Política

Ausência de Lula e estreia de Padre Kelmon são destaques de debate no SBT

Bolsonaro ganhou um aliado de primeira hora; nos bastidores, Simone Tebet (MDB) foi novamente a candidata mais bem avaliada

SBT exibiu espaço de Lula vazio em debate. Foto: Reprodução
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A ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a participação do candidato Padre Kelmon (PTB) marcaram o debate deste sábado 24, realizado por SBT, CNN, Estadão, Veja, Eldorado e Nova Brasil FM.

Todos os seis candidatos que marcaram presença no debate criticaram a decisão de Lula de não comparecer. Primeiro a chegar, Ciro Gomes (PDT) ironizou acusações do PT ao presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre “fascismo”.

“Se eles acham que o fascismo é Bolsonaro, o fascismo então vai estar aqui. Por que não veio denunciar o fascismo aqui como eu tô?”, indagou o pedetista.

Já Simone Tebet (MDB) disse que a ausência de Lula foi “lamentável” porque “aquele que quer matar a eleição no 1º turno foge do debate”.

Bolsonaro, por sua vez, disse que o adversário “não tem como se defender de oito anos em que o Brasil foi mergulhado no maior escândalo de corrupção da humanidade”.

Além disso, o SBT fez questão de exibir ao vivo o espaço vazio que havia sido reservado para Lula.

Em coletiva de imprensa em Ipatinga (MG), na sexta-feira 23, Lula havia dito que obteve tardiamente a confirmação do pool de veículos desse debate, e a campanha já teria marcado agendas ao receber o aviso.

Os veículos que organizaram o debate, no entanto, rebateram as alegações em nota.

“Diferentemente do que foi declarado pelo candidato, contudo, a formação do pool deu-se antes mesmo da sugestão feita por sua campanha”, diz o texto. “Em 22 de março, os quatro grupos enviaram formalmente e-mail às campanhas presidenciais, comunicando a realização do debate e informando as datas escolhidas para os confrontos do primeiro e do segundo turno. E, em 28 do mesmo mês, foi realizada a primeira reunião presencial com representantes dos candidatos convidados. A campanha de Lula esteve presente em tal reunião, assim como em todas as demais reuniões convocadas para discutir os detalhes e regras do debate.”

Os candidatos que compareceram ao debate presidencial do SBT. Foto: Reprodução

Diante das críticas, um aliado de Lula disse não ser possível mensurar ganhos na escolha de faltar ao debate, mas afirmou que não foi observada “nenhuma repercussão relevante” sobre a sua ausência.

A avaliação é de que foi preferível usar o último fim de semana de campanha para realizar dois comícios importantes em São Paulo, no bairro Grajaú, na zona sul, e em Itaquera, na zona leste.

A estimativa é de que os eventos reuniram cerca de 10 mil e 20 mil pessoas respectivamente, e considera-se que o impacto nessas regiões atingiu ainda mais pessoas. São Paulo é um dos estados onde Lula tem vantagem estreita sobre Bolsonaro nas pesquisas.

O fato de o debate ser num sábado e durante a tarde também foi citado como prejudicial para a audiência. No SBT, a média foi de cinco pontos, e o pico colocou a emissora na segunda colocação. Já na Band, a audiência chegou a 15 pontos e liderou o horário. A aposta de Lula é no debate da TV Globo, que garante um público muito maior e ocorre na quinta-feira 29, último dia também para os comícios.

A participação do Padre Kelmon no debate também foi citada pelo próprio Lula de forma crítica. Na coletiva de Ipatinga, o petista reivindicou a necessidade de estudar melhor o oponente porque o candidato do PTB acabou de entrar na disputa. Nas redes sociais, muitos usuários demonstraram não entender a presença do padre.

O pool argumenta que a lei eleitoral impõe a presença de candidatos cujos partidos tenham representação de cinco parlamentares no Congresso Nacional. O PTB tem três deputados federais (Daniel Silveira, RJ; Soraya Manato, RS; e Paulo Bengston, PA) e dois senadores (Fernando Collor, AL; e Roberto Rocha, MG).

Kelmon não participou do debate da Band, em 28 de agosto, porque a sua candidatura foi confirmada só em 15 de setembro pelo Tribunal Superior Eleitoral. Antes, o candidato do PTB era Roberto Jefferson, que teve a candidatura indeferida em 1º de setembro.

Conforme apurou CartaCapital, as regras do debate na Band impunham a participação de forma presencial. Essa condição impossibilitaria Jefferson de estar presente, porque se encontra em prisão domiciliar.

Para alguns partidários nos bastidores, a participação de Kelmon, o fato novo do debate, agravou a perda de credibilidade e relevância do evento, já combalida pela ausência de Lula. Ao fim, Ciro respondeu com deboche ao ser questionado pela reportagem sobre a participação do padre: “Tenha santa paciência”.

A atuação do padre, com vestes de sacerdote e autodeclarado de direita, foi marcada pela defesa a Bolsonaro.

“A minha opinião é de que o senhor tem ajudado muito esse país. Nós estamos vendo aqui um massacre”, afirmou o padre. “Partidos que se juntaram para bater um presidente da República com falácias, com mentiras, inventando.”

Com a dobradinha, o presidente da República amenizou sua possível condição de derrotado. Para adversários, porém, o ex-capitão seguiu em diálogo com apenas o seu público.

Outra estratégia de Kelmon foi confrontar Ciro e Tebet em perguntas sobre aborto.

A Ciro, o padre pediu uma assinatura de “um pacto pela vida” se comprometendo a “proteger a vida dos bebês nos ventres de suas mães”. Em resposta, o candidato disse estar mais concentrado em questões econômicas.

A Tebet, criticou o título de feminista por estar supostamente ligado à defesa do aborto. Em sua resposta, a candidata disse ser contrária à prática, mas defendeu o direito das mulheres em diferentes setores.

Em mais um debate, Tebet saiu como a candidata mais bem avaliada entre diferentes forças nos bastidores. Um dos pontos altos foi quando afirmou que “jamais se confessaria” ao padre, quando questionada sobre feminismo.

Pesquisas Quaest exibidas na CNN indicaram que Tebet venceu três dos quatro blocos.

Na campanha de Tebet, a estratégia vista com sucesso é a de se identificar como mãe e mostrar preocupação com crianças. A primeira pergunta da candidata tratou do corte no orçamento de merendas escolares no governo Bolsonaro.

Porém, há uma avaliação de que Tebet ainda não conseguiu ser reconhecida pelo trabalho na CPI da Covid-19, apesar de o tema ser recorrente nas aparições da senadora.

No PDT, a candidata foi descrita como “um grande quadro”. Uma das avaliações ouvidas pela reportagem apontou diferença entre Tebet e Soraya Thronicke (União Brasil): enquanto Tebet se mostra como uma liderança séria, Thronicke ainda se mostra inexperiente e com uma identidade perdida.

A tática de Thronicke que deu certo foi a de lançar frases de efeito, que chegavam a arrancar risos nos bastidores. Em uma das tiradas, Thronicke disse a Bolsonaro que não cutucasse onça com “vara curta”. Noutro momento, a senadora citou gastos do governo Bolsonaro em forma de piada.

“O que é, o que é? Não reajusta merenda escolar, mas gasta milhões com leite condensado. Tira remédio da Farmácia Popular, mas mantém a compra de viagra. Não compra vacina para a Covid, mas distribui prótese peniana para os seus amigos”, ironizou.

As campanhas de Tebet e Ciro devem apostar, na última de semana de campanha, em críticas ao “voto útil”, que favorece Lula. Apesar de Tebet e Ciro terem percentuais semelhantes nas pesquisas, os diagnósticos são diferentes.

Um aliado de Ciro disse que esperava-se que ele entrasse em setembro com pelo menos 15% nas sondagens.

Já um aliado de Tebet afirmou que a observação dos percentuais é otimista e tenderia ao 2º turno se houvesse um período de campanha maior. Após o debate do SBT, há expectativas de que a emedebista ultrapasse Ciro nas pesquisas.

A campanha petista nega que esteja focando diretamente nos eleitores de Ciro, mas reconhece que o discurso do voto útil atinge objetivamente os eleitores do pedetista e da candidata do MDB.

Alguns aliados estão fazendo campanha diretamente sobre os eleitores de Ciro. Na sexta-feira, Dilma Rousseff (PT) disse num comício em Minas Gerais que Leonel Brizola jamais iria para Paris e votaria em Lula no 1º turno.

No Rio de Janeiro, Lula chegou a se encontrar com brizolistas históricos na última semana. O impacto dessa estratégia, no entanto, é vista na campanha petista com um potencial maior apenas entre fluminenses e gaúchos.

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