Política

Na corrida para ampliar alianças, campanha de Lula considera lançar cartas ao agro e a evangélicos

Versão de uma possível carta ao agro já teria sido escrita; o ex-presidente diz que não produzirá o documento, ‘a não ser que a coordenação da campanha ou o partido queira’

Eduardo Paes, Lula e Otto Alencar, durante evento em São Paulo. Foto: Ricardo Stuckert
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A divulgação de cartas ao agronegócio e a evangélicos segue como alternativa para ampliar o apoio à campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno. Aliados do petista mantêm a defesa da publicação dos documentos e já ensaiam o conteúdo dos textos.

Uma carta de compromissos com o agronegócio serviria para reduzir a resistência a Lula em um setor predominantemente bolsonarista. Entre as pautas prioritárias, estariam a produção sustentável nos campos social e econômico e a proteção do meio ambiente. A ideia seria evitar itens espinhosos.

Um ponto sensível, porém, é o tema da “invasão” de terras. A aliança com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra afasta os produtores rurais mais conservadores. Ao mesmo tempo, há um receio de que o ato de se dirigir aos ruralistas cause um mal-estar na relação com os militantes.

Uma versão de uma possível carta ao agro já foi escrita. A divulgação desses compromissos é defendida publicamente pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Na quarta-feira 5, a senadora Kátia Abreu (PP-TO) também demonstrou ver a iniciativa com bons olhos.

Lula tem mostrado resistência à medida, por temer que outros setores também queiram uma carta segmentada, mas sinalizou considerar a possibilidade caso seja a vontade da coordenação política da campanha.

“A gente não precisa ficar fazendo carta. Senão eu vou ter que fazer carta para 500 setores da sociedade”, ironizou, a jornalistas. “Então, me desculpe, mas eu não tenho, a não ser que a coordenação da campanha ou o partido queira, que fazer carta. Tem pelo menos 30 setores querendo que faça uma carta. E não dá para fazer uma carta. Nós temos um programa de governo, temos uma história e temos um legado. É isso que as pessoas têm que olhar.”

A aposta do ex-presidente é destacar medidas de financiamento e de crédito para produtores rurais em seu governo e fazer comparações com a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Na coletiva, disse que “se alguém do agronegócio tem alguma dúvida, é só olhar o que foi feito para o agronegócio no meu governo”.

Um aliado do ex-presidente diz que Lula está convencido a não publicar nenhuma carta e também se diz contrário ao gesto, mas o tema ainda é debatido nos bastidores.

Em relação aos religiosos, a defesa não parte apenas de Calheiros, mas presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, André Ceciliano (PT). O ex-candidato a senador havia dito que tentaria convencer a campanha em reunião nesta quinta. Após o encontro, o parlamentar disse que a ideia está amadurecendo.

Lula é esperado em um evento com líderes religiosos no Rio de Janeiro na semana que vem, mas a expectativa é de uma estrutura menor que a vista em São Gonçalo no primeiro turno. O encontro deve contar com menos participantes e em ambiente fechado.

Há uma perspectiva de que o PT receba a colaboração do presidente do União Brasil no estado, Waguinho, que também é prefeito de Belford Roxo e considera ajudar Lula na região, sobretudo entre evangélicos. Waguinho se encontrou com o ex-presidente em São Paulo nesta quinta, mas não oficializou apoio.

O prefeito disse que ainda analisa as propostas de Lula e de Bolsonaro. Ele se disse atraído pela preocupação do petista com questões sociais e com o fortalecimento da democracia, mas afirmou que o ex-capitão indica abertura para repasse de recursos aos parlamentares do partido no estado. Está prevista uma reunião na manhã desta sexta-feira 7 para que os parlamentares fluminenses do partido decidam em unanimidade a posição no segundo turno.

“A proposta de fortalecer a democracia brilha os nossos olhos, mas também não podemos rejeitar a proposta do presidente Bolsonaro de fortalecer a base do Rio de Janeiro, de abrir espaço para quem está chegando agora”, afirmou Waguinho. “As duas propostas não são ruins, mas tem uma que é mais populista, mais direcionada aos menos favorecidos [em referência a Lula]. Na cabeça dele [de Bolsonaro], ele pensa que atendendo os deputados e mandando os recursos vai também beneficiar os moradores que moram nas cidades.”

Nesta semana, a campanha de Lula segue de olho na agenda religiosa. Enquanto o petista faz agenda no interior paulista na sexta e no sábado, sua esposa, Janja, deve acompanhar o Círio de Nazaré, no Pará. Bolsonaro também deve estar no evento.

O ex-presidente Lula (PT) fez reunião com integrantes do PSD. Foto: Ricardo Stuckert

Busca por alianças prossegue

Depois de obter o apoio de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) e tirar fotos com governadores e parlamentares, Lula passou o dia com quadros relevantes do PSD em um hotel de São Paulo.

Estavam no encontro nomes como o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Alexandre Silveira (PSD-MG) e o deputado Marcelo Ramos (PSD-AM).

Petistas anseiam pelo apoio do presidente do partido, Gilberto Kassab, à campanha de Lula. Além disso, avaliam que o ex-prefeito de São Paulo gostaria de ter se somado, apesar de ter manifestado neutralidade. A avaliação entre correligionários de Lula é de que a reunião ajudou a pressionar Kassab para que faça esse movimento.

Na reunião, Marcelo Ramos chegou a dizer que o lugar de Kassab é na campanha.

Há insistência nas conversas por adesão. Para um aliado de Kassab, o presidente da sigla apoia Lula. Além disso, Kassab estaria estimulando lideranças do partido a estar com o ex-presidente. Porém, estaria agindo como “maestro” ao anunciar neutralidade, por ter de administrar a heterogeneidade da legenda.

Outro aliado, porém, aponta a conjuntura em São Paulo como o maior problema. A hipótese é de que Kassab estaria com o receio de contaminar a eleição no estado, uma vez que Felicio Ramuth (PSD) é candidato a vice de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Como Kassab tem o interesse de que seu partido componha o governo de São Paulo, o ideal seria evitar uma crise que um vice de chapa bolsonarista enfrentaria ao ter a sigla associada a Lula.

Na sexta-feira 7, Lula deve também tirar uma foto com a ex-candidata Simone Tebet. Eles já haviam almoçado juntos na casa de Marta Suplicy, na quarta-feira 5, mas o registro ficou para depois. A campanha tem a expectativa de que ela se engaje nas agendas. A governadora Fátima Bezerra (PT) chegou a cogitar uma atividade com a senadora e com mulheres que apoiam Lula no Rio Grande do Norte.

Depois do interior paulista, de Belo Horizonte no domingo e do Rio de Janeiro na terça, Lula deve ir ao Nordeste. O petista tem de passar na Bahia e em Sergipe, onde seu partido disputa o segundo turno.

Lula também precisa dar apoio a Marília Arraes (Solidariedade) em Pernambuco, agora que desandaram as conversas sobre uma possível aliança com Raquel Lyra (PSDB). A ideia era atrair os tucanos em âmbito nacional, mas nem ela, nem Eduardo Leite (PSDB) no Rio Grande do Sul estariam dispostos a declarar apoio a Lula. Além disso, a adesão de tucanos históricos como Fernando Henrique Cardoso e José Serra já é vista como uma conquista relevante.

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