Entrevistas

O que pensa o presidente do Republicanos sobre Lula e evangélicos, Tarcísio em 2026 e Bolsonaro na mira da PF

A CartaCapital, Marcos Pereira também analisa a chance de formar uma federação capaz de bagunçar a correlação de forças na Câmara

O presidente do Republicanos, Marcos Pereira. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
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A relação entre o governo Lula (PT) e o eleitorado evangélico é praticamente inexistente, afirmou em entrevista a CartaCapital o deputado federal Marcos Pereira (SP), vice-presidente da Câmara e presidente nacional do Republicanos.

Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, comandada por Edir Macedo, Pereira avalia que o Palácio do Planalto tem instrumentos para buscar uma aproximação com essa parcela da população. Uma pesquisa Datafolha publicada em dezembro apontou que a reprovação a Lula entre os evangélicos era de 38%, enquanto entre os católicos chegava a 28%.

No geral, o presidente fechou o primeiro ano de mandato com 38% de aprovação, 30% de avaliação regular e 30% de rejeição, de acordo com o levantamento.

Provável candidato à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) no comando da Câmara, Marcos Pereira evita se lançar diretamente à disputa, em um gesto ao atual presidente da Casa. Ele pretende “aguardar o tempo” de Lira, mas admite: “Por óbvio eu tenho o desejo, eu tenho disposição”.

Outro nome a despontar com destaque é o de Elmar Nascimento (União-BA), fiel aliado de Lira. Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL) também são cotados.

CartaCapital, o presidente do Republicanos ainda comentou a possibilidade de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ser candidato a presidente em 2026, analisou a possível federação com União Brasil e PP – com potencial de bagunçar a correlação de forças na Câmara – e se manifestou sobre a investigação contra Jair Bolsonaro (PL) pela trama golpista de 2022.

Confira os destaques da entrevista:

CartaCapital: Como está a relação entre o governo Lula e a Câmara?

Marcos Pereira: A relação está sendo cada vez mais solidificada, uma relação normal, natural e tranquila de dois Poderes que são independentes. Às vezes pode ter um ou outro momento de tensão, pequeno, mas não vejo nenhuma tensão grande.

Tudo o que o governo propôs foi aprovado ao longo do ano passado, começando pela PEC da Transição, ainda no governo de Bolsonaro. O Parlamento aprovou a PEC da Transição, aprovou o arcabouço fiscal, aprovou a reforma tributária, aprovou a lei do Carf, aprovou as offshores.

Então, a relação é de cooperação com o governo e com o País.

CC: O ritmo de execução de emendas está no centro do incômodo de deputados com o governo?

MP: Toda vez que você mexe no cronograma de liberação de recursos, já que há uma pressão principalmente em ano de eleição, há uma pressão dos prefeitos por recursos para que eles possam entregar serviços públicos à sua população.

Então, toda vez que existe um atraso é óbvio que gera algum desconforto, mas nada que com diálogo não se consiga superar.

CC: Você será candidato à presidência da Câmara em 2025?

MP: Eu não quero tratar deste assunto em público, na imprensa, porque eu quero respeitar os meses, praticamente um ano que o presidente Arthur Lira tem no comando da Câmara.

Debater publicamente esse assunto agora não é bom, então eu vou ajudar. Eu sou vice-presidente de Arthur, eu vou ajudá-lo a conduzir os trabalhos sempre que ele me demandar ou solicitar a minha colaboração, aguardando obviamente o tempo dele, o tempo da Casa para esse assunto.

Por óbvio eu tenho o desejo, eu tenho disposição. Mas eu não quero tratar do tema, pelo menos por enquanto.

CC: Como avalia o pedido de impeachment de Lula protocolado por bolsonaristas?

MP: É um movimento normal, legítimo, de quem atua na oposição, assim como o PT e os partidos que eram de oposição a Bolsonaro apresentaram vários pedidos de impeachment, por conta da pandemia e de outras pautas em que eventualmente eles tinham discordância.

Então, é um processo natural de quem precisa marcar posição.

CC: Como está a relação entre Lula e o eleitorado evangélico?

MP: Não tem muita relação. Já houve aproximação no passado, agora eu diria que houve um distanciamento, não sei explicar o motivo desse distanciamento. Talvez sejam as pautas mais ideológicas, mais identitárias. Talvez seja, mas não tenho certeza.

Então, eu diria que a relação praticamente não existe.

CC: Mas há caminhos até 2026 para o governo restabelecer pontes com esse eleitorado?

MP: Acho que o governo pode, sim, sempre tem instrumentos para poder se aproximar. E me parece que eles estão pensando em algum momento em fazer isso.

Como eu não estou lá no dia a dia, não saberia dizer o que e como fazer.

CC: O ministro de Portos e Aeroportos é do Republicanos. Qual é o vínculo do partido com o governo?

MP: A relação do Republicanos é uma relação republicana, para ser um pouco redundante, e é uma relação de cooperação com o País.

Colaborar com o País é colaborar também com o governo que está de plantão, não tenha dúvida. Com as pautas que a gente entende que não são dissonantes com o nosso manifesto político.

Nesse contexto, o partido já vem, mesmo antes de o Silvio Costa Filho ser ministro, ajudando e apoiando as pautas que eu mencionei anteriormente que já foram aprovadas.

CC: Tarcísio de Freitas pode ser candidato a presidente? Se ele não for, o Republicanos pode apoiar a reeleição de Lula?

MP: Eu acho que Tarcísio não é candidato a presidente, ele é candidato à reeleição, candidato a fazer um bom governo e à reeleição. Mas é um tema que está muito longe, a gente precisa discutir isso dentro do partido quando chegar a época certa.

Eu não posso dar uma opinião agora porque, queira ou não, o fato de eu ser o presidente nacional do partido tem muito peso. Então, esse é um tema que a gente só vai debater em 2026.

CC: Tarcísio poderia ser o nome mais competitivo da direita com a inelegibilidade de Bolsonaro?

MP: O nome mais competitivo que a última pesquisa a que eu tive acesso demonstrou para representar a centro-direito é o da Michelle Bolsonaro. Ela tem mais intenção de votos que o Tarcísio.

Quando você olha que ele é o governador de São Paulo e o peso que tem São Paulo, talvez ele seja o nome mais forte do momento. Mas tem aí também o nome do [Ronaldo] Caiado, tem o [Romeu] Zema, tem o Ratinho [Junior], tem a Tereza Cristina…

CC: Avançaram as conversas entre Republicanos, União e PP sobre formar uma federação ainda neste ano?

MP: Para a eleição de vereadores e de prefeitos, só se acontecer alguma coisa completamente fora do do trivial.

Eu acho que não dá mais tempo, já está muito em cima. A janela para mudança de partidos entre vereadores começa em 6 de março, então eu acho muito pouco provável.

CC: Mas, ainda que não seja para esta eleição, a federação tende a sair?

MP: Não é impossível. Vai ter que ter um esforço muito grande, mas é bem plausível que saia, sim.

CC: As investigações da PF sobre a tentativa de golpe avançam e chegam a Bolsonaro. A democracia correu risco em 2022?

MP: Eu nunca acreditei nessa possibilidade de golpe. Eu não vejo general e cúpula das Forças Armadas – com todo o respeito que tenho à patente do ex-presidente – dando um golpe pra manter o capitão no poder. Se o general fosse dar golpe, seria para botar um general, como foi historicamente, alguém de uma patente mais elevada.

Então, eu não vejo que que houve essa ameaça, até porque as instituições funcionaram. O Parlamento e o Judiciário fizeram os contrapesos necessários.

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