Política

O que diz a delação de Élcio Queiroz, a única homologada pela Justiça no caso Marielle

Motorista do carro usado no atentado relatou detalhes do dia do crime; delação de Ronnie Lessa ainda não foi chancelada pelo Judiciário

Ronnie Lessa e Élcio Vieira, apontados como executores da vereadora Marielle Franco (Foto: Reprodução/Rede Globo)
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Horas após o site The Intercept Brasil noticiar que o ex-policial militar Ronnie Lessa teria apontado o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro Domingos Brazão como um mandante do assassinato de Marielle Franco, a Polícia Federal emitiu uma nota, na terça-feira 23, na qual diz haver “uma única delação na apuração do caso, devidamente homologada pelo Poder Judiciário”.

Trata-se, nas entrelinha, da simples reafirmação de que uma colaboração de Lessa ainda não foi reconhecida oficialmente – neste caso, pelo Superior Tribunal de Justiça, por envolver pessoa com foro especial. Até o momento, portanto, a delação que há é a do ex-PM Élcio de Queiroz, que veio à tona em julho de 2023.

Brazão, por sua vez, nega qualquer envolvimento no crime.

No depoimento homologado pela Justiça, Queiroz confessou ter dirigido o carro usado no crime e afirmou que Lessa foi o responsável pelos disparos contra a vereadora e o motorista dela, Anderson Gomes, sob a orientação de um mandante.

Segundo os investigadores, Élcio aceitou delatar após a confirmação de que Ronnie Lessa teria pesquisado dados sobre Marielle e sua filha em um banco privado de informações. 

Anteriormente, Lessa teria afirmado a Élcio que nunca havia buscado o nome da vereadora. Na avaliação dos investigadores, o conflito de informações foi decisivo para a delação.

Élcio ainda apontou a participação do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel – este teria executado ações de vigia na rotina de Marielle e sido o responsável pela destruição do carro usado no atentado.

O passo a passo do crime

No depoimento, Queiroz forneceu detalhes da ação, desde quando foi chamado por Ronnie, às 12h de 14 de março de 2018, via aplicativo de mensagens, para participar do crime.

Conforme o relato, os dois se encontraram na residência de Lessa, no Condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Quando Élcio chegou, Ronnie já portava uma bolsa com as armas. Depois, em um Cobalt prata, foram até a Casa das Pretas, onde Marielle participava de um evento.

A dupla se posicionou próximo ao local e ficou de vigília até a saída da vereadora. Ronnie esteve durante todo o trajeto no banco da frente, mas deslizou para o banco de trás após chegar ao local e se equipou.

Na saída de Marielle, sua assessora e Anderson, Élcio seguiu o carro. O Cobalt emparelhou com o outro veículo e Lessa disparou os tiros.

A rota de fuga foi detalhada na colaboração premiada. Após uma série de desvios, eles foram para a casa da mãe de Ronnie Lessa, no Meier, e interfonaram para o irmão dele, Denis Lessa. Lá, entregaram a bolsa com os apetrechos utilizados no crime e pediram para que o irmão chamasse um táxi.

O veículo seguiu para a Barra da Tijuca, onde a dupla embarcou no carro de Ronnie Lessa e reativou seus celulares.

A arma

Queiroz afirmou que a arma utilizada no assassinato de Marielle e Anderson era do Batalhão de Operações Especiais, o Bope, tropa de elite da PM do Rio de Janeiro voltada a operações especiais.

Segundo o delator, a arma foi extraviada após um incêndio na sede do Bope. O objeto ficou sob a posse de uma pessoa não identificada, “possivelmente um policial”, que fez uma reforma no equipamento e o vendeu a Lessa. O depoente disse não ter informações sobre a obtenção da munição.

A arma já teria sido utilizada por Lessa em serviço no Bope. O então policial, segundo Queiroz, “tinha um carinho por aquela arma” e sempre a usava quando estava em operação.

Lessa teria obtido a arma cerca de um ano antes do assassinato, segundo o depoimento.

Já o sargento Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, foi apontado como o responsável por apresentar Ronnie Lessa ao mandante do assassinato. Macalé foi executado em 2021.

“Inclusive foi através do EDIMILSON que trouxe… vamos dizer, esse trabalho pra eles; essa missão pra eles foi através do MACALÉ, que chegou até o RONNIE”, diz um trecho da delação premiada.

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