Entrevistas

Janones pede desculpas após chamar Camargo de ‘capitão do mato’: ‘Espero ser punido pelo meu erro’

Em entrevista a CartaCapital, o deputado afirmou que não pretende se defender no processo caso Camargo siga com ação por injúria racial

O deputado federal André Janones (Avante-MG) e o ex-presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo. Fotos: Cleia Viana/Câmara dos Deputados e Reprodução
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O deputado federal André Janones (Avante-MG) pediu desculpas e disse considerar um “erro” o uso da expressão “capitão do mato” para se referir ao ex-presidente da Fundação Palmares Sérgio Camargo, que é negro, durante uma discussão nos bastidores do debate entre presidenciáveis na TV Band.

Em entrevista ao programa Direto da Redação, no canal de CartaCapital no YouTube, Janones afirmou enxergar no episódio “uma parte positiva” e “uma parte lamentável”.

A “parte positiva”, segundo ele, é ter conseguido “convencer o dito cujo de que existe racismo” no Brasil. A declaração ocorreu após ser questionado sobre o anúncio de Camargo de que ingressará com uma ação por injúria racial.

“Agora, finalmente, ele está fazendo o trabalho que ele deveria ter feito nos últimos quatro anos, que era ajudar a fortalecer a luta antirracista no nosso País”, declarou Janones, nesta quarta-feira 31.

Na sequência, disse que se considera “um militante contra o racismo”, mas que agiu com “ignorância” por não saber que o termo “capitão do mato” poderia ser interpretado como uma injúria racial.

Espero pagar pela minha ignorância, porque ignorância não pode ser justificativa para a gente passar pano para nenhuma atitude que possa soar racista, ainda que não o seja, como de fato não foi. Foi um reflexo de uma ignorância minha”, afirmou.

Em seguida, Janones disse que não pretende apresentar contestação no processo, caso Camargo siga com a ação.

“Quero dizer em primeira mão, já adiantando os meus próximos passos, que caso ele de fato ingresse com uma ação contra mim, essa ação não será contestada. Então, eu espero ser punido pelo meu erro e que isso possa fortalecer a luta contra o racismo estrutural, que infelizmente ocorre no nosso País”, prosseguiu.

“Peço desculpas pela minha ignorância. Não pelo meu ato, mas pela minha ignorância de não ter a profundidade necessária para saber que aquela fala poderia ter um viés racista, e não irei fazer nenhuma defesa no processo. Serei revel no processo para que eu seja condenado e pague indenizações, penalidades na Justiça, enfim. Não vou, em nenhum momento, me acovardar de responder pelos meus atos, ainda que tenha sido um ato culposo, e não doloso, reflexo da minha falta de conhecimento em relação a esse tema.”

Janones era pré-candidato à Presidência, mas desistiu da disputa no início de agosto para apoiar a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desde então, acompanhou o petista em algumas agendas e diz estar cumprindo a função de “distrair o gado”, ao reagir de forma enérgica à atuação de aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais.

Já Sérgio Camargo, correligionário de Bolsonaro, disputa o cargo de deputado federal por São Paulo.

Camargo foi afastado da Fundação Palmares após servidores da instituição apresentarem acusações de assédio moral, discriminação e perseguição ideológica. Sua trajetória também recebeu críticas de figuras do próprio movimento negro, por ter dito frases como “negros de esquerda são burros”, que máquina zero é “obrigatória para a negrada” e que o jovem congolês Moïse Kabagambe, brutalmente assassinado no Rio de Janeiro, era “vagabundo”.

A entrevista com Janones está disponível na íntegra no canal de CartaCapital no YouTube.

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