Política

“Moro, você tem 27 superintendências. Eu quero apenas a do RJ”, teria dito Bolsonaro

Ex-ministro da Justiça relatou à Polícia Federal insistência de Bolsonaro para troca de comando na PF do Rio de Janeiro

Moro e Bolsonaro. Foto: Evaristo Sa/AFP
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Uma frase que consta na divulgação do depoimento completo do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, demonstraria um interesse pessoal ainda não esclarecido do presidente Jair Bolsonaro nas operações da Polícia Federal no Rio de Janeiro, principal curral eleitoral do presidente em seus tempos de deputado federal e ponto primordial na discordância que levou Moro a pedir demissão.

No começo de 2020, de acordo com Moro, ele recebeu uma mensagem do presidente da República solicitando, mais uma vez, a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Carlos Henrique Oliveira. Segundo o ex-ministro, o tom da mensagem seria algo aproximado de “Moro, você tem 27 superintendências. Eu quero apenas uma: a do Rio de Janeiro.”

O ex-ministro teria dito que ele não era o responsável por nomear os superintendentes, já que a escolha dos nomes passa por crivo interno da direção da Polícia Federal. Na ocasião, Moro estaria acompanhado do ex-diretor geral da PF, Marcelo Valeixo, pessoa de confiança do ex-ministro que foi a razão pela qual Moro se demitiu.

Valeixo teria afirmado para Moro que “não poderia ficar no cargo caso houvesse uma nova substituição sem causa do superintendente regional do RJ por um nome indicado pelo presidente da República”, diz a transcrição do depoimento do ex-ministro.

“O diretor Valeixo declarou que estava cansado da pressão para a sua substituição […] por esse motivo e também para evitar conflito entre o Presidente e o Ministro, o diretor disse que concordaria em sair”, continua o documento.

Em seu depoimento quanto no discurso de demissão, Moro não afirma que Bolsonaro tenha cometido algum crime – apenas indicou que a PGR realizou a requisição de abertura de inquérito para avaliar possíveis irregularidades.

Segundo Moro, Bolsonaro já poderia solicitar relatórios à ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) e ao SISBIN (Sistema Brasileiro de Inteligência), o que deixa suscitou dúvidas sobre a afirmação de Bolsonaro de que Moro não passava dados importantes para ele. Como prova, Moro sugere que a Polícia Federal fale com representantes dos órgãos de inteligência para atestarem que os documentos legalmente acessíveis à Bolsonaro sempre estiveram à sua disposição.

“Podem ser requisitados à ABIN os protocolos de encaminhamento dos relatórios de inteligência produzidos com base em informações a ela repassadas pela PF e que demonstrariam que o Presidente da República já tinha, portanto, acesso às informações de inteligência da PF as quais legalmente tinha direito”.

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