Política

No debate da Globo, Lula perdeu ou ganhou? Veja análises de aliados e adversários

Quadros próximos do ex-presidente não viram impacto negativo nas brigas; oponentes avaliam que petista foi quem mais perdeu

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante debate na Rede Globo. Foto: Reprodução
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Aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliaram de forma positiva a atuação no debate da TV Globo, na noite de quinta-feira 29, mesmo nos momentos de confronto.

Conforme CartaCapital havia antecipado, o plano da campanha era que Lula reagisse às acusações sobre corrupção de forma mais enérgica, diferentemente do que se viu no debate da Band no fim de agosto, em que o ex-presidente foi “sereno” e revidou pouco.

No 1º bloco, Lula fez questão de pedir uma série de direitos de resposta para rebater as declarações do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em momentos distintos, o petista disse que se sentia mal por atrapalhar o andamento do debate, mas afirmou ter se visto obrigado a responder diante do que chamou de “insanidade”. Em um dos trechos, Lula quis rebater Bolsonaro na acusação de ter formado uma “quadrilha” em seus governos.

“Ele falar que eu montei quadrilha, com a quadrilha da rachadinha dele? Do Ministério da Educação com barra de ouro?”, indagou Lula. “Ele precisava se olhar no espelho e saber o que foi o governo dele. Precisava saber o que foi a quadrilha da vacina, o oferecimento de um dólar por cada vacina importada. É a CPI que está dizendo.”

Para um aliado que acompanhou Lula na TV Globo, a população viu com bons olhos a frequência dos pedidos de direito de resposta. Segundo ele, o ato mostrou que o ex-presidente “não está disposto a levar desaforo para casa”.

Outro petista avaliou que Lula “jantou” Ciro Gomes (PDT), quando o pedetista pediu que o ex-presidente explicasse por que os governos do PT permitiram que os cinco brasileiros mais ricos tivessem uma concentração de riquezas equivalente à de 100 milhões mais pobres, com 12% de desemprego ao fim da gestão de Dilma Rousseff (PT) e crescimento no endividamento.

Em resposta, Lula disse que Ciro poderia ter feito a pergunta de outra maneira e afirmou que os mais pobres tiveram 80% de aumento real na sua renda, enquanto os mais ricos tiveram apenas 20%. Citou ainda o aumento sucessivo do salário mínimo acima da inflação e a geração de 22 milhões de empregos, entre outros legados.

Lula também afirmou que Ciro “cansou de elogiar” os programas sociais petistas e aproveitou os momentos em que o adversário do PDT gaguejou para dizer que ele estava “nervoso”.

“O Lula desmoralizou o Ciro na primeira pergunta”, afirmou uma liderança petista que considerou, no entanto, que as discussões tornaram o debate de “baixo nível”.

Lula (PT) teve momento de tensão com Padre Kelmon (PTB). Foto: Reprodução

Outra avaliação no entorno de Lula foi a de que o debate se tornou uma “lavação de roupa suja” e incomodou o eleitor. Segundo essa análise, o debate não apresentou poder de mudar o atual cenário.

Em uma live após o debate, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) admitiu que Lula acabou “não aguentando” e “reagindo numa hora que não deve”.

O ponto mais sensível foi o embate com Padre Kelmon (PTB), candidato que estreou na eleição em 15 de setembro, após o Tribunal Superior Eleitoral indeferir o nome de Roberto Jefferson (PTB). Na ocasião, Kelmon chamou Lula de “cínico” e de “ator”.

O petista esbravejou. No maior momento de tensão, disse que o padre era “irresponsável” e estava “fantasiado”.

Avaliações no campo petista colhidas pela reportagem descartaram impacto negativo dessa briga para Lula, porque o padre já teria virado “meme” e não seria levado a sério pelo público, apesar da sua condição de líder religioso.

“O padre visivelmente foi conturbar o debate. Lula colocou ele no lugar dele”, disse um aliado de Lula. “Na minha avaliação, foi na medida. Isso só isola a extrema-direita.”

Os adversários, porém, opinaram que Lula errou. No campo bolsonarista, houve a avaliação de que o ex-presidente caiu na armadilha do padre e acabou batendo boca com um figurante, o que baixou a sua estatura. Seria diferente se a discussão ocorresse com o seu principal oponente, Bolsonaro. Segundo outra avaliação, a briga pode ser vista como um desrespeito a uma figura religiosa.

No campo de Simone Tebet (MDB), um aliado também fez a avaliação de que Lula caiu nas redes de um provocador e que saiu perdendo com o bate boca.

Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT) tiveram embates em debate na Globo. Foto: Reprodução

A expectativa dos apoiadores de Lula recaía sobre a possibilidade de o debate ampliar o diálogo do petista com indecisos, de forma a ajudá-lo a obter o percentual de votos que precisa para levar a vitória no primeiro turno.

Apesar da briga, um aliado de Lula considerou que o ex-presidente adotou um tom firme, que dialogou com a indignação dos eleitores sobre a situação do País e apresentou uma “perspectiva de futuro”.

Outra avaliação apontou um momento em que Lula pode ter obtido novos votos: em um embate com Ciro Gomes. Na ocasião, o petista havia escolhido questionar Ciro sobre cultura, mas, em vez de adotar um tom agressivo, o ex-presidente deu a oportunidade para que o adversário do PDT apresentasse as suas propostas.

À primeira vista, o momento parecia pacífico. Ciro propôs recriar o Ministério da Cultura, restabelecer instituições interligadas e rever leis de fomento. Na sequência, Lula disse que quer fundar comitês de cultura em cada capital.

Na tréplica, porém, o pedetista chamou a proposta do ex-presidente de “bela cópia” de seu projeto, acusou-o de sugerir uma “ideia autoritária” de “regulação da mídia” e terminou fazendo críticas ao Fundo de Financiamento Estudantil, o Fies.

“O que ajudou Lula a ganhar indecisos foi a forma indelicada e superficial com que Ciro respondeu à pergunta sobre cultura”, disse uma liderança petista. “Ciro tentou ofendê-lo com uma ironia grosseira, atacando inclusive o Fies. Ali, Ciro perdeu pontos, e Lula ganhou.”

O presidente Jair Bolsonaro (PL) em confronto com Soraya Thronicke (União Brasil). Foto: Reprodução

Para os petistas, as acusações de Bolsonaro a Lula sobre o assassinato de Celso Daniel não reverberam porque o assunto está datado. Um quadro próximo do ex-presidente considerou que Bolsonaro atuou como uma “metralhadora giratória” e com “desespero” ao “reavivar histórias fantasiosas e já encerradas”.

Além disso, foi notado que Bolsonaro não obteve dobradinha com Tebet na questão. Bolsonaro havia mencionado que a vice de Tebet, Mara Gabrilli (PSDB), costuma falar do assassinato de Celso Daniel com críticas ao PT. Porém, Tebet chamou Bolsonaro de covarde e disse que ele deveria dirigir a pergunta a Lula.

No entorno do PT, a avaliação foi de que Bolsonaro se beneficiou mais nas dobradinhas “seguras” com Felipe D’Ávila (Novo) e Padre Kelmon. Lula chegou a chamar Kelmon de “candidato laranja”.

Um aliado de Lula considerou que Tebet foi “gentil” com o ex-presidente. Ela chegou a comparar o petista a Bolsonaro numa pergunta sobre gastos públicos, mas ouviu dele que estava sendo injusta. Não foi um confronto relevante.

As atuações de Tebet e Soraya Thronicke (União Brasil) colaboraram com Lula ao centrarem críticas em Bolsonaro, segundo avaliação no campo do presidente. À reportagem, o advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, afirmou que as senadoras tiveram “obsessão” em “atacar” o presidente da República.

Thronicke chamou atenção, novamente, pelas suas frases de impacto nas redes sociais, estratégia já observada em debates anteriores. Uma das tiradas mais notórias se deu ao chamar Kelmon de “padre de festa junina”.

Pesa contra ela, porém, o fato de ter apoiado Bolsonaro e agora se declarar como opositora. Se para críticos de Bolsonaro a senadora parece “perdida” com a identidade, para o campo bolsonarista ela se tornou uma “traidora”.

Já Tebet conseguiu se manter afastada da “baixaria”, segundo um aliado da senadora. Em sua avaliação, a parlamentar protagonizou, mais uma vez, “momentos de lucidez”, com propostas e discussões sérias.

Um dos temas mais prejudicados no debate foi o racismo. Em duas oportunidades em que o assunto deveria ter sido tratado, os candidatos acabaram abordando outra coisa. Por outro lado, o meio ambiente e os problemas econômicos ganharam espaço. A pauta dominante, contudo, foi a corrupção.

A candidata do MDB, Simone Tebet. Foto: Reprodução

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