Política

O espírito do jantar entre Gleisi, o ‘banqueiro’ petista e o empresariado paulista

Apesar de 13 anos de conciliação e ganhos exorbitantes das elites, o empresariado continua a temer o “radicalismo” do partido. Radical é a Casa-Grande

O espírito do jantar entre Gleisi, o ‘banqueiro’ petista e o empresariado paulista
O espírito do jantar entre Gleisi, o ‘banqueiro’ petista e o empresariado paulista
(Fotos: Cebri/Wikimedia/Masao Goto Filho
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O colunismo político despendeu energia nos últimos dias para relatar o jantar entre a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, secundada pelo “banqueiro” (ou ex) Gabriel Galípolo, e empresários reunidos no grupo Esfera, criado, segundo o site da entidade, para engajar líderes políticos, empresariais e sociais em prol do Brasil. De repente, nada mais importava. Licitação superfaturada de ônibus escolares? A disputa intestina pelo comando da Petrobras? As ameaças de morte dirigidas a Lula e a militantes progressistas por parlamentares bolsonaristas? A farra do orçamento secreto dos militares? Esqueça, importante é conhecer a vida de Galípolo. Um documentário da National Geographic não conseguiria ser tão preciso. Descobrimos o que pensa, o que come, o que veste, qual o habitat e para que time torce o exótico novo integrante da alcateia petista.

E tomem caracteres, análises, opiniões. Nem Galípolo é o que descreve o noticiário nem seu papel na discussão do programa de governo de Lula, que entretém nada menos do que 80 economistas, é tão central, a despeito de o “banqueiro” (ter presidido o Fator faz dele, no máximo, um executivo de banco) ser uma das mentes mais brilhantes da nova geração dedicada às ciências econômicas.

Quanto ao jantar, os relatos, por mais chocantes, correspondem aos fatos. Apesar de 13 anos do PT no poder, período de conciliação e ganhos exorbitantes das elites, o empresariado continua a temer o “radicalismo” do partido. Apesar do desemprego, da fome e da inflação descontrolada, Abílio Diniz saudou o bom momento da economia. Apesar das lutas trabalhistas que remontam a Revolução Industrial e da consolidação de leis no mundo inteiro ao menos desde o início do século XX, um empresário foi capaz de defender a tese de que o Estado não deve se meter nas relações entre empresas e “colaboradores”, o eufemismo moderno para designar empregados. Eficiente é a Lei da Selva. Todos cobraram o mea-culpa do PT pelos “erros do passado”, embora quem deva pedir desculpas é o ex-juiz Sergio Moro, o ex-procurador Deltan Dallagnol e a força-tarefa de Curitiba pelo exímio trabalho de destruir a economia brasileira, atropelar os direitos fundamentais e impulsionar a chegada de Bolsonaro ao poder.

Autointitulado think thank independente e apartidário, o Esfera escolheu um lado faz tempo e não esconde. Entre Lula e Bolsonaro, despejará milhões na campanha do negacionista que levou mais de 600 mil brasileiros à morte, do inepto que implantou o jeito miliciano de governar, do golpista inveterado à espera de uma oportunidade para queimar o último fiapo de democracia formal. Há quem acredite em uma “direita democrática” e sonha com a vitória da civilização sobre a barbárie. Mais fácil seria cavalgar um unicórnio ou surpreender a fada-do-dente. O ódio de classe é um traço constitutivo do caráter dos donos do poder no Brasil. Radical não é o PT. É a Casa-Grande.

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