atuação da extrema-direita na internet, trata-se de uma descontextualização responsável por inundar as plataformas de fake news acerca de uma suposta intervenção do Poder Judiciário para levar Lula à vitória no ano passado.

Em 8 de junho de 2021, Barroso recebeu no Tribunal Superior Eleitoral – do qual era presidente – um grupo de parlamentares, entre eles Mecias de Jesus, senador por Roraima. Na ocasião, o congressista relatou ao ministro que, por duas vezes, teria ganho pleitos em seu estado, mas que “as eleições lhe foram tomadas”. Daí a origem da frase que viralizaria nas redes.

Ao comparecer à Câmara um dia depois, Barroso, em conversa com deputados, narrou a história que ouviu do senador e repetiu a passagem que a resumia: “Eleição em Roraima não se ganha, se toma”. Da frase a ensejar a mobilização bolsonarista foi suprimida a palavra “Roraima”.

Não foram, porém, apenas bolsonaristas desconhecidos os agressores de Barroso. O próprio Jair Bolsonaro tem um amplo leque de impropérios dirigidos ao ministro ao longo de seus quatro anos no Palácio do Planalto.

Em junho de 2022, por exemplo, o então presidente chamou o magistrado de “mentiroso” e “sem caráter” por afirmar que ele havia divulgado informações de um inquérito sigiloso sobre um ataque hacker ao TSE. A propagação ilegal de detalhes da investigação por Bolsonaro foi atestada pela Polícia Federal.

Meses antes, Bolsonaro já havia acusado Barroso de “ameaçar” a liberdade de expressão no Brasil, por defender a regulação das redes sociais. O ex-capitão também alegou em diferentes ocasiões que o ministro teria agido para enterrar no Congresso a PEC do Voto Impresso, uma das obsessões de conspiracionistas da extrema-direita.

Em 2021, Jair Bolsonaro já havia ofendido Barroso pela oposição ao voto impresso.

“Daí vem o Barroso com a história esfarrapada dele, dizer que o voto em papel, que se o João for votar lá no interior do Ceará e gripou a maquininha. Podem gripar, sim, daí o mesário vai lá e vai ver que o João votou em tais candidatos. ‘Isso desqualifica as eleições porque fere o sigilo do voto.’ É uma resposta de um imbecil. Eu lamento falar isso de uma autoridade do STF. Só um idiota para fazer isso aí”, disparou, na ocasião.

Nesta quinta-feira 13, diante da declaração no Congresso da UNE, o STF se apressou a divulgar uma nota a sustentar ser evidente que a frase “nós derrotamos a ditadura e o bolsonarismo” se referia “ao voto popular e não à atuação de qualquer instituição”.

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