Política

Petistas de Curitiba rejeitam a tese de que o Paraná é bolsonarista: ‘Só é conservador quem nunca passou fome’

Neste sábado 17, o ex-presidente Lula foi recebido por milhares de apoiadores na cidade – onde em que ficou 580 dias preso pela Lava Jato

Lula e Requião em Curitiba. Créditos: Eduardo Matysiak
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Apoiadores do ex-presidente Lula (PT) em Curitiba, no Paraná, rejeitam as teses que vêem no estado dominado pelo bolsonarismo e o conservadorismo. Na opinião de petistas que se reuniram no Centro da capital paranaense para ver Lula discursar neste sábado 17, o que ocorre no estado é que os extremistas da direita são ‘mais barulhentos’ e possuem um aparato midiático muito forte a seu favor.

“Na minha visão, só é conservador no Paraná quem nunca passou fome”, destaca Andrey Santos, jovem que acompanhava Lula nas primeiras fileiras do evento. Aos 29 anos, o vendedor ecoa o que costuma dizer o ex-presidente quando questionado sobre o tema: “A Gleisi [Hoffmann] é daqui, o Requião já foi governador por muitos anos. Não dá pra dizer que somos conservadores”, destaca.

Jonas Campos, assessor sindical em Curitiba, também aponta para uma presença ‘menor do que parece’ de conservadores no estado, mas acredita que o grupo é o que chama mais atenção. “É 50-50, eu diria, o problema é que eles ganharam voz mais forte nos últimos anos com Jair Bolsonaro”. Para ele, no entanto, o Paraná atual começa a mostrar sinais de mudanças neste aspecto:

“Nem os conservadores que a gente conversa aqui estão felizes com esse presidente”, defende. “Eles podem não votar em Lula no primeiro turno, mas também não vão votar no Bolsonaro.”

Outros apoiadores são menos enfáticos. Segundo eles, há, sim, uma tradição conservadora no estado, mas que vem perdendo força – em especial, nestas eleições. “Vai demorar um pouco ainda para mudar, mas acho que começa nesta eleição, que tem bastante deputado de esquerda com chances”, diz a jovem Larissa Massoni, agricultora do sudoeste do Paraná que foi a Curitiba para acompanhar Lula neste sábado.

As amigas Juliana Laginestra e Camila de Andrade, que também acompanhavam o ato nas primeiras fileiras, contam que ao menos ‘nas suas bolhas’ sentem um conservadorismo mais forte, mas que isso não barra uma visão ‘otimista’ para este pleito. “Na elite é bem evidente que nomes como [Sergio] Moro ainda aparecem fortes, mas no povo isso começa a melhorar. Acho que essa eleição, com Lula, é um começo disso”. Segundo elas, a força progressista no Paraná poderia ser exemplificada pelo tamanho do ato deste sábado, que reuniu milhares de pessoas para ouvir o ex-presidente.

Há ainda aqueles que defendem que o Paraná levará um bom tempo para mudar este ‘estigma’. É o que diz Sinval Pereira, ator curitibano. “Nossa tradição, infelizmente, é de uma capitania hereditária”, diz.

Pensamento semelhante é exposto pelo eletricista José Mendes de Sousa. “São duas ou três pessoas que são donas de todos os meios de comunicação daqui, então discutir pautas como o racismo se torna quase impossível em alguns momentos”. Ele cita o caso de Renato Freitas, vereador do PT cassado por protestar contra o racismo em uma igreja católica. “É só ver o que aconteceu com o Renato, ele tentou pautar isso e foi perseguido. Infelizmente, esse domínio, ainda que seja de poucos, existe. Nós brigamos com Santa Catarina e Rio Grande do Sul pra ver quem é o estado mais branco.”

‘A República de Curitiba está virando a República da Esperança’

A discussão sobre o conservadorismo do Paraná também subiu aos palcos. O tema esteve presente nos discursos de Arilson Chiorato, presidente do PT do Paraná, de Gleisi Hoffmann, que comanda a legenda nacional, e do próprio ex-presidente Lula.

Para Chiorato, a desilusão de paranaenses com o bolsonarismo é tão grande que o rótulo de República de Curitiba, nascido durante a Operação Lava Jato, começa a perder força. “Ver esses milhares de pessoas aqui me fazem ver que hoje morre a República de Curitiba e nasce a República da Esperança”.

No seu longo discurso, Lula também condenou quem classifica o Paraná unicamente como um ‘estado bolsonarista’, para ele, há um percentual de ‘ilusão’ nos trabalhadores locais que pode ser alterado ‘com diálogo’.

“Me diziam que o Paraná é um estado bolsonarista e eu respondia sempre, pois é lá então que eu quero ir para conversar com mulheres e com homens neste centro nervoso de Curitiba, que é a Boca Maldita”, destacou. Minutos antes, disse ter carinho pela cidade ao relembrar sua prisão, já que era daqui que viu bons exemplos de resistência enquanto esteve preso. “Os companheiros daqui resistiram e foram lá os 580 dias me dar bom dia. Tenho um carinho enorme pela cidade, foi aqui que conheci a Janja e foi aqui que decidi me casar novamente”, acrescentou.

No evento, ele tornou ainda a destacar os papéis históricos de Gleisi e Requião, que, segundo ele, seriam dois dos maiores progressistas do País. O petista voltou ainda a destacar a importância de eleger uma bancada progressista no Congresso para poder, em um eventual novo governo, reconstruir o Brasil com mais facilidade.

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