Política

O saldo político do giro de Lula por estados governados pela direita, segundo especialistas

O presidente visitou SP, RJ e MG; cientistas políticos destacam o perfil conciliador do petista e ressaltam uma postura do jogo democrático

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, e o presidente Lula, em 8 de fevereiro de 2024. Foto: Ricardo Stuckert/PR
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O presidente Lula (PT) visitou nos últimos dias três estados governados por oposicionistas: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, comandados por Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Cláudio Castro (PL-RJ) e Romeu Zema (Novo-MG), respectivamente.

Nas agendas, em que houve anúncios de obras públicas, o petista apareceu ao lado dos adversários, protagonizando imagens que repercutiram no mundo político: elogios de Lula a Tarcísio, Castro reconhecendo que o presidente merecia aplausos por prometer “o maior investimento da história” do estado, e Lula e Zema admitindo a necessidade de trabalhar com quem pensa diferente.

A passagem de Lula pelos três estados poderia ser apenas mais uma das tantas viagens protagonizadas por presidentes. Entretanto, a polarização cristalizada no País converte um fato corriqueiro em notícia de destaque.

Como entender os movimentos políticos de Lula e dos três governadores? CartaCapital conversou com dois especialistas sobre o tema: Christian Lynch, doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e Paulo Henrique Cassimiro, doutor em Ciência Política pela Uerj e coordenador do Núcleo de Teoria Política e Instituições.

O conciliador Lula e os movimentos no xadrez político

Formado para a política no sindicalismo, Lula desenvolveu ao longo dos anos um perfil conciliador. A comparação entre o candidato derrotado em 1989 e o presidente eleito em 2002 expõe como o petista passou a se tornar conhecido pelo perfil negociador.

A conciliação virou um dos caminhos para explicar o sucesso dos governos do petista, ao mesmo tempo em que mereceu críticas de parte da esquerda.

Esse perfil se mantém e pode explicar, em parte, os movimentos recentes de Lula. “O modo conciliador de Lula é apropriado ao sistema democrático vigente no País desde a Constituição de 1988. Isso explica um pouco como foi feito um esforço, que começou há dez anos, para tirá-lo do jogo”, aponta Lynch.

“Temos um país que ficou altamente polarizado. O que Lula faz? O esforço dele é desmontar a polarização radical. Alguma polarização, evidentemente, tem que ter, em um regime democrático”, prossegue o pesquisador. “Lula monta um governo que permite a entrada de muitos setores, mas deixa de fora a direita radical. Enquanto isso, polariza com quem está fora. Isso, inclusive, é necessário.”

Assim, na avaliação de Lynch, Lula “vai a uma região onde a popularidade caiu, comparada com eleições anteriores, e acena como alguém republicano e um parceiro confiável”.

“Em outros termos, Lula diz: ‘eu preciso de uma direita institucional.'”

Cassimiro pontua que era normal um presidente visitar estados governados por opositores, inclusive porque “muitas obras públicas estaduais são executadas com orçamento federal”.

Entretanto, a atitude de se negar a encontrar lideranças adversárias ganhou tração há alguns anos. “Pouco antes de Bolsonaro chegar ao poder, alguns governadores do PT se recusavam a receber o ex-presidente Michel Temer. Essa prática ficou mais evidente após Jair Bolsonaro se recusar a subir em palanques de governadores que ele chamava de ‘esquerda.'”

Gestos de estranhamento não passaram despercebidos no giro de Lula pelo sudeste. Em Minas Gerais, Zema chegou a ser vaiado e o público criticou a sua desconfiança em relação às vacinas.

No litoral paulista, por outro lado, o público chegou a pedir que Tarcísio “volte para o PT”.

Cassimiro ressalta que atos dessa natureza fazem parte de uma estratégia política. “Os eventos são preparados, há assessores, mobilização de sindicatos, base etc. Essas vaias reforçam para Lula o discurso de que é preciso ‘colocar a política dentro de limites civilizados.'”

“Assim, desenvolve a imagem de que Lula é parte de um projeto de conciliação nacional, envolvendo, inclusive, governadores eleitos no projeto de Bolsonaro.”

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