Política

Os pontos altos e baixos de Lula no debate contra Bolsonaro, segundo aliados

Os dois primeiros blocos foram bem avaliados, mas o ex-presidente administrou mal o tempo no fim do embate

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante debate na Band. Foto: Ricardo Stuckert
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Para aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o petista venceu os dois primeiros blocos do debate exibido pela TV Bandeirantes no domingo 16, mas apresentou um desempenho preocupante no terceiro. Por outro lado, de acordo com correligionários do petista, o presidente Jair Bolsonaro (PL) demonstra dificuldades em reverter a má avaliação sobre a sua gestão em relação à pandemia de Covid-19.

O primeiro bloco foi o mais bem avaliado, sobretudo por Lula ter investido no tema da crise sanitária. Foi um longo trecho em que o candidato do PT se mostrou na ofensiva e obrigou o ex-capitão a se justificar.

Segundo um aliado, Lula poderia ao menos ter incluído mais propostas em sua colocações nesse bloco, em vez de apenas relembrar o seu legado ou a sua gestão em crises sanitárias anteriores. Em alguns momentos, porém, o petista incorporou planos ao rebater Bolsonaro em temas sensíveis, como o orçamento secreto, quando prometeu um “orçamento participativo”, e o garimpo ilegal, em que se comprometeu a instituir o Ministério dos Povos Originários.

Foi um ponto alto de Lula, logo no início do confronto, o momento em que questionou objetivamente o número de universidades e escolas técnicas inauguradas no atual governo e a descrição da devastação ambiental.

Também foi destacado o trecho em que Lula deixou Bolsonaro sem palavras. O petista havia criticado a aplicação de sigilo de 100 anos em atos do governo e afirmado que, se eleito, vai dar fim aos segredos. O momento inusitado provocou risadas na plateia de aliados do PT.

Na conjuntura geral, a campanha avaliou que Lula conseguiu realizar uma exposição mais propositiva e dialogável com os problemas que mais preocupam a população neste momento.

Foto: Renato Pizzutto/Band

Descarta-se que o ex-presidente tenha perdido o controle de temperamento, diferentemente do que teria ocorrido na TV Globo, quando cedeu às provocações do então candidato Padre Kelmon (PTB).

O petista também não caiu em armadilhas sobre discussões de “ideologia de gênero”, expressão pejorativa da extrema-direita usada para se referir a discussões relacionadas aos direitos humanos.

Diante da expectativa sobre o escândalo das declarações de Bolsonaro em relação às meninas venezuelanas, integrantes da campanha disseram ter ocorrido uma orientação para que houvesse cuidado ao explorar o tema.

Segundo uma das avaliações, Lula não deveria levantar a questão primeiro, porque era interesse de Bolsonaro criar um espaço para se justificar. Foi o que ocorreu, logo antes do debate: à imprensa, o presidente já chegou dizendo que tinham sido as piores 24 horas de sua vida.

Outra argumento era de que Lula deveria demonstrar respeito à decisão do Tribunal Superior Eleitoral, que proibiu a campanha de abordar o escândalo nas propagandas eleitorais.

A equipe do ex-presidente espera obter algum êxito no campo judicial. A aposta maior é no entendimento de que houve constrangimento de menores de idade. Outra associação frequente é ao crime de prevaricação – por Bolsonaro, supostamente, ter se omitido diante de um eventual esquema de prostituição infantil – além da indignação sobre o cunho sexual atribuído à expressão “pintou um clima”.

A presença do ex-juiz e agora senador Sérgio Moro (União Brasil) foi vista como uma forma de provocar e intimidar Lula. Os aliados do ex-presidente, contudo, adotaram o discurso de que Moro demonstrou falta de “amor próprio”, já que foi “escorraçado” do governo Bolsonaro e agora aparece ao seu lado como cabo eleitoral.

Além disso, a aliança teria legitimado a vinculação dos objetivos da Operação Lava Jato a fins ideológicos, que teriam se sobressaído às críticas públicas de Moro à interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.

Foto: Divulgação/Band

Um dos pontos mais baixos de Lula foi a má administração do tempo no terceiro bloco. Ele gastou quase tudo o que tinha, apesar de sinais de aliados dentro do estúdio para que desse atenção ao cronômetro. O descuido acabou dando a Bolsonaro cerca de cinco minutos para discursar.

Um aliado disse ter ficado assustado quando viu o presidente com o tamanho de tempo que lhe sobrava. No entanto, avaliou que Bolsonaro usou mal ao se dedicar a assuntos desconexos com a realidade atual, como o cenário político da Nicarágua, cuja conjuntura é desconhecida por maioria da população.

O ataque mais sensível de Bolsonaro está na questão religiosa, porque a campanha de Lula tem como uma de suas preocupações a posição dos evangélicos indecisos. Embora o tema da Nicarágua seja distante, Bolsonaro entra numa seara menos confortável aos petistas quando trata da suposta perseguição a religiosos.

Também preocupa a declaração de Bolsonaro sobre o fechamento de igrejas na pandemia. O tema pode precisar ser destrinchado nos próximos programas eleitorais de rádio e televisão, na avaliação de um aliado.

Ainda que Lula tenha obtido direito de resposta por um minuto, Bolsonaro conseguiu nadar mais longe no terceiro bloco, o que evitou a vitória do candidato do PT no debate e deixou o placar empatado, de acordo com o entorno do ex-presidente.

Os aliados do petista, porém, salientam que, se houve empate, Lula foi o beneficiado, já que está à frente das pesquisas e da votação no 1º turno, enquanto Bolsonaro tem a missão de virar mais votos.

Os religiosos devem seguir sob a atenção do PT. Nesta segunda-feira 17, Lula se encontra com padres e freiras em São Paulo. Há uma articulação do Grupo Prerrogativas para uma reunião do petista com evangélicos, mas ainda não há data. .

Além disso, a carta aos cristãos permanece na manga. Conforme mostrou CartaCapital, uma versão já está pronta. Um integrante da campanha disse que o documento deve ser divulgado, mas ainda não há previsão de quando.

Os próximos passos de Lula se darão em São Paulo até a terça-feira. Na quarta, ele se dirige ao Rio Grande do Sul. Na quinta-feira, Lula deve ir ao Rio de Janeiro.

No fim da semana, o petista pretende ir a Minas Gerais, com passagens em Teófilo Otoni e Governador Valadares. A presença de Simone Tebet (MDB) é esperada nas agendas. Na sequência, passa por Manaus, capital do Amazonas.

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