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O que explica o voto ‘Lulema’

Apesar de ter elegido o PT para a Presidência da República em todas as eleições desde 2002, isso não significa que o eleitorado mineiro seja de esquerda

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Após a divulgação dos resultados do primeiro turno das eleições, uma série de questionamentos sobre a lisura do sistema eleitoral surgiu nas redes, usando como exemplo para uma suposta fraude a votação em Minas Gerais.

As dúvidas pairavam em torno da combinação inusitada do eleitorado mineiro, que escolheu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa presidencial e Romeu Zema (Novo) para comandar o governo estadual. 

Em Minas, o petista obteve 48,29% dos votos válidos para presidente da República, enquanto Zema se reelegeu com o apoio de 56,18% dos mineiros. 

Poderia o mesmo eleitorado eleger representantes da esquerda e da direita no mesmo pleito?

Mesmo que pareça estranho, essa divergência já aconteceu diversas outras vezes no Brasil. 

O estado de Minas Gerais, inclusive, é conhecido por eleger o PT para Presidência e o PSDB para o governo estadual, que até 2018 era o principal partido de oposição. 

Em 2002, uma situação parecida aconteceu e ficou conhecida como o voto “Lulécio”. Naquele ano, Aécio Neves (PSDB) foi eleito governador em primeiro turno com 57,7% dos votos, enquanto Lula recebeu 61,3% dos votos válidos no estado. O fenômeno se repetiu nas eleições nacionais seguintes com Dilma Rousseff (PT) e Anastasia (PSDB), em 2010.

Apesar de ter elegido o PT para a Presidência da República em todas as eleições desde 2002, isso não significa que o eleitorado mineiro seja de esquerda.  

Nas gestões estaduais, o PSDB sempre foi bem avaliado em Minas, assim como o governo do recém reeleito Romeu Zema. 

O fenômeno que se apresenta, e causou estranheza, pode ser explicado pelo fato de que o eleitorado mineiro, majoritariamente, não vota de forma ideológica, ou seja, não leva em consideração se os candidatos são de esquerda ou se direita. O voto no estado é historicamente pragmático. 

Nesse ano, pesou na escolha dos mineiros a lembrança dos bons resultados do governo Lula, assim como os frutos da gestão de Zema. Favorecido por uma indenização bilionária, de R$ 37 bilhões, da Vale em função do desastre ambiental de Brumadinho (MG), Zema conseguiu equilibrar as contas públicas e pagar os funcionários do estado em dia.

Além disso, a associação de Zema e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) não ficou clara ao longo da campanha de primeiro turno. Houve, inclusive, imagens que circulam nas redes sociais mostram bandeiras contendo as fotos de Zema e Lula, lado a lado. 

O flerte de Zema com o bolsonarismo é recente e apenas se consolidou nesse segundo turno, com os resultados inexpressivos do candidato do Novo ao Palácio do Planalto, Felipe D’Avila. Apesar de ter tecidos críticas ao PT ao longo da campanha, Zema evitou se associar publicamente à Bolsonaro. 

O que ficou claro com o quadro de eleitos para o Legislativo em Minhas Gerais é que o voto bolsonarista é mais coeso no estado, seguindo uma identidade ideológica forte. 

No entanto, o eleitorado de Lula é perfeitamente capaz de escolher seus governantes e representantes que não seguem o mesmo espectro político. 

O bolsonarismo segue forte em Minas, mas isso não significa que o eleitor mineiro não tenha escolhido Lula para presidente da República. E nem que as urnas tenham sido fraudadas. 

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